Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
"O mais importante que aconteceu neste julgamento é que
ficou claro que não há crime sem castigo", comentou o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso sobre as discussões no STF em relação aos embargos
infringentes no processo do chamado mensalão.
Não é verdade. Nem é preciso ir longe. Sabemos todos que no
Brasil há milhares de crimes sem castigo. Basta pegar, entre outros, o do
mensalão tucano, chamado na imprensa de "mensalão mineiro", que é de
1998, mesmo ano do caso da compra de votos para a reeleição do próprio FHC para
o segundo mandato, um caso denunciado, comprovado e logo depois esquecido pela
imprensa, sem que sequer tivesse sido aberto processo, sem falar em práticas
pouco republicanas no processo de privatização promovido pelo governo do PSDB.
Parece que o ex-presidente não foi perguntado sobre estes
assuntos, ou simplesmente se esqueceu de tratar deles em sua análise sobre
crime e castigo.
De qualquer forma, FHC, que não é a pessoa mais indicada
para julgar os malfeitos dos outros, não perdeu a oportunidade: "Na
essência, houve uma condenação por atos malfeitos. Imagino que isso continuará
pesando no futuro", pontificou em pequena nota de pé de página publicada
neste sábado pela Folha.
Se é verdade quer a condenação por um crime ajuda a evitar
que outros sejam cometidos, pode-se também dizer que, se o mensalão tucano,
sete anos anterior ao do PT, tivesse recebido por parte da Procuradoria Geral
da República e do Supremo Tribunal Federal o mesmo tratamento implacável e
célere dado ao mensalão do PT, talvez este último nem tivesse existido, pois o
criador do valerioduto, que abasteceu as arcas tucanas, é o mesmo instrumento
que aparece na Ação Penal 470, ora em julgamento.
E, no entanto, não há nem previsão para que o mensalão
tucano entre na pauta do STF e da imprensa.
A propósito, na mesma edição da Folha, o analista jurídico
Fernando Vasconcelos lembra: "O STF desmembrou o processo do mensalão
tucano, mas negou esse direito aos réus do mensalão petista".
Foi exatamente por isso que o ministro Celso de Mello, logo
no começo do julgamento, no dia 2 de agosto, "apontou a existência dos
embargos infringentes como argumento para rejeitar um dos primeiros pedidos
feitos pelos réus, que queriam o desmembramento do processo, para que os
acusados fossem julgados na primeira instância e tivessem a opção de recorrer
ao Supremo depois", explica o jornal.
O mesmo STF, que desta vez não aceitou o desmembramento para
quem não exercia mandato eletivo, ou seja, a grande maioria dos réus,
tornando-se instância primeira e única do julgamento, dividiu-se ao analisar a
aceitação dos embargos infringentes, último recurso dos condenados.
Se Celso de Mello se mantiver fiel à sua própria palavra e
pensamento, a justiça acabará sendo feita, ainda que às custas de derrotar uma
campanha midiática sem precedentes para que os condenados fossem mandados todos
para cadeia e termine logo esta história, sem choro nem vela.
FHC e o ministro Gilmar Mendes, que rodou a baiana na última
quinta-feira, na tentativa de acuar Celso de Mello para mudar sua posição, já
se disseram exaustos com o julgamento, mas tudo indica que ele não terminará
tão cedo. "O Supremo tem a noção de que ninguém aguenta mais o
julgamento", disse FHC, na certeza de que tão cedo não se cansará com o
julgamento do mensalão tucano.
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