Por Eduardo Guimarães – Blog da Cidadania
Concordo plenamente com o colunista da Folha de São Paulo e
blogueiro da revista Veja, Reinaldo Azevedo, no que disse sobre a
“discriminação racial” no texto “Barbosa no tronco”, publicado no jornal da
família Frias (7/3): “A discriminação racial assume muitas faces”.
O colunista e blogueiro que vem encantando a grande
(porcaria de) imprensa que temos no Brasil tem razão, o racismo tem mesmo
muitas faces, mas ele só citou três enquanto produzia, naquele mesmo texto, uma
quarta.
Autor de um dos termos mais estúpidos e discriminatórios de
que se tem notícia, o termo “petralha” – que reduz um partido com mais de um
milhão de filiados a uma gigantesca quadrilha –, esse bibelô do neofascismo
atribui “racismo” aos que criticam Joaquim Barbosa por seu destempero e
autoritarismo, os quais esse mesmo pateta cansou de apontar em seu blog.
A tese de Azevedo é a de que os “petralhas” seriam
“racistas” porque cobram do ministro que, por ser negro, deveria ter absolvido
os petistas condenados no julgamento do mensalão, pois o PT pretende ser o
partido que defende a causa dos negros.
Ironicamente, antes de Barbosa prestar o grande serviço que
prestou à direita ao condenar sem provas os réus petistas do julgamento do
mensalão – intimidando alguns de seus pares para que acompanhassem seu voto –,
Azevedo via no presidente do Supremo truculência, autoritarismo, despreparo e,
o que é pior, desapreço pelo trabalho – este, um chavão racista sobre
“indolência” dos negros.
Alguns dos textos que aquele que a ombudsman da Folha bem
qualificou como rottweiler publicou em seu blog antes do segundo semestre de
2012, quando Barbosa passou de demônio a anjo na mídia, revelam que o feroz
articulista concorda com as críticas que o ministro vem sofrendo, mas como não
podia concordar publicamente encontrou uma saída: acusar esses críticos de
“racismo”.
Confira abaixo, leitor, alguns exemplos do que Azevedo já
publicou sobre Barbosa em seu Blog.
Em 22 de abril de 2009 Azevedo escreveu que “Joaquim Barbosa
desmoralizou o Supremo” por ter brigado com o então presidente do STF, Gilmar
Mendes, no plenário daquela Corte.
Em 22 de abril de 2009 Azevedo escreveu de novo (no mesmo
dia) sobre Barbosa. O título “Elogios à atuação de barbosa aqui??? Nem
pensar!!!”. O texto avisava que não seriam aceitos comentários de leitores que
divergissem da opinião do autor do blog sobre o ministro.
Em 9 de setembro de 2009 Azevedo escreveu “A arrogância de
Barbosa é espantosa”, por ele ter votado contra extradição de Cesare Battisti.
Em 9 de agosto de 2010 Azevedo escreveu “Ou Joaquim Barbosa
volta ao trabalho ou tem de se despedir”, insinuando que a alegação do ministro
de que tinha que se afastar do STF por problemas na coluna era desculpa para a
própria indolência.
São só alguns exemplos de que Azevedo cometeu ele mesmo o
“crime de opinião” que imputa aos que se decepcionaram com Barbosa por ter
pisoteado o Direito, premissa com a qual incontáveis juristas e advogados vem
concordando após o que o ministro fez no julgamento do mensalão.
O mais engraçado, porém, não é Azevedo ter mudado de opinião
sobre Barbosa tanto quanto os que se decepcionaram com a sua atuação no
julgamento do mensalão. O mais engraçado é que o “rottweiler” da Folha ataca
movimentos negros que, segundo ele, em “maioria” estariam “pendurados” em
“prebendas estatais”.
Azevedo quer que os movimentos negros condenem o ex-deputado
João Paulo Cunha por ter comentado que Barbosa foi indicado por Lula para o
Supremo porque o ex-presidente queria que, após mais de um século de vida
Republicana, o Brasil tivesse o primeiro negro em sua Suprema Corte de Justiça.
O petista condenado por Barbosa, porém, não praticou racismo
nenhum, razão pela qual os movimentos negros não o criticaram – e não deixariam
de criticar se tivessem visto racismo em tal afirmação.
Cunha apenas disse o que todos sabem, que Lula, ao indicar
Barbosa, não se ateve a critérios técnicos, mas políticos: queria indicar um
negro para o STF e não tinha muitas opções porque a iniquidade “racial”
brasileira impede que muitos negros atinjam o de fato admirável grau de cultura
do hoje presidente do STF.
Racismo é ressaltar o fato de que os movimentos negros
recebem colaboração financeira do Estado para subsistirem. Os movimentos
negros, antes de tudo, são movimentos de pobres, pois a pobreza, neste país,
tem cor. Tragicamente. Por isso precisam do Estado.
Os movimentos negros deveriam protestar contra a acusação de
que se calam diante de ato racista porque o autor desse ato pertence ao partido
do governo. Isso é racismo contra os que lutam para que existam mais negros em
condições de chegar aonde Barbosa chegou.
1 comentários :
SOU EU ANTONIO
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