Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
O ano começa exatamente como 2013 acabou: políticos e
partidos disputando alianças e palanques, tempo de televisão e manchetes de
jornais, mas o eleitorado não está nem aí para as eleições. Não é preciso ser
nenhum Carlos Augusto Montenegro, o guru do Ibope, para prever que os eleitores
só vão começar a se interessar pelo assunto após a Copa do Mundo, que acaba em
julho. Basta prestar atenção nas conversas em que todo mundo já faz planos para
o Carnaval ou discute onde vai passar o próximo fim de semana deste verão
calorento.
"Antes disso, ninguém vai falar em política",
disse Montenegro em longa entrevista concedida ao jornal Brasil Econômico, em
que destaca que o nível de satisfação do brasileiro hoje é de 80%. Por isso,
diz ele, "o brasileiro quer saber é se a prestação vai caber no seu
orçamento".
Nos seus cálculos, até agora, um em cada três eleitores
ainda não tem candidato. "A verdade é que o brasileiro não gosta muito de
política. Se o voto no país não fosse obrigatório, teríamos eleições similares às
que tivemos no Chile agora, com algo em torno de apenas 40% votando".
Quem gosta de política, como sabemos, é político e
jornalista, um realimentando o outro para ocupar o noticiário nesta época de
férias. Confesso que, no meu caso, também gostaria de falar de outras coisas
mais agradáveis, como o convívio com os netos e o pão matutino tostado na chapa
na padaria, mas desconfio que os leitores não iriam se interessar muito.
Falar do quê? O óbvio seria tratar da carnificina nos
presídios do Maranhão em chamas, mas o que mais posso escrever além de tudo que
já foi dito e mostrado sobre uma das maiores tragédias humanas dos últimos
tempos? Sinto-me mal só de ver as imagens, não consigo escrever nada sobre
isso.
Apesar de tudo, prefiro falar de eleição porque este é
sempre um tempo de renovação de esperanças, de propostas de mudanças, de busca
de novos caminhos, até para evitar que velhas tragédias se repitam e novas
aconteçam, como estamos vendo agora no Maranhão. Se o eleitor, porém, prefere
esperar o Carnaval e a Copa passar, para só depois pensar nas escolhas que
definirão nosso futuro, fica difícil ser otimista a esta altura do campeonato.
A campanha eleitoral deste ano será curta, constata
Montenegro, o que é uma pena. Este deveria ser um momento importante para
aumentar o grau de consciência política da população e assim fortalecer a
democracia, com a participação de todos nós nos debates. Não poderia ser uma
tarefa restrita a candidatos e seus marqueteiros de ouro, como infelizmente vem
acontecendo nas últimas eleições, mesmo sem Copa do Mundo no Brasil.
Quem não gosta de política acaba sendo governado pelos que
gostam _ e é aí exatamente que muitas vezes reside o perigo de tudo continuar
como está para ver como é que fica. O nosso Brasil, convenhamos, não pode
correr o risco de virar um imenso Maranhão.
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