Entre 2000 e 2010, rendimento dos 20% mais pobres cresceu
mais rapidamente do que o dos 10% mais ricos em quatro de cada cinco cidades do
País; nos dez anos anteriores, a desigualdade medida pelo índice de Gini havia
crescido em 58% das cidades
De 2000 a 2010 aconteceu algo inédito no Brasil: em 80% dos
municípios, a desigualdade de renda entre seus habitantes diminuiu. O fato é
ainda mais relevante porque reverteu uma tendência histórica. Na década
anterior, a desigualdade medida pelo índice de Gini aumentara em 58% das cidades
brasileiras
A maior queda da desigualdade aconteceu numa cidadezinha do
interior de São Paulo. No extremo oeste, perto de Presidente Prudente,
Emilianópolis viu seu índice de Gini cair pela metade, de 0,76 para 0,38 em
2010. A escala varia de zero a 1. Se os 3 mil emilianopolenses ganhassem igual,
o índice seria 0. Se um deles concentrasse toda a renda da cidade, o Gini seria
1.
Emilianópolis é um bom exemplo, uma vez que as condições em
que se deu a redução da desigualdade são representativas do que aconteceu em
outros 4.431 municípios brasileiros. O Gini da cidade crescera nos anos 1990,
de 0,43 para 0,76. A reversão na década seguinte ocorreu com o enriquecimento
da população em geral: a renda do emilianopolense foi de R$ 373 para R$ 585.
Na maior parte do Brasil foi igual. De 2000 a 2010, o
rendimento domiciliar per capita cresceu 63% acima da inflação, na média dos
5.565 municípios. Foi um enriquecimento mais intenso do que nos dez anos
anteriores, quando o ganho havia sido de 51%.
Isso é importante porque uma forma perversa de reduzir a
desigualdade é via empobrecimento geral. Se os ricos perdem mais do que os
pobres, a desigualdade também cai. Foi o que aconteceu em grande parte do
Brasil nos anos 1980, por causa da recessão.
Nos dez anos seguintes, o alto desemprego comprometeu o
salário dos trabalhadores e a renda voltou a se concentrar no topo da pirâmide.
O índice de Gini do País cresceu, e a desigualdade aumentou em 58% dos
municípios brasileiros.
Partilha do bolo.
É o oposto do que
aconteceu em 80% dos municípios do Brasil na década passada. Nos anos 2000,
houve redistribuição da renda simultânea ao crescimento. O bolo aumentou para
todos, mas a fatia dos pobres cresceu mais, em comparação à dos ricos.
Em quase todo lugar, os ricos não ficaram mais pobres. Ao
contrário. Mesmo descontando-se a inflação, o rendimento médio dos 10% mais
ricos de cada município cresceu 60%, na média de todos os municípios ao longo
da década passada.
A desigualdade caiu porque a renda dos 20% mais pobres de
cada município cresceu quase quatro vezes mais rápido do que a dos 10% mais
ricos: 217%, na média. A distância que separava o topo da base da pirâmide caiu
quase um terço. Ainda é absurdamente grande, mas o movimento está no sentido correto
na imensa maioria dos municípios: o da diminuição.
Em 2000, a renda dos 20% mais pobres de cada um dos
municípios era, na média, de R$ 58 por pessoa. Os 10% mais ricos ganhavam,
também na média municipal, R$ 1.484. A diferença era, portanto, de 26 vezes. Em
2010, a renda dos 20% de baixo chegou a R$ 103, enquanto a dos 10% de cima ia a
R$ 1.894. Ou seja, os mais ricos ganham, em média, 18 vezes mais.
Riqueza e pobreza não são conceitos absolutos, mas
relativos. Em Emilianópolis, para estar nos 10% do topo da pirâmide de renda, o
morador precisa ganhar pelo menos R$ 1.005 por mês. Mas, com essa renda, ele
não estaria nem entre os 40% mais ricos de Porto Alegre, Santos, Curitiba e
outros dez municípios brasileiros.
Já para estar entre os 20% mais pobres de sua cidade, basta
a um emilianopolense ganhar menos do que R$ 250 por mês. Mas se ele morasse em
Marajá do Sena, no Maranhão, e ganhasse os mesmos R$ 250, seria elite: estaria
entre os 10% mais ricos da cidade. Apesar do nome, Marajá é o município mais
pobre do Brasil.
A redução da desigualdade não foi total. Em 16% dos
municípios, a distribuição de renda piorou. Principalmente no Norte do Brasil.
O maior aumento aconteceu em Abreulândia, no Tocantins. As duas cidades de
maior desigualdade entre seus moradores, Itamarati e São Gabriel da Cachoeira,
ficam no Amazonas.
Trabalho e Bolsa Família.
O aumento da renda obtida no trabalho é o protagonista da
queda da desigualdade nos municípios entre 2000 e 2010. Ele é responsável por
58% da redução, segundo o presidente do Ipea, Marcelo Neri. Outros 13% podem
ser atribuídos ao Bolsa Família. Os números foram calculados em pesquisa da
instituição.
Em outras palavras, o Bolsa Família leva o “Oscar de
coadjuvante”, brinca o pesquisador. Mas é um coadjuvante de peso. Sem as
políticas de transferência de renda, “a desigualdade teria caído 36% menos”,
afirma o estudo. No figurino do protagonista, estão aumentos reais do salário
mínimo e formalização do emprego. As informações são do jornal O Estado de São
Paulo
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