Postado por Dedé Rodrigues.
As denúncias do ex-diretor da Siemens, Everton Rheinheimer,
apontando o envolvimento direto de dois secretários do governo de Geraldo
Alckmin (PSDB) – Edson Aparecido, chefe
da Casa Civil, e Rodrigo Garcia, do Desenvolvimento Econômico – no esquema de
corrupção em contratos de trem e metrô em São Paulo, constituem fato político
da maior relevância, para além de ser um rumoroso caso policial e judicial. Vai
ficando evidente tratar-se da formação de aparatosa quadrilha que assalta os
cofres públicos, sob o manto esfarrapado da falsa ética tucana.
É também fato político novo e significativo que o caso tenha
sido remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF). A Suprema Corte ainda vai
decidir se aceitará conduzir o caso, que conta com alentado e minucioso
inquérito realizado pelo Conselho de Administração e Defesa Econômica (Cade), o
Ministério Público do Estado de São Paulo e a Polícia Federal, além de estar
sendo investigado por autoridades brasileiras e suíças no exterior, que tem por
alvo a empresa Alstom, também suspeita de pagar propinas.
As denúncias atingem o PSDB em seu principal reduto político
e comprometem não só os indigitados secretários de Alckmin. É incontornável que
a responsabilidade política principal recaia sobre o governador atual e o
ex-governador, José Serra, em cujas gestões ocorreram as falcatruas que levam o
sugestivo nome de “propinoduto tucano”.
A reação da cúpula do PSDB e do governo paulista oscila
entre o patético das negativas, o oportunismo político, que consistiu em
atribuir ao ministro da Justiça a responsabilidade pelo vazamento de
informações, e a tergiversação, tentando atribuir a interesses eleitorais do PT
a dimensão que o caso está tomando. Acuado no Palácio dos Bandeirantes, o
governador de São Paulo teria feito um “desabafo” perante auxiliares,
queixando-se de que os “vazamentos de informação” teriam como objetivo atingir
sua campanha para a reeleição em 2014, segundo notícia divulgada pelo jornal
paulistano Folha de S. Paulo.
O essencial, porém, na atitude do governador e dos
secretários de seu governo acusados de receber propinas é pedir a “investigação
do vazamento de informação”, enquanto procuram entrincheirar-se nos postos que
ocupam e desqualificar as denúncias. Um governo sério e responsável já deveria
ter afastado dos cargos que ocupam pessoas que, se prevalecerem critérios de
rigor nas investigações e de justiça no julgamento de um dos mais graves casos
de corrupção da história de São Paulo, inexoravelmente estarão em breve no
banco dos réus.
Politicamente a atitude da cúpula tucana não surpreende. Não
são apenas dois secretários os apontados de envolvimento. O ex-diretor da
Siemens acusou também deputados federais de partidos aliados do governador,
além de um deputado federal e um senador do PSDB. Tudo leva a crer que em torno
do escândalo do cartel das licitações do Metrô de São Paulo e da Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos, a CPTM, haverá renhida disputa política.
Esta disputa política envolverá inevitavelmente o STF, agora
que foi acionado. Não pode a mais alta Corte do país, que já remanchou em demasia
no outro caso de corrupção que envolve o PSDB – o famigerado mensalão mineiro –
deixar de julgar as denúncias de formação de cartel e fraudes em licitações,
mediante pagamento de propinas a figuras de maior destaque do partido que fez
da defesa da ética e do denuncismo a sua maior bandeira, cujo pano está
visivelmente esfarrapado sobre um mastro em evidente queda.
A opinião pública não aceitará que, tendo agido com extremo
rigor na Ação Penal 470, que se voltou politicamente contra o PT, o STF use um
peso e duas medidas, deixando impunes os receptadores de propinas do principal
partido oposicionista.
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