Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Três dias após o anúncio da sua chapa com Eduardo Campos, em
longas entrevistas exclusivas para os três principais jornais nacionais (Folha,
Estadão e Globo) publicadas nesta quarta-feira, Marina Silva ocupou todos os
principais espaços da mídia, como se ainda fosse candidata a presidente, para
explicar a inesperada aliança da sua Rede Sustentabilidade, que não conseguiu
registro no TSE, com o PSB do governador de Pernambuco, quarto colocado nas
pesquisas.
Marina falou de tudo, dos motivos que a levaram a optar pelo
PSB para fazer um "acordo programático, não pragmático" às diferenças
entre os dois partidos, mas depois de ler tudo o que ela falou aos jornais
fiquei sem saber o que ela exatamente quer da vida.
No sábado, quando a chapa foi festivamente anunciada em
Brasília, parecia definido que Eduardo seria o candidato a presidente e Marina
sua vice. A velha mídia chegou até a comemorar. Agora, já não é bem assim.
"Nós dois somos possibilidades", disse Marina à
Folha, deixando em aberto quem será cabeça de chapa na disputa pela Presidência
da República. "Para nós não interessa agora ficar discutindo as posições.
Nós dois somos possibilidades e sabemos disso. Que possibilidade seremos o
processo irá dizer".
Que processo, que possibilidade, o que ela quer dizer com
isso? Vice-líder nas pesquisas, com três vezes mais intenções de voto do que
Eduardo Campos, que deu ontem apenas uma entrevista de meia hora a um programa
de rádio de Salvador, Marina começou a semana no papel de protagonista,
referindo-se muitas vezes a ela mesma na terceira pessoa, como Pelé fazia.
Em sua breve entrevista, Eduardo foi duro e direto:
"Chegou a hora de a gente aposentar um bocado de raposas que estão
enchendo a paciência do povo brasileiro. Eles precisam ir para casa para o Brasil
seguir em frente".
Já Marina, em sua linguagem bastante peculiar, que a maioria
das pessoas leigas e terrenas não entende, vai na contramão da batalha dos
dirigentes do PSB, há meses em busca de novos aliados para aumentar o tempo de
televisão de Eduardo Campos (por enquanto, pouco mais de um minuto, 12 vezes
menos do que o calculado para a aliança da presidente Dilma Rousseff, candidata
à reeleição, que lidera com folga todas as pesquisas até aqui). "Quem vai
definir a eleição de 2014 não é o tempo de TV, não é estrutura de campanha. É a
postura".
Que postura é essa, ela não explica. Reproduzo abaixo e
comento algumas declarações de Marina, e peço ajuda aos leitores para entender
aonde ela quer chegar com os princípios da sua anunciada "Nova
Política".
"Aqueles que divergirem têm o direito de não votar, têm
o direito de não concordar, isso é democracia. Eu não sou Deus e nem com Deus
todo mundo concorda".
Entenderam? Pelo menos ficamos sabendo o que Marina diz que
não é, embora não se saiba ainda exatamente o que é.
"Se a gente ficar discutindo candidatura, a gente vai
fazer exatamente o contrário daquilo que eu queria: discutir o programa. É um
outro momento político. A candidatura que já está posta, está posta. Nós
estamos discutindo um programa".
Muito bem, mas que programa? Os dois só se falaram
rapidamente uma vez no final de semana e até agora nenhum deles deu qualquer
pista sobre que programa é esse.
"Eu não fiz isso, em hipótese alguma, por mágoa ou
raiva. Fiz em legítima defesa. Em legítima defesa da democracia, de poder
discutir ideias, do direito de discutir e debater propostas, o que nos estava
sendo negado".
Negado por quem? Quem estava ameaçando a democracia? Que
propostas ela foi impedida de discutir e por quem?
"É preciso um governo que faça uma desruptura, que não
esteja preocupado com a reeleição. Sou contra a reeleição".
O que é "desruptura"? O que a reeleição tem a ver
com isso? Sabe-se apenas que, no rápido acordo acertado com Eduardo, Marina
arrancou dele a garantia de que, se eleito, enviará ao Congresso Nacional
proposta para acabar com a reeleição.
"Só Deus e o tempo dirão se meu gesto foi para ajudar a
mudar ou se foi para me vingar. Agora, para convencer os outros, a gente tem
que ter o que dizer".
É exatamente este o problema: dizer o quê?
"Não vim aqui para ficar urubuzando a candidatura do
Eduardo (...) Nos dispusemos a uma aliança programática e se ela for
aprofundada, não apenas no discurso, mas no ponto de vista das atitudes,
mostrando que o que está sendo dito é aquilo que tem chance de ser feito,
prosperará a aliança fática de apoio à sua candidatura. Se não for, valeu a
intenção da semente"
Aliança fática? Intenção da semente? Por favor, me ajudem a
descobrir o que é isso. De outro lado, quem, afinal, a acusou de estar
"urubuzando" a candidatura de Eduardo?
"O que eu sinto é que nós vamos ter que fazer primeiro
um adensamento e haverá um alinhamento que nos leva a uma linha de corte, que
não imagino que seja a Rede e o PSB fazendo corte, os parceiros também têm o
direito de dizer: `olha, nessa nova configuração que está posta, com a chegada
dessa ecochata da Matina, me dá licença que eu estou indo embora´".
Adensamento, alinhamento, linha de corte? Não entendi nada.
"A gente está começando um pequeno desvio e é preciso
ter muita delicadeza para esse desvio prosperar. Porque o eixo da
sustentabilidade é muito importante, mas a sustentabilidade política é a base
da transformação das outras coisas".
Um pequeno desvio? Ah, bom...
"Vejo isso como uma armadilha. Porque se nós estamos
falando em um esforço programático e em novos paradigmas, juntar alhos com
bugalhos pensando só em tempo de televisão não tem nada a ver com a nova
política. "
Pelo jeito, Marina Silva não tem a menor ideia sobre os
apoios, a estratégia e a formação dos quadros do PSB nos Estados, e a jogada de
mestre do final de semana pode rapidamente se transformar numa imensa dor de
cabeça para os sonhos presidenciais de Eduardo Campos, bem antes do que se
poderia imaginar.
1 comentários :
Ela só não quer entregar o jogo agora, depêndendo da posição do povo ela pode ser vice ou até mesmo candidata a presidencia.
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