por Helena Sthephanowitz
Nova pesquisa do Ibope sobre a corrida presidencial em campo
deve ser publicada nos próximos dias
Os candidatos de oposição, em dificuldades para subir nas
pesquisas de intenções de votos, buscam oxigênio no que chamam "sentimento
de mudança". E institutos de pesquisas de opinião passaram a dirigir
perguntas para dar subsídios a este argumento do interesse dos oposicionistas.
Porém, as perguntas dirigidas mais fogem do que buscam identificar qual é o
real sentimento de mudança.
Se for para levar a sério os números apurados na última
pesquisa eleitoral do Ibope, o tamanho do sentimento de mudança em direção à
oposição fica em apenas 25%.
O Ibope fez a seguinte combinação de perguntas:
Pergunta 15) Pensando no próximo presidente, o (a) sr (a)
gostaria que ele:
.. Mudasse
totalmente o governo do país (30%)
.. Mantivesse só
alguns programas, mas mudasse muita coisa (38%)
.. Fizesse poucas
mudanças e desse continuidade para muita coisa (20%)
.. Desse total
continuidade ao governo atual (8%)
.. Não sabe/ Não
respondeu (3%)
(Somente para quem deseja mudança na próxima eleição):
Pergunta 17) Ainda falando sobre mudanças no governo, o (a)
sr (a) deseja mudanças no governo, mas com Dilma na presidência ou mudanças no
governo com outro presidente no lugar de Dilma?
.. Mudanças no
governo, mas com Dilma na Presidência (25%)
.. Mudanças no
governo, com outro presidente no lugar de Dilma (64%)
.. Não sabe/ Não
respondeu (11%)
O número de 64% que "querem mudanças no governo, com
outro presidente no lugar de Dilma", impressiona, e é usado por
oposicionistas, sejam candidatos para produzir alento, sejam jornalistas para
produzir manchetes, mas esconde um truque, porque não são 64% do total dos
pesquisados (amostragem do total do eleitorado).
A pergunta 15 foi aplicada a todos os 2.002 pesquisados. A
pergunta 17 foi aplicada somente aos 1.369 pesquisados que responderam as duas
primeiras opções da 15. Logo, quem respondeu querer outro presidente no lugar
de Dilma corresponde a 44% do eleitorado, praticamente o mesmo tanto de votos
que o candidato José Serra (PSDB-SP) teve no segundo turno em 2010.
Desses 44% que dizem não querer Dilma, 19% não querem
ninguém da oposição, pois declaram que irão votar em branco ou nulo. Então
sobram apenas 25% do voto de mudança para a oposição. Significa que a oposição,
por ora, encolheu em relação a 2010.
Por outro lado, somando-se os 25% dos 1.369 pesquisados que
querem muita mudança e dizem querer a continuidade de Dilma, com os que querem
"total continuidade ao governo atual" ou pequenas mudanças, chega-se
a 44% do eleitorado.
A leitura dos números da pesquisa sem truques dá cerca de
44% pendendo para a continuidade do governo Dilma, mesmo querendo muita ou
pouca mudança, contra 25% pendendo para a oposição. O resto, tirando os
indecisos, é o eleitorado seduzido pelo sentimento anti-política inclinado a
anular o voto.
Além disso, na mesma pesquisa Ibope de abril, a primeira
pergunta foi:
1) Como o (a) sr (a) diria que se sente com relação à vida
que vem levando hoje? O(A) sr (a) está:
.. Muito
satisfeito (9%)
.. Satisfeito
(70%)
.. Insatisfeito
(19%)
.. Muito
insatisfeito (2%)
.. Não sabe/ Não
respondeu (1%)
Com 79% do eleitorado satisfeito ou muito satisfeito com a
vida que vem levando, torna-se mais fácil para o governo do que para a oposição
capturar os votos que ainda estão indecisos ou descontentes. O eleitor que vota
pragmaticamente, com a mão no bolso, tende a votar pensando em preservar seu
bem-estar.
Tudo isso desmistifica o suposto "sentimento de
mudança" representar novos ventos para a oposição.
Se perguntar a qualquer mãe ou pai se quer mudança no
desempenho de seu filho na escola, a menos que sejam pais dos primeiros alunos
da classe, todos responderão sim. Mas nenhuma mãe ou pai quer mudar de filho.
Todo mundo quer mudança para reformar a casa, para trocar o
aluguel pela moradia própria, para trocar um carro usado por um novo, para
perder uns quilos a mais, para deixar o sedentarismo, para subir na carreira
profissional, até para ganhar na Mega-Sena, mas poucos estão dispostos a
decisões de mudanças radicais, como abandonar o emprego para aventurar-se em
algo incerto, ou trocar o que conquistaram na vida para recomeçar tudo de novo.
Até nos casamentos, todo mundo quer alguma mudança para
melhor, seja no relacionamento, seja na prosperidade familiar, mas a maioria
não quer se separar, pelo menos nos casamentos harmônicos. Mas se uma pesquisa
que garanta o anonimato, fizer pergunta gaiata perguntando hipoteticamente à
mulher se trocaria o maridão por um galã da TV, muitas responderiam que sim, sem
qualquer compromisso com a realidade e sem qualquer intenção real de
separar-se. Daí seria absurdo tal pesquisa vir com a manchete: "Maioria de
casais estáveis quer trocar de cônjuge".
O Ibope está com nova pesquisa sobre a corrida presidencial
em campo, que deve ser publicada nos próximos dias. As mesmas perguntas foram
feitas. Vamos ver quais serão as manchetes "mudancistas".
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