Existe no Brasil uma estratégia muito bem articulada com os
setores conservadores da sociedade que contam com o apoio da grande imprensa
para preparar o retorno dos neoliberais ao poder. Entretanto, o discurso
utilizado contra a presidenta Dilma Rousseff e seu partido, o PT, parece não
encontrar o eco necessário junto à maioria da população, hoje muito mais
politizada e menos manipulável.
Por Marilza de Melo Foucher*, no Correio do Brasil
O desespero se ampara nos conservadores brasileiros, que
esperavam a derrota da seleção brasileira e apostavam no fracasso total da Copa
do Mundo de futebol. O movimento Não Vai Ter Copa saiu de campo com a bola
furada! A campanha orquestrada no plano internacional para desacreditar o
Brasil foi logo desmascarada. O principal motor do aquecimento da campanha
presidencial da oposição falhou. Todavia, ela não desarmou sua fortaleza, e
tudo já está preparado para a guerra política. No momento em que se aproxima a
data da abertura oficial da campanha presidencial, o debate político vai se
intensificar, todavia, a tendência é de se denegrir a política.
Pelo visto, esta campanha anuncia-se como a mais violenta da
história da política brasileira. Possuídos pelo sentimento de ódio, os
representantes da direita, da elite conservadora perderam a capacidade do
raciocínio político. Dificilmente forjarão argumentos para entender porque
perderam três eleições presidenciais. Dificilmente esta ala reacionária da
direita entenderá porque um partido político como o PT chega ao poder liderado
por um operário metalúrgico que, sem maioria para governar, chega a compor com
partidos ditos de direita e do centro e cria uma aliança estratégica com o
poder econômico e financeiro simplesmente para salvar o país da bancarrota.
Patriotismo econômico? Diriam alguns… Como este pequeno operário e sua equipe
conseguiram governar um país de dimensão continental dentro das normas republicanas,
sem grandes conflitos que pudessem paralisar o funcionamento da democracia?
Como negar que o Brasil saiu da periferia para ser um ator
influente na cena internacional graças aos governos de Lula e Dilma? Na certa,
os artesãos de um mundo para todos estão conscientes do papel que o Brasil pode
jogar diante de um planeta multipolar. Todos esses avanços perturbam a
estratégia política dos conservadores de direita no Brasil.
Dar respostas coerentes com instrumentos pertinentes de
análises política e econômica será quase impossível para aqueles que não se
renovaram politicamente. Isto é fácil de observar, tendo em vista que no plano
ideológico o discurso dos adversários de direita é retrógrado e não corresponde
mais à evolução do pensamento político face ao desafio de um mundo multipolar.
Talvez, o melhor fosse dizer que existem hoje, no Brasil,
velhas direitas e esquerdas inovadoras que buscam alternativas num modo de
governar face à predominância do modelo neoliberal mundial. Esse tipo de
“esquerda tropical”, por exemplo, a que governa o Brasil nesses últimos 10 anos
foge de todos os critérios de enquadramento ideológico que lhe quer impor o
campo da velha direita herdeira da Casa Grande e Senzala. Os reacionários desta
direita rançosa que defendeu a ditadura no Brasil contra o ‘perigo vermelho’,
até hoje continua a promover um anticomunismo primário que integram suas mentes
afetadas por uma visão simplista, reducionista que eles têm do Bem e do Mal.
A esquerda na América Latina com rara exceção, é uma esquerda
que renunciou a transformar a sociedade pela via revolucionária, preferindo
transformá-la pela via democrática que incentiva a participação social. Ao
mesmo tempo em que tenta conciliar um modelo de desenvolvimento mais
igualitário respeitoso dos direitos humanos. Trata-se de uma esquerda que não é
contra a economia de mercado, todavia, tenta criar uma economia mais solidaria.
Incentiva as empresas privadas a investir em obras publica optando por
parcerias com o Estado.
