Por Altamiro Borges
Alguns “calunistas” da mídia têm defendido abertamente a
realização de protestos durante os jogos da Copa do Mundo no Brasil. Agitadores
de ocasião, eles nem disfarçam que apostam na desestabilização política com
propósitos eleitoreiros – talvez como única forma de pavimentar uma candidatura
de direita no segundo turno no pleito de outubro. No campo popular também há
setores de oposição que adotaram a bandeira do “Não vai ter Copa”, mas com
propósitos distintos – contra os gastos públicos excessivos no torneio e contra
as desapropriações de imóveis nas proximidades dos estádios, entre outros. Para
ambos, porém, vale a pena ler um estudo publicado na semana passada pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf).
A entidade ligada à CUT mostra que, do total de R$ 2,36
trilhões do Orçamento Geral da União para este ano, 42,42% (mais de R$ 1
trilhão) estão reservados ao pagamento dos juros e amortizações da dívida
pública. Ou seja: toda esta grana alimentará a ganância dos banqueiros e da
minoria parasitária que vive da especulação financeira. Segundo o estudo, o
Brasil gastará com os agiotas três vezes mais do que com a Copa do Mundo. A
mídia rentista conhece bem estes números abjetos, mas evita dar destaque à roubalheira
por motivos políticos e econômicos. Já os setores populares deveriam aproveitar
estes dados para concentrar as suas energias na crítica ao arrocho monetário
promovido pelo governo Dilma e à ditadura do capital financeiro que impera no
Brasil.
Reproduzo abaixo a íntegra da nota da Contraf:
*****
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro
(Contraf-CUT) condena com veemência a decisão do Comitê de Política Monetária
(Copom) de elevar mais uma vez a taxa básica de juros, por entender que esse
aumento vai desacelerar o já débil crescimento econômico, colocando em risco a
política de geração de empregos, melhoria dos salários dos trabalhadores e a
distribuição de renda.
Com a elevação da Selic para 10,75% ao ano nesta
quarta-feira 26, o Brasil volta ao topo dos países com as maiores taxas de
juros reais do planeta. Para a Contraf-CUT, essa é uma medida inócua para
combater a inflação, que em 2003 foi de 5,91%, apresenta viés de queda e está
rigorosamente dentro dos parâmetros definidos pelo Banco Central (4,5% a 6,5%).
"O aumento de 0,25% na Selic representa outra
capitulação do Copom diante do terrorismo do mercado financeiro, o único
ganhador desse jogo de cartas marcadas em que todos os demais setores da
sociedade perdem", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
Do total de R$ 2,36 trilhões do Orçamento Geral da União
para 2014, 42,42% (mais de R$ 1 trilhão) estão reservados para o pagamento dos
juros e amortizações da dívida pública, 20% da qual é composta por títulos corrigidos
pela Selic. A Previdência Social, que atende 27 milhões de pessoas, ficará com
20,05% do total (R$ 473,38 bilhões).
No ano passado, o governo federal repassou aos cerca de 50
mil portadores de títulos da dívida R$ 75 bilhões de juros, enquanto o Programa
Bolsa Família, que atende 14 milhões de famílias, recebeu apenas R$ 18,5
bilhões. Do total da dívida, 25% estão nas mãos dos bancos e outros 24% com os
fundos de investimentos controlados por instituições financeiras.
Cada ponto percentual acrescido na Selic representa R$ 6
bilhões que saem do Tesouro Nacional diretamente para o bolso desses rentistas.
Isso significa que somente o aumento dos 3,25 pontos percentuais na taxa básica
de juros determinados pelo Copom a partir de abril passado significou um ganho
de R$ 21 bilhões a essa casta, sem nenhum esforço.
Isso representa quase três vezes os R$ 8 bilhões que o
Brasil está investindo, somando as verbas públicas e privadas, para construir e
reformar os 12 estádios que receberão a Copa do Mundo de 2014. E sobre isso,
não se lê nem se ouve nada na grande mídia.
"São mecanismos de concentração da riqueza desse tipo
que explicam o fato de o Brasil, apesar de ser a sexta maior economia global,
estar ainda entre os 12 países mais injustos e desiguais do mundo. E isso é
inaceitável para os brasileiros que lutam por um país desenvolvido e com
inclusão social", conclui Carlos Cordeiro.
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