Ao contrário da leitura que a mídia e até analistas
independentes fizeram das recentes pesquisas Ibope e Datafolha sobre a sucessão
presidencial, há um coquetel de fatos que sugere que a presidente Dilma
Rousseff pode estar caminhando para uma quase “invencibilidade” eleitoral neste
ano.
Há que explicar, porém, que essa condição favorável à
presidente decorre menos de sua força do que da fraqueza de seus adversários e
do desarmamento de uma espécie de “bomba atômica” eleitoral com a qual esses
adversários, à direita e à esquerda, contavam para fragilizar sua candidatura.
Antes de tratar dos adversários de Dilma, porém, tratemos da
“bomba atômica” em questão.
Como o leitor já pode ter adivinhado, refiro-me aos
protestos contra a Copa do Mundo. As pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas no
fim da semana passada surpreenderam pelo enorme apoio que o evento ainda tem no
país apesar dos protestos e de uma desinformação que, aliás, o governo não
combate, no âmbito da continuidade de sua fraca estratégia comunicacional.
Há anos que os brasileiros vêm sendo bombardeados com más
notícias sobre a realização da Copa de 2014 no país. E, do ano passado para cá,
esse bombardeio aumentou exponencialmente graças à colaboração dos protestos de
rua. Aliás, de janeiro para cá esses protestos e o noticiário negativo
atingiram o paroxismo.
Obras atrasadas que a mídia garante que não ficarão prontas
a tempo, valorização midiática de declarações negativas de expoentes da Fifa
sobre a organização do evento, alegações falsas sobre os recursos da Copa
estarem sendo subtraídos dos orçamentos da Saúde, da Educação etc. Com tudo
isso, o apoio à realização da Copa no Brasil ainda é imenso.
É espantoso.
Nesse contexto, vale comentar a discrepância entre as
pesquisas Datafolha e Ibope recém-divulgadas. Na primeira, o apoio dos
brasileiros ao evento teria caído para 52%; na segunda, esse apoio seria hoje
de 58%. Vale notar, aliás, os seis pontos percentuais que separam as duas
pesquisas. Isso devido ao mau histórico do Datafolha em anos eleitorais…
Seja como for, o apoio à realização da Copa em nosso país
ainda é imenso. Mas não é só. O fato mais positivo para Dilma é a
desmoralização não só dos protestos contra o evento, mas dos protestos em
geral, dado que o Datafolha detectou na ampla pesquisa que divulgou sobre o
apoio ao governo, sobre a corrida eleitoral e sobre a aprovação da Copa e dos
protestos.
Segundo a pesquisa Datafolha divulgada na última
segunda-feira (24), atualmente só 52% dos brasileiros são favoráveis a
protestos em geral, seja contra o que for. Esse apoio já foi de 81%, ao final
de junho do ano passado. Mas é sobre os protestos contra a Copa que a população
se mostra mais contrária: 63% dos entrevistados são contra e só 32% são a
favor.
Dessa maneira, a principal arma da mídia, de Aécio Neves, de
Eduardo Campos e de Marina Silva para desgastar Dilma perdeu a força. A
violência desses protestos contra a Copa, por mais mal que esteja causando ao
país, está ajudando a presidente por desmoralizá-los.
O Datafolha também pesquisou dado cujo resultado comprova o
interesse que os candidatos de oposição têm nos protestos contra a Copa. Entre
os simpatizantes de Eduardo Campos 59% apoiam esses protestos, entre os
simpatizantes de Aécio Neves o apoio é de 58% e entre os simpatizantes de Marina
Silva, 63%.
Ou seja: os simpatizantes dos candidatos de oposição estão
na contramão do resto do país, que repudia protestos contra a Copa na proporção
de 63%.
A “bomba atômica” eleitoral contra Dilma, pois, está
praticamente desarmada. E a possibilidade de ser rearmada é pequena.
O movimento #NaoVaiTerCopa e os partidos políticos por trás
desse movimento dificilmente deixarão de usar a estratégia black bloc porque
sem ela os protestos seriam ignorados. Algumas centenas de pessoas ficariam
gritando para ninguém, o que não produziria maiores efeitos eleitorais.
Com a continuidade da violência nesses protestos a rejeição
a eles deve subir ainda mais. Isso sem dizer que o envolvimento de partidos na
organização desse tipo de ações que tanto vêm revoltando o país vai se tornar
cada vez mais evidente, produzindo um efeito político inverso ao pretendido
pelos autores dessa jogada político-eleitoral.
Ora, a estratégia black bloc é o que está matando o apoio a
protestos de todos os tipos no país. Aliás, essa estratégia está fazendo a
sociedade exigir providências das autoridades para coibir esses protestos.
Sem essa “bomba atômica” eleitoral, a situação dos
adversários de Dilma piora muito. Apesar de a mídia ter destacado uma
estagnação da melhora da aprovação do governo ou uma piora quase dentro da
margem de erro, Aécio Neves e Eduardo Campos estão muito mal na foto.
No caso de Aécio e do PSDB os escândalos envolvendo esse
partido em São Paulo e, sobretudo, a situação do agora ex-deputado Eduardo
Azeredo, correligionário próximo do pré-candidato tucano, produzem falta de
condições de esse grupo político conseguir da sociedade confiança para
“mudanças” que dizem que estaria querendo.
Aliás, o péssimo desempenho do governo do PSDB em São Paulo,
envolvido em sucessivos escândalos referentes a trens e metrô, desautorizam
Aécio a se apresentar como o arauto de “mudanças”.
No caso de Eduardo Campos, o oportunismo de seu partido ao
deixar a base de apoio a Dilma só às portas da sucessão presidencial após ter
ficado ao lado do PT ao longo de todo o governo Lula e de quase todo o primeiro
governo Dilma, dispensa maiores comentários.
Quanto a Marina Silva, seu filme se queimou inapelavelmente
com o adesismo a Campos e com a rejeição da criação de seu partido.
Sim, a situação piorou para Dilma de meados do ano passado
para cá. Não está recuperando a aprovação de que desfrutava antes das “jornadas
de junho”. Mas, diante dos adversários pífios que estão postos, suas condições
de se reeleger, seja no primeiro turno ou no segundo, são imensas. Beirando a
“invencibilidade”.
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