Por Marsílea Gombata, na revista CartaCapital:
Em um auditório lotado por estudantes e acadêmicos na
Universidade Federal do ABC (Ufabc), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
defendeu o ex-consultor de inteligência americano Edward Snowden, atualmente
buscando asilo político na Rússia. “Esse cara merece respeito pelos serviços
que está prestando à humanidade e pelas denúncias que fez”, disse. “Esse rapaz
está prestando um serviço à democratização, às liberdades democráticas e à
autodeterminação dos povos, denunciando comportamentos que não são aceitáveis
por um país presidido por um homem como o [Barack] Obama.”
A fala de Lula encerrou os quatro dias da conferência 2003 –
2013: Uma nova política externa lembrando episódios durante o seu mandato, de
2003 a 2010. Segundo ele, seu governo impediu que a Alca se concretizasse no
continente e “provou” que era possível acabar com a fome no Brasil e no mundo.
Lula lembrou também da sua primeira vez na Casa Branca como
chefe de Estado: “Eu tava ali no Salão Oval e o Bush falando de terrorismo. Eu
tinha poucos dias como eleito, e o presidente mais importante que eu tinha
visto na minha vida era o presidente da Volkswagen. Então imagina como eu
estava”, lembrou ao arrancar risos da plateia. Ele lembra, no entanto, que a
política externa de seu governo “fez questão” de não se curvar a Bush e os EUA,
definido por ele como “xerife do mundo”. “Aprendi no sindicato dos
trabalhadores: ninguém respeita quem não se respeita. Ninguém respeita lambe
botas, quem puxa o saco.”
Segundo o ex-presidente, ao se impor nas negociações
diplomáticas, o Brasil passou também a ter credibilidade e respeito por
potências globais. “A verdade é que nós não éramos levados a sério. Mas não
éramos porque não nos respeitávamos. Nesse país, por muito tempo, uma parte da
elite dirigente, tinha complexo de vira lata. Nem queria disputar para ser
igual, já se achava inferior."
Chanceler Sua agenda na política externa, marcada pela
aproximação com a África e os países árabes e pela retomada com países da
América Latina, foi creditada em boa parte ao ex-chanceler e atual ministro da
Defesa Celso Amorim. “Não poderia fazer uma política externa assim se não
tivesse a sorte de encontrar o Celso Amorim como meu ministro das Relações
Exteriores. Conversei com três ou quatro pessoas para escolher o ministro.
Quando terminei a audiência com Celso pensei: ele tem um pouco a minha cara, é
mais simples, mais humilde. Começamos a trocar ideia e, sem nunca ter
conversado com ele, tínhamos afinidade em grande parte das coisas.”
Na palestra marcada por piadas e aplausos, o ex-presidente
também criticou a ONU e seus mecanismos de diálogo. “A ONU hoje não representa
nada. É lamentável que hoje não se tenha um fórum para tomar decisões”,
reclamou. “Espero que um dia os EUA compreendam que quanto mais gente estiver
na mesa de negociação mais chance nos temos de construir a paz.”.
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