Por Luis Nassif, no Jornal GGN:
Entre hoje e amanhã, o presidente interino do STF (Supremo
Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski tornará publico o Inquérito 2474, o
chamado “gavetão”, o mais bem guardado segredo do Ministro Joaquim Barbosa.
O “gavetão” é a peça originária do Inquérito 2245, que
resultou no “mensalão”. Na ocasião, o relator Joaquim Barbosa cindiu o
inquérito 2245 e as partes não aproveitadas se transformaram no inquérito 2474,
aberto em março de 2007, que ele manteve sob segredo de Justiça.
Apesar de garantir que não haveria mais “gavetas” no STF,
Joaquim Barbosa recusou-se a divulgar o conteúdo do inquérito.
Em 2011 deferiu pedido formulado pela defesa de Daniel
Dantas, abrindo apenas a ele o inquérito (http://tinyurl.com/kgnobew). Mas
negou a dois condenados do “mensalão” alegando que não teria nenhuma relação
com a AP 470. No entanto, soube-se que laudos da Polícia Federal, que
atestariam a participação de Daniel Dantas no financiamento de Marcos Valério,
foram encaminhados para o Inquérito 2474, e não para o 2245. Assim como laudos
que atestavam a aplicação dos recursos da Visanet em campanhas promocionais.
Ao dar publicidade ao Inquérito, Lewandowski permitirá que
não apenas Dantas, mas todos os interessados possam conhecer seu conteúdo.
As dúvidas sobre a 2474
Há suspeita de que, ao excluir as contribuições de Dantas,
atestadas por laudos da Polícia Federal, a PGR teria encontrado dificuldades em
justificar o montante movimentado por Valério. Daí a razão de ter tratado como
desvio os R$ 73 milhões da Visanet, ignorando laudos técnicos que atestavam a
aplicação dos recursos em campanhas.
O PGR Antônio Fernando de Souza se fixou em um parágrafo do
relatório de auditoria inicial do Banco do Brasil:
“A inexistência, no âmbito do Banco do Brasil, de
formalização de instrumento, ajuste ou equivalente para disciplinar as
destinações dadas aos recursos adiantados às agências de publicidade dificulta
a obtenção de convicção de que tais recursos tenham sido utilizados
exclusivamente na execução de ações de incentivo ao abrigo do Fundo”.
O relatório não nega a aplicação dos recursos. Apenas – dada
a fragilidade dos relatórios – informava não ser possível assegurar que “foram
utilizados exclusivamente nas ações de incentivo ao abrigo do fundo”.
O PGR Souza ignorou o “exclusivamente” e entendeu que o
relatório atestava que a totalidade das verbas publicitárias da Visanet haviam
sido desviadas. Posteriormente, aposentou-se e passou a trabalhar em um
escritório de advocacia agraciado com um contrato gigante com a Brasil Telecom.
A divulgação do 2474 poderá ser de boa valia para Barbosa
esvaziar boatos de que seu filho teria sido contratado por uma das empresas
beneficiadas com recursos da Visanet, e cujo caso foi transferido para o
“gavetão”. Ou de que o Banco Rural teria feito com a TV Globo operações
semelhantes às que fechou com o PT.
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