Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
O que os jornais apresentaram nas edições de sexta-feira
(16/5) como retrato daquilo que deveria ser a mais ampla mobilização contra a
Copa do Mundo é um verdadeiro chabu. A expressão popular representa o fiasco do
rojão que não detona, ou de qualquer expectativa que não é comprovada pela
realidade. O fiasco dos protestos fica ainda mais patético quando se observa o
cartaz levado por alguns manifestantes, onde se podia ler: “Dia Mundial contra
a Copa”.
O que houve, afinal, foi o desfile de variados grupos em uma
dúzia de cidades, cada qual levando suas reivindicações específicas. Na maioria
dessas passeatas, a presença de cartazes contra a Copa foi repudiada e os
chamados “black blocs” tiveram que fazer suas depredações longe da massa dos
manifestantes.
Na região de Itaquera, em São Paulo, torcedores do
Corinthians trataram de se misturar aos integrantes do movimento dos sem-teto
para evitar que se aproximassem do estádio. Segundo relato dos jornais, um
grupo de vinte manifestantes tentou levar pneus para queimar perto da arena,
mas os corintianos jogaram os pneus num matagal. Posteriormente, a própria
polícia fez uma barreira para impedir o acesso aos portões.
A imprensa não pode quantificar quantos torcedores estavam
infiltrados na manifestação, porque todos eles vestiam camisetas vermelhas,
conforme havia sido combinado entre integrantes da agremiação Gaviões da Fiel.
O episódio mostra como a correlação de forças entre os que
se mobilizam contra a Copa e aqueles que desejam apenas torcer pela seleção brasileira
é muito diferente do que faz supor o noticiário. Na verdade, há uma
supervalorização dos protestos, como parte de um clima artificial de histeria –
muito mais presente no noticiário do que na vida real.
O dia a dia das grandes cidades onde houve manifestações não
sofreu mais transtornos do que aqueles da rotina, e a variedade das palavras de
ordem das muitas aglomerações abafou os gritos dos que pensam impedir a
realização do torneio de futebol. Como de praxe, nas fileiras dos anti-Copa
concentravam-se os vândalos que parecem interessados apenas em atirar pedras
contra vidraças.
Muito barulho por nada
Além da passeata contra a Copa, que se concentrou na Avenida
Paulista, os jornais acompanharam mobilizações dos sem-teto comandados por um
filósofo, dos professores da rede municipal de São Paulo, de metalúrgicos
ligados a um deputado que pretende se candidatar a vice-governador, além de
grevistas de diversas categorias e, na capital paulista, até mesmo
ex-funcionários de uma empresa terceirizada pela prefeitura. Nas demais
cidades, rescaldos de greves da polícia, grupos de interesses variados e até
funcionários de uma rede de lanchonetes fizeram o caldo das manifestações.
O relato dos acontecimentos deve ter exigido o máximo da
capacidade de organização dos editores, e o resultado da leitura dos principais
jornais de circulação nacional é que se criou muita expectativa para um
acontecimento que não se concretizou. O clima de histeria provocado por
articulistas, comentaristas de vários meios e por apresentadores de programas
populares do rádio e da televisão era apenas isso: histeria dos meios de
comunicação.
A impressão que fica é que o cidadão comum quer apenas fazer
em paz o seu trajeto de casa para o trabalho e assegurar seu caminho de volta
no fim da jornada.
No meio da narrativa sobre o protesto dos sem-teto em
Itaquera, o apresentador da Rede Record arriscou-se a cravar uma justificativa
para o que entendia ser uma manifestação contra a Copa do Mundo, afirmando que
“as pessoas ouvem o tempo todo denúncias de superfaturamento das obras, e o
governo gasta em estádios enquanto faltam escolas e hospitais”. Sem querer, o
jornalista tocava no ponto central: a ignorância geral sobre o processo de
organização do campeonato mundial de futebol no Brasil e a crença,
generalizada, de que o governo banca todas as despesas.
Tudo começa, portanto, na desinformação. E desinformação tem
a ver com falta de qualidade no jornalismo.
Quando as pessoas se dão conta de que foram manipuladas,
aquilo que se anunciava como a “mãe de todas as manifestações” acaba como o
enredo daquela comédia de Shakespeare: muito barulho por nada.
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