Por Luis Nassif, no Jornal GGN:
Dia desses conversava com o executivo de um grande grupo
europeu, que não se conformava com o clima de pessimismo que via em meios
empresariais brasileiros, como resultado da cobertura da velha mídia do eixo
Rio-São Paulo. Comparava com Portugal e Espanha, desmanchando-se, com a União
Europeia, estagnada, com os desastres na Irlanda e na Grécia. Aí, voltava-se
para o Brasil com o mercado de consumo aquecido, o desemprego em níveis mínimos
históricos, o investimento privado direcionando-se para os leilões de
concessão. E me dizia que o Brasil era um país muito louco.
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Há muitas críticas à condução da política econômica e
vulnerabilidades que precisarão ser enfrentadas – especialmente o desequilíbrio
nas contas externas. Mas nada que nem de longe se pareça com o quadro pintado
nos grandes veículos. Aumentos de meio ponto percentual ao ano nos índices
inflacionários são tratados como prenúncio de hiperinflação; acomodamento das
vendas do varejo, em níveis elevados, como prenúncio de recessão.
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No fundo desse pessimismo renitente há uma guerra política
inaugurada em 2005 que, quase nove anos depois, continua sacrificando a notícia
no altar das disputas partidárias.
É significativa a cobertura, em um jornal econômico
relativamente equilibrado, do discurso de Dilma Rousseff em um evento da CNI
(Confederação Nacional da Indústria).
O primeiro parágrafo é dedicado ao discurso de Dilma, à
necessidade de uma indústria forte, de não transformar o país em uma mera
“economia de serviços”. Em seguida, mencionou programas exitosos, como o
Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) e ao Ciência
Sem Fronteiras.
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Se Dilma permanecesse no encontro, continua a matéria, iria
colher relatos bem diferentes sobre o que mencionou. É entrevistada então a superintendente
de uma empresa de eletrodomésticos que diz que os programas são bons, “mas
chegaram atrasados”. “O problema é que não temos nenhuma garantia de que o
empregado no qual investimos tanto seguirá na companhia", é a reclamação.
E sugere a criação de uma “bolsa emprego”, destinada a premiar o funcionário
que permanecer mais tempo na empresa.
O que isso tem a ver com a Pronatec? Nada. É um problema
interno da empresa, de gestão de recursos humanos em uma economia aquecida, mas
que é utilizado como contraponto ao que parecia ser excesso de otimismo na
abertura da matéria.
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É um entre muitos exemplos do pessimismo militante que
recobriu a cobertura econômica da velha mídia nos últimos anos. E que acaba
comprometendo a crítica necessária sobre os pontos efetivamente vulneráveis da
política econômica e do processo de desenvolvimento brasileiros.
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Na sexta-feira, a mesma CNI divulgou a pesquisa CNI-Ibope.
Os que consideram seu governo bom e ótimo saltaram de 37% para 43% em relação
ao último levantamento, de setembro. Desde julho, o crescimento foi de 12
pontos percentuais. O percentual dos que aprovam a maneira de Dilma governar
aumentou de 54% para 56%.
É evidente que há muito a melhorar no ambiente e na política
econômica. Mas quem está em crise exposta, hoje em dia, é certo tipo de
jornalismo que acabou subordinando o senhor fato a disputas políticas menores.
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