Por Ricardo Rabelo, no jornal Brasil de Fato:
Fernando Morais é um dos jornalistas mais engajados
politicamente no Brasil. Nascido em 1948, na cidade mineira de Mariana, fez
carreira em São Paulo atuando nas redações do Jornal da Tarde, da Veja, da
Folha de S. Paulo e da TV Cultura. Nessa entrevista, ele confirma que não vai
mais escrever biografias. “Dá muito trabalho e pouco dinheiro. Assim que
terminar o livro que estou escrevendo sobre o ex-presidente Lula, penduro as
chuteiras”, assegura. Fernando fala ainda sobre vários temas: política, governo
Dilma, regulação da mídia, marco civil da Internet, espionagem americana e
utopias.
Você acha que Dilma fez um bom ou mal governo?
Fez, sim, um ótimo governo. Tenho objeções pontuais com
relação à descontinuidade de políticas importantes implantadas por Lula, como a
política externa e a democratização da aplicação dos recursos de publicidade
das empresas estatais.
A mídia conservadora é desonesta?
Toda generalização é perigosa. Eu diria que muitos veículos
da mídia conservadora se converteram em partidos políticos. Disfarçados, mas
partidos políticos. Mas acho que devemos tratar de maneira diferente os
veículos de papel daqueles que são fruto de concessão pública. Não devemos
perder de vista que a imprensa está sempre a serviço dos interesses e da ideologia
de quem paga as contas no final do mês. Seja em Washington, em Havana, no Rio
ou em Beijing. No caso dos meios eletrônicos de comunicação, como o rádio e a
TV, no entanto, é preciso ressaltar que se trata de uma propriedade social, uma
concessão pública que não pode, por exemplo, ser colocada a serviço de
interesses antinacionais.
O que pensa sobre a regulação da mídia?
Sou e sempre fui a favor. Jornais, revistas e TVs vêm
envenenando e confundindo a opinião pública ao associar regulação à censura.
Regulação, como existe em outros países, é impedir propriedade cruzada: quem é
dono de concessão de TV não pode ser concessionário de rádio nem dono de jornal
e revista; é proibir parlamentares e seus parentes de enésimo grau de serem
concessionários de rádio e TV; é discutir com a sociedade a renovação das
concessões de rádio e TV. Nada de censura.
Como vê a regulação da mídia na Argentina?
O modelo da Argentina foi muito bem sucedido. Lá a Ley de
Medios atacou fundo a propriedade cruzada. O império encabeçado pelo jornal
Clarín foi obrigado a se desfazer de ativos para continuar sendo concessionário
de meios eletrônicos.
A grande imprensa age como quarto poder?
Não. Age como partido político. Meio envergonhada, porque
não tem coragem de assumir isso, mas age como partido político. De direita.
O que pode ser feito para incentivar a pequena imprensa?
Primeiro que ela seja boa, legível e que traga notícias que
são escamoteadas pela grande imprensa. As medidas implantadas pelo ministro
Franklin Martins, no governo Lula, pulverizando as verbas de publicidade
estatais entre milhares e milhares de veículos – verbas que antes eram
destinadas apenas à mídia conservadora - foram uma transformação importante na
democratização das comunicações.
Como viu a espionagem americana revelada recentemente?
A bisbilhotice planetária por parte dos Estados Unidos é
mais velha que a Sé de Braga. No final dos anos 90, quando o FBI prendeu cinco
cubanos na Flórida, condenando-os a penas enormes (um deles pegou duas
perpétuas), Fidel Castro reagiu: “É assombroso que os Estados Unidos, o país
que mais espiona no mundo, acusem de espionagem justamente a Cuba, o país mais
espionado do mundo. Não há chamada telefônica minha para qualquer dirigente
político no exterior que não seja captada e gravada por satélites e sistemas de
escuta dos Estados Unidos”.
Qual será o papel de Lula nestas eleições?
A presença de Lula na campanha será importante não só porque
ele se converteu na mais expressiva liderança popular do Brasil. O governo
Dilma é a continuação do seu governo. Tenho acompanhado o ex-presidente em suas
andanças pelo Brasil e pelo mundo, como parte do trabalho de campo de um livro
que escreverei sobre ele e seu governo. Nas eleições municipais de 2012 a
presença dele em palanques regionais arrebatava multidões e alterava as
pesquisas de opinião locais. Ter o apoio de Lula é um handicap (vantagem)
cobiçado por todo candidato de esquerda.
Confere que não vai mais escrever biografias?
Confere. Como dizem os tucanos, cansei. Dá muito trabalho e
pouco dinheiro – ao contrário do que imagina o Roberto Carlos. Assim que
terminar o livro que estou escrevendo sobre o ex-presidente Lula, penduro as
chuteiras.
Quais são seus projetos?
Estou desenvolvendo com o cineasta Claudio Kahns um canal
internacional de notícias para a internet. Vamos ver se dá certo.
Tem alguma utopia?
A de sempre: a construção do socialismo.
* Leia a entrevista na íntegra no site: www.bafafa.com.br
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