por Eduardo Guimarães - Blog da Cidadania
“Black bloc não é grupo ou movimento, é tática”;
“Um grupo pequeno de vândalos infiltrou-se em uma
manifestação pacífica”;
“Há que entender os black blocs”;
“Black blocs são um movimento social”…
Escolha uma das frases acima e pense: quantos dos que agora
estão criticando os black blocs (por ter se tornado impossível não criticá-los)
não disse uma ou mais de uma das frases acima, só que na época em que ser
contra protestos era “suicídio de imagem”?
Agora é fácil criticar os black blocs; eles estão aí, não é
mesmo? Mostraram que são EXATAMENTE aquilo que esta página disse que eram ao
tempo em que esses lunáticos surgiram em nosso país – época em que,
coincidência das coincidências, surgiram as tais “jornadas de junho”.
Mas veja só: Josias de Souza, Juca Kfouri, Ricardo Boechat e
outros menos ou mais conhecidos dizem agora que detestam os black blocs; há
pouco mais do que meia dúzia de meses incentivavam protestos.
Aliás, algum deles disse, com todas as letras, que apoiava
“quebra-quebras”, paulada, pedrada, o que fosse. Detalhe: é um dos principais
apresentadores de telejornal de uma das maiores empresas de comunicação do
país.
De certa forma, portanto, respeito aqueles que, apesar do
equívoco que cometeram – e que continuam cometendo – ao apoiar os black blocs,
pelo menos não convergem para a maioria por conveniência, como tantos por aí.
Estranho, também, que muitos estejam preocupados com a
execução penal de um suspeito do assassinato do cinegrafista Santiago Andrade –
ora sob prisão temporária – mesmo não tendo existido, até agora, a menor
notícia de maus tratos a ele.
Os preocupados em oferecer advogados e exigir soltura
imediata para um dos autores do assassinato do cinegrafista da TV Bandeirantes
demoraram muito a falar à família da vítima daqueles que apoiam. E acabaram nem
falando.
Coube, então, aos black blocs – o braço armado dessa
corrente opinativa que infesta a internet – dizer que estão “chateados” com o
resultado das próprias ações – e, sim, eles têm um monte de porta-vozes nas
redes sociais.
Mas que bom que ficaram chateados, não é mesmo? Tive medo de
que se dissessem alegres. Afinal, Santiago morreu devido a ações que os black
blocs praticaram em grupo. De forma pensada, planejada, decidida e eficiente.
Mas o pior é que também disseram que a morte de Santiago foi
uma “infelicidade”. Algo como um “efeito colateral”…
Manja, leitor?
Mas, enfim, já que essa praga está aí, o que fazer para
erradicá-la?
Já me disseram que prisão inafiançável não daria porque pode
ser usada para criminalizar movimentos sociais legítimos como o MST, por
exemplo. Ok, é verdade. Qualquer pretexto serve para exigir a degola do MST,
porque também faria manifestação violenta ao promover ocupações.
Não vejo assim. O MST tem uma causa. É um legítimo movimento
social. Seus integrantes têm nome, sobrenome, RG e CPF – ou, na falta dos documentos,
quase sempre certidão de nascimento.
Mas, enfim, todos os membros do MST têm rosto e nome. Podem
ser identificados, pois não se mascaram. Enfrentam pistoleiros equipados com
armas de alto calibre de cara limpa, peito aberto e a esperança nos olhos.
Os sem-terra praticam aquilo que se diz crime famélico, ou
seja, invadem por absoluta e extrema situação de penúria social. Andam com suas
mulheres, suas crianças, seus velhos, seus animais de estimação.
Ninguém são os trataria como a filhotes de papi malcriados
que tocam fogo em coisas e pessoas alegando que estão “mudando o país”. E não farão nada com eles a mais do que fazem
hoje, pois para eles nunca valeu nenhum atenuante social.
Mas uma lei que estabelecesse que gente de rosto coberto que
praticasse violência sem o menor atenuante social e humanista e sob motivo
torpe (por diversão ou para exercer pressão política ilegítima) seria apenada
pela Justiça de forma mais dura, talvez fosse a solução.
Não posso negar, porém, o potencial da Justiça brasileira de
distorcer as leis. E sobretudo quando os alvos da distorção não forem filhinhos
de papai e seus “teachers”, os quais sempre encontrarão montes de advogados nas
portas das delegacias a que forem levados quando destruirem tudo em volta.
Surge, então, a questão: o que fazer com os black blocs?
Para melhor refletir sobre o assunto conversei com o
jornalista Breno Altman, do site Opera Mundi. Antes, já havia conversado
superficialmente com amigos – pessoas que respeito – que não gostaram da ideia
de prisão inafiançável para protestos violentos.
Muitos amigos, claro, concordam em gênero, número e grau.
Alguns, inclusive, acham que prisão inafiançável é pouco.
O Breno me pareceu o mais ponderado. Consegue opor bons
argumentos que exigem ser analisados. Ele julga que a ação política pode ser
eficiente. Ou seja: que a crítica consistente aos black blocs irá isolá-los
cada vez mais politicamente e que ficarão sozinhos nas ruas.
Respondi que dez black blocs destruidores, cheios de
músculos e vitalidade juvenil e dopados por muita, muita raiva se farão parecer
mil pessoas a cada vez que forem à rua brincar do que gostam.
Não obtive uma resposta à questão sobre o que fazer com os
black blocs que não seja simplesmente deixá-los continuar a fazer o que estão
fazendo. Nada de lei e nada de repressão policial. Eles estariam se suicidando,
do ponto de vista imagético.
Lembrei que se a polícia não tivesse chegado os black blocs
teriam esfolado vivo o prefeito de São Paulo, ano passado. E que quase
conseguiram trucidar o prefeito porque a polícia usou essa tática de se omitir.
Temos todos que pensar no seguinte: e se a próxima vítima
dos black blocs for você? E se for um filho, uma filha, uma esposa, um esposo,
um pai, uma mãe, um amigo querido? Quem topa pagar para ver?
Não sei, não… Até porque, mesmo com a morte de Santiago
ainda tem gente muito barulhenta que quer mais black blocs fazendo exatamente o
mesmo.
E, como se não bastasse, em uma dessas redes sociais em que
os “meninos e meninas” escrevem disseram que vão, sim, fazer novos protestos. E
reafirmaram que “Não vai ter Copa” e que prefeito nenhum irá reajustar
passagens de ônibus.
Sinceramente, vejo isso como um deboche. A morte de
Santiago, dizem uma “infelicidade”, um efeito colateral. Só que esse efeito
pode acontecer de novo porque eles prometem continuar a fazer o que fizeram na
semana passada.
E aí, ninguém faz nada? Ficaremos sentados, esperando? E se
mais Santiagos forem vitimados pelos black blocs, vamos todos bradar, em coro e
de mãos dadas com os mascarados, que foi uma “infelicidade”? É isso o que
faremos?
Eu não concordo. E você?
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