Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
O Rock In Rio é notícia? Sim. Mas e quando quem noticia é
também quem patrocina? Mais: e quando quem noticia não avisa que também
patrocina?
O festival começa na sexta (13) e durará uma semana. A Globo
tem os direitos exclusivos de transmissão. Vai dedicar quatro horas diárias aos
shows. É mais ou menos como no futebol e na Fórmula 1. Ela paga (ou deveria
pagar) pelos direitos. Em contrapartida, pode vender cotas de patrocínio.
Todos os veículos jornalísticos da casa estão cobrindo da
maneira como se espera: laudatória. É uma grande promoção das Casas da Banha.
No Jornal Nacional, Bonner e Patrícia Poeta reservam seus melhores sorrisos
para a série de “matérias” sobre o acontecimento. Repórteres animadíssimos
falam da Cidade do Rock, do show de luzes e efeitos especiais, das toneladas de
som etc etc etc. Entrevistas meia boca com os artistas são combinadas.
Um público previsto de 595 000 pessoas deve prestigiar as
160 atrações. Calcula-se que a receita total da coisa chegue a 110 milhões de
reais, contando o dinheiro dos patrocinadores e o licenciamento de 600
produtos.
A Globo teria escalado, ao todo, 600 funcionários para
trabalhar. Zeca Camargo será o mestre de cerimônias. Vai receber convidados num
estúdio de vidro.
Em que momento a Globo vai avisar que é parte interessada?
Em nenhum (“eu já sabia”, você vai dizer). Se houver
problemas de transporte ou na rede de esgoto, como na edição anterior, isso
será noticiado? Você sabe a resposta.
O empresário Roberto Medina, criador do festival, tem uma
visão esperta. “Sabemos criar o fato jornalístico. Agora mesmo, pintou um
garotinho que canta Metallica e nós vamos levar o garoto para cantar para o
Metallica. O ensaio da Angelique Kidjo em Nova York, nós abrimos para a
imprensa. Isso é matéria”, disse ao Estadão.
Na verdade, não precisa ser interessante ou genial porque o
elogio de quem importa está garantido. Nem uma palavra sobre as dificuldades de
acessar os sites ou a falta de retorno para quem manda reclamações para o email
indicado.
A BBC transmite alguns espetáculos do festival de
Glastonbury, na Inglaterra. Este ano os Rolling Stones tocaram. Não entra ao
vivo. Não tem ninguém contando o que você não quer saber. No site da BBC, um
aviso sobre como funciona: “Quando a BBC decide cobrir um festival de música,
ela precisa trabalhar com um orçamento apertado para administrar o
licenciamento dos direitos. Isso significa que nós nem sempre podemos arcar com
a gravação de todas as performances de todos os palcos”.
Está tudo ali, em detalhes. Por isso ela tem independência
para depois fazer uma reportagem intitulada: “Glastonbury: uma palhaçada
corporativa?” A emissora teve de explicar por que dedica mais espaço ao Glasto
do que a eventos musicais de caridade. Agora, se Glastonbury é uma palhaçada
corporativa, o Rock In Rio é o quê? Não pergunte para o Zeca Camargo.
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