Por Eduardo Guimarães – Blog da Cidadania
O que mais querem esses impérios de comunicação que vão
deixando cada vez mais claro que estão muito longe de se satisfizer com as
condenações sem provas (by Ives Gandra Martins) e com os consequentes
encarceramentos dos réus do julgamento do “mensalão” filiados ao PT?
Há mais de dez dias que José Genoino e José Dirceu – os
alvos exclusivos do noticiário – estão privados da liberdade, mas nem jogá-los
extemporaneamente na prisão fez parar o bombardeio midiático que ora sofrem.
Desde o dia 16 deste mês que a prisão desses dois vem sendo
coberta sem parar, numa espécie de Big Brother Penal em que o dia a dia dos
dois petistas foi transformado.
Apesar de mais de uma dezena de condenados da ação penal 470
ter sido presa, o noticiário se concentra, exclusivamente, nos dois Josés. E
sempre com um só viés, o de tornar ainda mais dura a vida deles no cárcere.
A rotina da cela em que estão confinados os petistas, as
vidas íntimas das famílias deles e até o emprego que Dirceu conseguiu para sair
do regime fechado para o semiaberto alimentam a sede de sangue do noticiário.
Genoino apareceu em um telejornal com o peito desnudo,
deitado numa cama de hospital, em uma situação para lá de humilhante. O hotel
em que Dirceu irá trabalhar teve sua imagem exposta em uma matéria do Jornal
Nacional que exibiu até o registro em carteira e o salário que ele receberá.
Além da divulgação do nome da empresa em que Dirceu poderá
trabalhar para “desfrutar” do regime semiaberto, do salário que receberá e do
local em que fica essa empresa, a mídia ainda divulga informações sobre os
empregadores do petista.
A empresa em questão, seus proprietários, seus funcionários,
seus clientes e o petista recém-contratado foram todos expostos a riscos. Dada
a tensão política que eclodiu no país após os petistas terem sido presos, todos
podem ser alvo de algum tipo de violência.
Intimidar os que cometeram o crime de dar emprego àquele
para o qual a mídia parece não aceitar nada menos do que a pena de morte,
porém, não é suficiente.
A junta médica formada a pedido do presidente do STF,
Joaquim Barbosa, para avaliar se Genoino pode permanecer na cadeia, produziu um
laudo que dificulta a compreensão da conclusão clara de que não pode.
O laudo propositalmente confuso emitido por médicos
rebelados contra o governo do PT devido ao programa Mais Médicos diz que, “até
onde for possível”, Genoino deve ser poupado de “estresse psicológico”, pois
este pode gerar efeitos “psicossomáticos” como os que, semana passada,
tiraram-no da prisão e o colocaram no hospital.
A mídia soube usar um laudo confuso que só reconhece
tacitamente que Genoino não pode ser submetido ao estresse de uma prisão;
divulgou que o estado de saúde momentâneo dele “não é grave” sem esclarecer
que, obviamente, isso mudará no dia a dia da prisão.
Já se antevê, portanto, que as prisões de Dirceu e Genoino
continuarão sendo usadas politicamente por muito tempo, ainda. Serem presos
deveria encerrar o caso, mas como a militância petista não aceita essas prisões
e protesta, a mídia, em retaliação, trata de exacerbar as punições.
Não se tem notícia, neste país ou no mundo, de cobertura tão
meticulosa e ampla do dia a dia do cumprimento de penas de prisão. A mídia combate até as visitas que os presos
recebem.
Não basta que os petistas sejam os primeiros políticos
condenados à prisão na história brasileira recente, as penas deles têm que ser
tão duras quanto possível. Parece que a mídia quer lhes quebrar o moral – e o
da militância – para que deixem de dar declarações políticas.
Dirceu e Genoino poderiam evitar tudo isso simplesmente se
calando e se mostrando alquebrados como a mídia exige, mas esses não são homens
que baixam a cabeça. Não o fizeram nem quando política rendia torturas físicas
e assassinatos. Não o farão agora.
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