Por Théa Rodrigues, no blog de Renato Rabelo:
O primeiro dia do 4º Encontro Nacional de Blogueiros e
Ativistas Digitais (#4BlogProg), que acontece em São Paulo até o próximo
domingo (19), foi encerrado a discussão sobre a “Luta pela Democratização da
Mídia no Brasil”. A deputada Luciana Santos (PCdoB), relatora do projeto de lei
que cria o Fundo de Desenvolvimento da Mídia Independente (FDMI), participou do
encontro e falou sobre a importância do benefício destinado aos veículos
alternativos.
Também compuseram a mesa de debates, Laurindo Lalo Leal Filho,
professor da USP e ex-ouvidor da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e Renata
Mielli, secretária-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.
Lalo afirmou que o Brasil apresenta um atraso de 80 anos na
democratização dos meios de comunicação, em comparação à Europa e aos Estados
Unidos. Segundo ele, também está atrasado em relação à América Latina. “O
Brasil não consegue sair dessa difícil situação de enfrentar os grandes
monopólios que se contrapõem à lei de regulação do próprio setor”.
O professor lembrou que desde o governo de Getúlio Vargas, a
mídia vem jogando com o poder na tentativa de derrubar àqueles que não
correspondem aos seus interesses no país. “O mesmo processo ocorreu com a
derrubada do presidente João Goulart, quando os meios de comunicação,
subvencionados pelos EUA e pela CIA, ajudaram a planejar o golpe”, disse Lalo.
Segundo ele, “a história golpista da mídia brasileira está
presente no subconsciente nacional. Ainda temos a ideia de que o enfrentamento
dos meios de comunicação pode ser prejudicial para a sustentação do governo”.
Lalo comentou que desde a constituinte já foram elaborados
19 anteprojetos de lei no Palácio do Planalto. O último foi do ministro
Franklin Martins, no final do governo do ex-presidente Luis Inácio Lula da
Silva. “Nenhum desses projetos foi enviado ao Congresso Nacional”, lamentou.
Para ele, “é uma imensa bobagem quando escuto alguém repetir
a frase ‘o melhor controle é o controle remoto” – dita por Jô Soares e
utilizada por grupos contrários à democratização como uma forma de questionar a
necessidade de regulação do conteúdo nos meios de comunicação.
“A sociedade nunca teve clareza de que outro rádio, outra
televisão, é possível, além dessa comercial que existe”, afirmou Lalo. Neste
sentido, ele acredita nos meios alternativos com instrumento de difusão da luta
por uma reforma no setor.
“A reação da mídia hegemônica após a entrevista que o
ex-presidente Lula deu aos blogueiros é sintomática, mostra a força dos
blogueiros e essa força que vai fazer com que o novo marco regulatório seja
construído e sustentado pela sociedade no Congresso Nacional e no Executivo”.
O incansável papel do PCdoB na luta democrática
“Para o PCdoB, a reforma da comunicação brasileira é uma das
questões estruturais mais importantes para construção de um Estado de direito.
Nós consideramos essa uma das reformas mais importantes para o país”, afirmou a
deputada Luicana Santos.
Ela falou sobre a criação do Fundo de Desenvolvimento da
Mídia Independente (FDMI) e explicou que os trabalhos realizados pela
subcomissão apontaram a necessidade de uma legislação que estimule a mídia
independente.
“No Congresso Nacional nós tivemos a iniciativa de criar uma
subcomissão para tratar do financiamento das mídias alternativas, que por si só
já rendeu um bom debate”, disse Luciana. Os recursos do FDMI serão aplicados em
programas, projetos e atividades executados por veículos de mídia independente,
que contemplarão a modernização de equipamentos; contratação de pessoal;
elaboração de projetos editoriais; geração de novos conteúdos, produção e
programação com finalidades educativas, artísticas, culturais, científicas e
informativas e a promoção da cultura nacional.
Ela lembrou ainda que “no Brasil nos temos diversas agências
reguladoras (Anatel, Antt, Arsesp, etc.), só não temos de comunicação”.
A deputada defendeu ainda o chamado PL do Direito de
Resposta (6.446/2013), que garante voz a todo cidadão que se sinta ofendido –
injuriado, caluniado ou difamado – por veículos de comunicação. O texto
assegura, ao ofendido, o direito de se manifestar na mesma periodicidade,
dimensão e intensidade, ou seja, proporcionalmente à agressão sofrida.
Para Luciana, o importante com isso não é defender os
políticos, como muitos gostam de dizer, mas sim o povo que é vítima dos
julgamentos da mídia. Ela citou como exemplo o caso da Escola Base, em São
Paulo, “que deixam marcas indeléveis na vida das pessoas”.
Alternativas
Renata Mielli, secretária-geral do Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação (FNDC) ressaltou que a legislação que rege a
radiodifusão no Brasil tem 50 anos. “Nos 25 anos de nossa Constituição Cidadã,
por conta de vários interesses existentes, o Congresso Nacional não produziu
leis para regulamentar a mídia”, afirmou.
Segundo ela, “o monopólio da comunicação é o primeiro
caminho para uma sociedade antidemocrática”. Para Renata, “a comunicação não é
apenas um entretenimento, é um direito”. Ela citou ainda uma pesquisa divulgada
pela Fundação Perseu Abrão, na qual 71% dos entrevistados respondeu que é
necessário haver regras mais claras para definir a programação veiculada das
emissoras.
De acordo com a representante do FNDC, o ideal seria fazer
uma consulta pública para que toda a sociedade pudesse opinar em torno de uma
proposta de um novo marco regulatório das comunicações.
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