Por Daniel Quoist, no site Carta Maior:
Aécio Neves, como de hábito privilegiando interlocução com
entidades classistas patronais, tem levado ao empresariado do centro-sul do
país sua disposição para adotar medidas impopulares tão logo coloque no peito a
faixa presidencial.
É óbvio que uma minoria deve ter recebido maior detalhamento
do significado do "impopulares". E certamente nesse seleto grupo de
brasileiros se encontram banqueiros, industriais, donos de redes de shoppings
centers e supermercados, quase sempre gente muito atenta às variações, minuto a
minuto, registradas nas bolsas de valores de São Paulo, New York, Londres ou
Singapura.
É certo que tais detalhamentos, se feitos, devido ao pleito
presidencial que se avizinha, dificilmente chegariam aos ouvidos dos que
habitam há tempo demasiado o andar de baixo da pirâmide social brasileira: a
nova classe média com seus novos milhões de consumidores, os pobres em geral,
os miseráveis em particular.
Mas, acossado por contundentes textos veiculados na internet
e nas redes sociais em especial, todos clamavam por esclarecimentos adicionais
sobre os meandros, amplitude e abrangência e significados contidos na genérica
expressão "medidas impopulares" o presidenciável tucano toureou a
questão o quanto pode e escalou Armínio Fraga, responsável que é pela área
econômica de sua campanha e futuro ministro-pode-tudo de um hipotético retorno
dos tucanos ao Palácio do Planalto. E o que disse Fraga?
"O Brasil precisa também adotar um limite para relação
gasto público e PIB." E adiantou que essa medida pode ser tomada "por
lei ou por decisão de governo, num primeiro momento; mas é preciso trabalhar
para isso."
Pelo jeito como se expressou, a firmeza de suas convicções,
algo que o próprio presidenciável sonegou, deixa evidente que o assunto vem
sendo tratado pelo PSDB com extremo zelo, apuro, cuidado, características que
normalmente ornam com coisas inevitáveis, aquelas que se impõem como se fossem
forças da natureza. E o todo-poderoso do governo FHC não ficou por aí. E foi
além: "Os gastos teriam que crescer igual ou abaixo do PIB. E na
trajetória que está os gastos crescem mais que o PIB."
Tomando em conta o valor de face dessa meia dúzia de frases
a título de explicação do “medidas impopulares” do tucano mineiro temos de
forma sintética o que seria o programa de governo a ser implantado caso Aécio
derrote Dilma Rousseff em outubro de 2014.
Medidas impopulares nada mais é que
- Diminuir a atividade econômica do país
- congelar o aumento dos salários, a começar pelo
salário-mínimo que se avizinhará dos R$ 800,00 em janeiro de 2015
- Estancar severamente as atuais políticas proativas de
geração de emprego e renda
- implante do neoliberalismo que levado à risca quebrou os
Estados Unidos e boa parte da Europa nos anos 2008/2010
Esse quadro é bem conhecido da população brasileira e é
filho dileto de fases econômicas que o Brasil luta para esquecer:
"precisamos primeiro fazer crescer o bolo e só então termos o que
dividir"; "a economia vai bem, o povo é que vai mal";
"esqueçam o que eu escrevi".
Conviria ao presidenciável - e ao seu festejado economista
tucano - detalhar mais, muito mais!, até que fronteiras o "medidas
impopulares" pretende lançar suas garras em seu afã messiânico para ter um
rígido controle da atividade econômica, dos gastos públicos e da premissa de
que "estado bom é estado mínimo”.
Para se alcançar esses objetivos ninguém se espante se, de
repente, não mais que de repente, for ardilosamente divulgado escândalo de tal
monta que sangre o Bolsa Família, assim como aquele do Mensalão que pretendeu sangrar
o capital político do presidente metalúrgico Lula da Silva e este atual que
deseja sangrar a Petrobras apenas com o intuito de carimbá-la como
"empresa corrupta. Desgovernada e incompetente" e então, tornar
palatável aquelas antigas intenções de FHC de vê-la nas mãos da iniciativa
privada, com ou sem brasileiros natos detendo seu controle acionário e
administrativo.
A oposição trava sua batalha final e parte com tudo. não
para derrotar o Partido dos Trabalhadores somente, mas antes, exterminar
quaisquer resquícios do mitologia política que ronda o nome e a imagem do
presidente Lula da Silva.
E para ser bem sucedido há que virar o país de cabeça para
baixo, depois virá-lo para o passado e passar o rolo compressor sobre todas as
conquistas sociais que marcam indelevelmente os anos Lula (2003-2010) e sua
continuação imediata, os anos Dilma (2010-2014).
Mas para que o serviço seja bem feito terão que colocar em
movimento um mega operação desmonte. E tudo começa com a criação do ambiente
propício a que nos desfaçamos de nossas riquezas do petróleo no Pré-Sal através
da desvalorização e desmonte seriado da Petrobras e sua consequente venda na
"bacia das almas" do capital internacional.
Passa, inexoravelmente, pela extinção de programas como o
Bolsa Família que permanece como símbolo-chave das conquistas populares do PT e
pelo imediato retorno a seus países de origem de milhares de médicos
estrangeiros que chegaram ao Brasil para prestar assistência médica em regiões
remotas, com baixíssimo IDH e de onde os nossos similares nacionais fogem como
o diabo da cruz.
Nesse contexto de reescrever a história sempre com olhos no
retrovisor e flertando com políticas econômicas fracassadas em todo o mundo,
dar por encerrados os projetos de transposição de águas do rio São Francisco
para diversos estados nordestinos cronicamente atacados por secas periódicas e,
por fim, mas não de menor importância, voltar a dar status de Quarto Poder à
grande mídia, essa imprensa tradicional, monopolista que desde 2003 atua como
partido de oposição ao PT, sempre ressentida por não poder mais apontar
diretrizes para nossas políticas públicas sociais e rumos para nossa economia.
Medidas impopulares é o que melhor sabe fazer o PSDB. E
sempre que opta por esse caminho de ter um PIB robusto lança suas fichas na
direção do desemprego em massa, no encolhimento do poder de compra do
trabalhador e na manutenção do imenso vazio a separar os poucos ricos da imensa
legião de brasileiros muitos pobres.
Mais do que nunca se faz necessário uma difusão massiva de
quadros comparativos - aspectos sociais, econômicos, qualidade de vida - entre
os governos tucanos (1994-2002) e os governos petistas (2003-2014).
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