É difícil saber os segredos dos celebridades midiáticas –
incluindo os jornalistas. Eles são tratados como “deuses” e até falam como se
fossem “deuses”. Muitos se metem na política, geralmente com opiniões de
direita, e são apresentados como pessoas acima do bem e do mal. Raramente, eles
são desnudados. Neste domingo (23), em sua coluna na Folha, a jornalista Mônica
Bergamo revelou um pouco como atua e o que pensa Fátima Bernardes, a famosa
apresentadora global. No texto intitulado “Fátima no espelho”, alguns dados
curiosos. Por exemplo: estima-se que seu cachê é de R$ 5 milhões. Ela nega! Ela
também acha “injusta” a crítica dos protestos populares contra a TV Globo. Vale
conferir alguns trechos:
*****
Você tem 30 anos de carreira como jornalista e agora começou
a fazer publicidade. Como foi essa decisão?
Quando eu saí do jornalismo, vivi uma mudança muito grande.
Era quase uma mudança de emprego. E precisava dar um tempo para mim. Recebi
muita proposta, de tudo o que você pode imaginar. Planos de saúde, operadora de
telefonia. Sabia que um dia ia fazer. É uma outra forma de rendimento, é uma
outra grana que entra. Eu tenho três filhos. Houve convites: "Fátima, a
gente tem uma campanha de cigarro, de supermercado". E eu olhava. Poderia
ser, assim, a 20ª campanha. Mas não a primeira. Esta [da empresa alimentícia
Seara] tinha uma identificação comigo. Eu surpreendi quando saí do "Jornal
Nacional". E a campanha tem toda essa conotação. O Washington [Olivetto,
publicitário responsável pelos anúncios da Seara] nem precisou usar todo o seu
enorme poder de convencimento.
Mesmo no programa, você segue sendo jornalista. Não tem medo
de que isso arranhe a sua credibilidade?
Eu refleti. Eu acho que não. Eu estou há tanto tempo fazendo
o que eu faço... As pessoas acreditam em mim porque eu venho de uma carreira
muito séria. O fato de eu dançar no programa, ou de fazer publicidade, não vai
tirar a seriedade do que eu faço. Então eu acho que isso vai entrar
tranquilamente, como quando entrou o primeiro merchandising no programa.
Você pode aparecer na televisão e levar as pessoas a
comprarem mais frango. É um poder muito grande.
Quem já fez o "Jornal Nacional" sabe o tamanho
desse poder também. Você leva algo muito mais importante do que frango, que é a
informação. A gente já lida com essa faca no pescoço diariamente, a cada
fechamento, sabendo que qualquer erro tem o tamanho de um canhão para matar uma
borboletinha, uma formiga. Hoje é diferente. Eu não estou obrigando ninguém a
comprar nada, eu estou falando de algo que existe no mercado e estou sugerindo
uma experiência.
Há estimativas de que seu cachê chegou a R$ 5 milhões.
Tá muito exagerado. As pessoas falam barbaridades. Eu não
vou falar para ninguém de cachê. Não tem nenhum sentido. Assim como nunca falei
de salário. É uma questão tão pessoal! Eu tento segurar o máximo possível um
pouco da minha vida. Acho até que eu consigo.
(...)
Qual é a sua expectativa em relação à Copa? O que está
achando dos protestos?
Eu adoraria que não fosse assim, que a gente não precisasse
dividir a atenção nesse momento. Mas eu acho que, por ser um momento de muita
visibilidade, ele vai ser usado por quem quer se manifestar. Eu compreendo
isso. É quase uma lei de mercado, né? Os holofotes estarão aqui, as pessoas vão
querer aproveitar, eu acho lícito. A gente vai ter, de novo, dois Brasis: um
dentro dos estádios, com festa, e o do outro lado, nas ruas, tentando
aproveitar o momento para falar de suas necessidades. Eu estive em Atlanta [em
1996]. Houve manifestação contrária à Olimpíada. Nem toda a cidade estava
fechada com o evento. Tudo bem. Mas você não pode colocar em risco as pessoas
que estarão aqui, brasileiras ou de outros países.