O Estado sob os governos de Lula e Dilma se definiu como um
Estado regulador e promotor da inclusão social. Vale ressaltar que apesar da
maioria de brasileiros ter dado preferência aos candidatos do PT nesses,
últimos anos, isto não quer dizer que as forças reacionárias e conservadoras
tenham diminuído no Brasil. Ao contrário, a ala conservadora se revigora e
surge, hoje, muito mais articulada e muito mais perigosa. Eles serão capazes de
investir todos os meios necessários para impedir um novo mandato para a
presidenta Dilma. Hoje a direita busca aliados até no campo da esquerda da
esquerda, nos extremos. Uma direita que sem argumentos e sem proposta
alternativa aposta no desgaste dos 10 anos de governos do Partido dos
Trabalhadores. Repetem em bloco que o PT e Dilma são responsáveis por tudo de
mal que aconteceu no Brasil, inclusive do vírus da corrupção que contaminou
todas as instâncias do poder e que persiste há séculos no Brasil!
Dotados de amnésia política, esquecem que eles estiveram
ocupando todos os poderes durante varias décadas, eles não somente compraram
votos para a reeleição do FHC, mas assaltaram as riquezas nacionais vendendo as
grandes empresas públicas, privatizando as riquezas do solo e subsolo a preços
abaixo do mercado. Eles praticaram uma política de depreciação do patrimônio
nacional. Se eles tivessem permanecido por mais um mandato a Petrobras seria
privatizada como foi a Vale do Rio Doce!
Apesar do bombardeamento mediático vai ser difícil suprimir
da memória de um povo a crise econômica, a agravação das desigualdades sociais,
da miséria urbana e rural vivida por milhões de brasileiro nos períodos faustos
da ideologia neoliberal defendida pelo PSDB e aliados.
Levar uma discussão a fundo sobre os resultados dos
programas tanto econômico como social dos governos do PT e aliados é uma tarefa
difícil para uma oposição rancorosa e movida pelo ódio.
A direita no Brasil tem um magro balanço apesar de quase um
século controlando as rédeas de todos os poderes no Brasil. Esta nunca se deu
conta que uma sociedade desigual engendra violência e acumula problemas
sociais. Daí o descaso que sempre tiveram no tratamento da exclusão social.
Basta ler e escutar o que diziam a respeito da Bolsa Família…
Para eles o Bolsa família era a “Bolsa Esmola”, era um
programa puramente clientelista. Depois que a ONU considerou o programa como o
melhor exemplo a ser seguido de política pública de distribuição de renda no
mundo, eles passaram o formatar um novo discurso.
Nesse contexto, parece oportuno destacar a importância de
políticas públicas voltadas ao combate à pobreza e às iniquidades durante os
governos de Lula e Dilma. Apesar de todos os investimentos, o atraso acumulado
durante séculos fazem com que os índices de desigualdades no Brasil ainda
continuem elevados Sabe-se que as desigualdades geram uma sociedade enferma,
sem auto-estima, inclusive depressiva. Um dos indicadores do sucesso dos
programas de inclusão social realizados pelos governos de Lula e Dilma é
justamente o aumento da auto-estima nas camadas pobres.
O dilema da velha direita será de argumentar com velhas
receitas que o neoliberalismo continua sendo a melhor via para governar o
Brasil.
A presidenta Dilma, mesmo sendo criticada pela oposição de
esquerda, talvez tenha mais capacidade para propor mudanças para seu segundo
mandato do que a velha direita e seus aliados. Estes conservadores têm um
passado e um presente comprometido com a filosofia e ideologia neoliberal.
Para os adeptos do neoliberalismo o Estado deveria ser
privatizado perdendo seu papel de regulador econômico e social. Como denunciar
a falta de serviços públicos quando eles sempre defenderam a privatização?
O que está em jogo hoje é um projeto de sociedade baseado
numa nova concepção de desenvolvimento que leve em conta a dimensão humana e os
desafios ambientais. A crise econômica relegitimou o papel do Estado, todavia,
urge agora uma redefinição no modo de intervir no desenvolvimento territorial
brasileiro levando em conta o potencial sócio-econômico-cultural e a
diversidade de nossos ecossistemas. A referência “desenvolvimentista” baseada
numa concepção puramente economicista não é suficiente para reduzir os
desequilíbrios regionais, diminuir as desigualdades no meio rural, ou melhorar
as condições de vida em nossas cidades.
*Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e
correspondente do Correio do Brasil em Paris.
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