NOVELA AMOR À VIDA DA REDE GLOBO, APESAR DAS LIMITAÇÕES, PASSOU UMA MENSAGEM IMPORTANTE CONTRA O PRECONCEITO.

Por Dedé Rodrigues.

Primeiro beijo gay apresentado em novela da Globo.

Felix beija Niko. 

Mesmo sendo um crítico contumaz da grade de programação da Rede Globo e acompanhar pouco as suas novelas que, no geral, mostram uma crise existencial da classe média alta brasileira, pois as classes menos favorecidas, muitas vezes,  sofrem discriminação no próprio enredo das novelas. É salutar reconhecer que, apesar das limitações do ponto de vista de um conteúdo mais progressista, a novela Amor à vida deixou uma mensagem importante contra a discriminação, à homofobia e o preconceito para os brasileiros tão carentes deste aprendizado.

Não sou um especialista na matéria, nem tenho a pretensão de escrever um resumo mais completo do conteúdo da história apresentado na novela. Tentarei aqui mostrar só algumas cenas do último capítulo, momento das definições, depois de muita enrolação da novela, que deixaram um aprendizado importante para nós.

No que pese a quantidade de casamentos no último capítulo que é uma característica das novelas mostrando um “final feliz”; a morte de Aline eletrocutada passa a mensagem de castigo por todo o mal praticado por ela na história.  Quem faz aqui, paga aqui. Mas será que isto vale para todos? Nem sempre.

A novela mostra também o preconceito contra as pessoas que tem uma necessidade especial chamada de Altismo.   A mãe e os irmãos dela discriminaram a jovem durante toda novela e, sob o manto da superproteção, não deixavam a jovem em liberdade para viver e criar.  No último capítulo a exposição de belas obras de artes dela e o próprio beijo quebra um tabu e mostra que estas pessoas, além de poderem criar, trabalhar ou ser útil na vida, podem também amar e fazer outras pessoas felizes.

A novela também bateu de frente contra a homofobia e todo tipo de discriminação contra os homossexuais.  Mostra que é possível um casal do mesmo sexo criar e educar bem uma ou mais crianças.  "Amor à Vida" chega ao fim com primeiro beijo gay apresentado em novela da Globo e, com certeza, foi uma tapa na cara da homofobia e deve ter deixado muita gente escandalizada com algo hoje tão natural que faz parte de muitas famílias brasileiras. Qual é a família brasileira com parentesco de 1º, 2º ou 3º graus hoje que não tem pelo menos um homossexual?   Esta realidade não pode ser negada, precisa ser enfrentada por todos nós com naturalidade e com respeito à diversidade.   

Porém a cena mais marcante é a última quando Felix, depois de ter sofrido tanto preconceito por parte de seu pai, César, e ter praticado tanto mal durante a novela, consegue se transformar em um ser humano melhor e mudar o destino de muita gente. Ele é o único que decide tomar conta do seu pai que sofreu um AVC  e ficou semiparalítico.  Sentados, em frente à praia, ele, mesmo diante da arrogância do pai, diz a ele que o ama. Nesta hora o pai se arrepende e retribui o gesto também dizendo que o ama e, os dois, terminam a novela de mãos dadas. Emocionante, não? 

Por último, a ficção é uma criação humana da mente de alguém que pertence a uma determinada classe social. Seria uma ilusão esperar que esta e tantas outras novelas da Rede Globo, mostrassem uma história mais próxima da nossa realidade social. Esperar que ela mostrasse a desigualdade social, a origem dos preconceitos, os valores culturais regionais, as causas e consequências destes preconceitos etc.  Seria muito esperar que este monopólio midiático mostrasse que as causas de tantos males apresentados nas cenas da novela  é do próprio paradigma desumano capitalista, neoliberal e rentista que a sustenta.  Isto só será possível, a meu ver, quando os brasileiros, incluindo você, meu caro leitor, compreender que precisamos regulamentar para democratizar os meios de comunicação no Brasil. Este ano de 2014 será decisivo nesta luta. Procure se informar sobre isto. Mesmo assim, enquanto não conquistamos a reforma da mídia no Brasil, é salutar reconhecer que devemos aprender a filtrar da programação da mídia, no geral, tendenciosa, elitista e alienante da Rede Globo e de outras grandes emissoras, aquilo que pode servir como lição de vida e aprendizado para nós.