(...)
Como você vê as hostilidades à TV Globo nos protestos?
Dessa vez [nos protestos de junho de 2013], eu não senti
algo só contra a Globo. Foi algo mais preocupante, contra a imprensa de uma
maneira geral. É muito difícil você lidar com liberdade, não é? A liberdade de
imprensa é para registrar os dois lados. Há uma dificuldade, como se você
tivesse que tomar partido.
Mas a imprensa não está acima das críticas.
É completamente válido [protestar contra a imprensa], usando
de respeito e deixando o outro trabalhar. A gente não está ali para se
divertir. É legítimo? Tudo bem. Mas eu sei da seriedade do que é feito ali. Eu tenho
certeza da idoneidade dos meus colegas e do caráter de todos eles. É claro que
eu acho injusto. Às vezes, numa manifestação, num conflito, você tem certo
receio. A rua não é um lugar fácil de trabalhar. É para bravos. Para corajosos.
*****
Curiosas as opiniões de Fátima Bernardes! Ela relativiza o
papel da publicidade. “Eu não estou obrigando ninguém a comprar nada, estou
falando de algo que existe no mercado e estou sugerindo uma experiência”. Acha
que não há conflito entre o ofício de jornalista e a prática matreira do
merchandising. Recusa-se a falar sobre seu cachê, mesmo trabalhando numa
emissora privada que explora uma concessão pública e que recebe milionárias
verbas oficiais de publicidade. E ainda afirma “eu não senti algo só contra a
Globo” nos protestos do ano passado. Nas ruas, uma das principais
palavras-de-ordem foi “Fora Rede Globo, o povo não é bobo”. Ocorreram
manifestações nos portões da emissora em vários estados, como em São Paulo e no
Rio de Janeiro. Mas ela garante que “eu não senti algo só contra a Globo”.
Curiosas as celebridades midiáticas. A mesma Mônica Bergamo,
em outro texto publicado no início de março, deu dados impressionantes sobre os
artistas que lotam dos camarotes do Carnaval. Há quem pense que eles são
foliões, amantes da cultura popular, e que participam da festança de maneira
espontânea. Puro engano! Segundo a matéria, intitulada “Cachê nas alturas”,
eles recebem fortunas das empresas para “sorrir por duas horas e sumir sem
disfarçar, muitas vezes, o enfado”. As lucrativas cervejarias, por exemplo,
usaram e abusaram desta estratégia comercial no sambódromo do Rio de Janeiro
neste ano.
“O negócio funciona da seguinte forma: eles são contratados
para ficar algumas horas no camarim, dar entrevistas e posar para fotos. Em
geral, não falam nada de muito importante, já que chegam treinados à avenida
para conceder entrevistas água com açúcar. Ainda assim, eles ganham grande
espaço na imprensa, que nem precisa batalhar muito - o acesso às celebridades
contratadas é super facilitado. Faz parte do business. Às vezes, a coisa sai um
pouco do script. Romário, por exemplo, confessou à coluna: apesar de contratado
pela cervejaria Devassa, ele detesta cerveja. Diz que não bebe um só gole.
‘Prefiro espumante’”, relata a jornalista.
Segundo revela, “a especulação sobre os cachês corre solta
entre profissionais envolvidos com a organização dos camarotes. Fernanda Lima,
por exemplo, exigiria R$ 2,5 milhões para fazer presença por quatro horas com o
marido, Rodrigo Hilbert, posar para fotos, atender aos repórteres e ficar
integralmente à disposição... Sabrina Sato cobraria cerca de R$ 500 mil só para
surgir e sorrir - o pacote com a Brahma teria saído por mais, já que incluía
dezenas de ações de marketing pelo Brasil. Grazi Massafera, contratada pela
Devassa, teria cobrado um pouco menos”.
*****
Leia também:
0 comentários :
Postar um comentário