Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
Depois de junho, há sempre um… agosto. Sim, é como se este
agosto de 2014 fosse a continuação inexata e algo surpreendente daquele junho
de 2013 – que levou milhares às ruas.
O nome de Marina Silva não foi gritado nas ruas em junho de
2013. Não. Aquele foi um movimento inorgânico, um sintoma de que a grande
mudança social operada no Brasil dos anos Lula havia gerado contradições quase
insanáveis. E que o petismo estava mal preparado para lidar com elas.
Os manifestantes berravam contra a política em 2013 : “fora
os partidos”, gritavam muitos jovens de junho. Ninguém me contou, eu vi nas
ruas. Aquela foi uma miscelânea: justas reivindicações progressistas, lado a
lado com o grito fascista de gangues - que surravam qualquer um de camisa
vermelha pelas ruas. Isso foi junho de 2013. Eu vi. Ninguém me contou.
Dilma fez a leitura correta de junho. Foi à TV e propôs a
Reforma Política – reconhecendo a esclerose de um sistema político dominado
pelo peemedebismo que gera asco entre jovens e velhos, entre conservadores e
esquerdistas. A única forma de derrotar a “não política” é com mais política…
Mas o PMDB e o tucanato, o conservadorismo bacharelesco e
seus aliados midiáticos, juntos, barraram Dilma. A Reforma foi enterrada, a
presidenta capitulou, não enfrentou o debate. Achou que seria possível adiar
tudo para um segundo mandato.
O mais irônico é que, apesar do governo mediano, que não
empolga, tudo parecia seguir o roteiro traçado pelos marqueteiros e
estrategistas de Dilma. No início de agosto de 2014, dentro da campanha tucana,
começava-se a acreditar que Aécio não teria mesmo força pra deslanchar: ficava
claro que o PSDB e mesmo Eduardo não conseguiriam empunhar a bandeira da
“mudança”.
Dilma preparava-se para ganhar um segundo mandato,
percorrendo uma passagem estreita, sobrevivendo ao mal-estar de junho e a seus
erros. A Copa não fora o desastre previsto. A Economia tinha problemas, mas com
os tucanos poderia ser até pior – reconheciam muitos. A avaliação popular do
governo começava a melhorar.
Exatamente aí veio o 13 de agosto. No avião em que estavam
Eduardo e seus assessores, naquela manhã terrível em Santos, estava também uma
conjuntura política que não se vai refazer. Aécio e sua tentativa de “tucanismo
renovado” caíram no avião, com Eduardo. A estratégia dilmista de ganhar sem
disputa, quase sem política, também se esfacelou com o avião.
A velha UDN vai embarcar no voo solo de Marina? Leia mais
aqui.
O IBOPE mostra Dilma com 34%, Marina com 29% e Aécio com
19%. Números forçados? Na margem de erro? Quem sabe… Mas o fato é que Marina
Silva emerge de agosto como a favorita para vencer. Aécio se esborracha, e
Dilma embica para baixo. Não está escrito nas estrelas que Marina vencerá. Mas
ela é favorita. Não se deve brigar com os fatos.
Há – sim – certo temor (nas elites e nos setores orgânicos
de trabalhadores) diante de uma candidata que mistura um discurso de defesa
ambiental com um moralismo tosco e perigoso. Há a desconfiança diante de uma
candidata que tem a cara de junho, ou seja: pode ser tudo e nada ao mesmo
tempo. Só que o cansaço com 20 anos de PSDB e PT parece ser maior ainda.
Desde que soube que o avião tinha caído, uma intuição me fez
afirmar aos amigos mais próximos: a eleição caiu no colo da Marina. Ela só
perde se errar muito. Ela só perde se o PT, Dilma e Lula fizerem (muita)
politica em vez de terceirizarem a eleição para João Santana. O marqueteiro faz
belos programas. É um craque. Mas isso não ganha eleição.
Ok, o IBOPE pode ter forçado a mão. Dilma pode ter dois
pontos a mais, Marina e Aécio dois a menos. Ainda assim, o quadro não mudaria
tanto.
Contradições do marinismo devem ser expostas ao país. Ainda
assim, mesmo que a ex-ministra fique com algo em torno de 25% e Dilma se
consolide com 37% ou 38% no primeiro turno, ainda assim, Marina será favorita
no turno final.
“O espírito do tempo favorece Marina”, escreveu um sábio
leitor no twitter (@xandebueno).
Depois de todo junho, há um agosto. Mas o messianismo de Marina
(ah, a mão de Deus) não precisa confundir os brasileiros. Nem fazê-los crer que
o destino quis assim. Não. Depois de agosto, há setembro e outubro para que o
Brasil decida se – pela terceira vez na história (depois de Jânio e Collor) -
vai apostar numa liderança política que finge não fazer política.
Junho (2013) foi política em estado bruto, gente fazendo
política nas ruas, mas berrando contra a política. Agosto (2014) parece ser a
continuação desse engano. Há tempo de desfazer o engano? Pouco tempo.
Só a Política de outubro, na boca da urna, pode desfazer os
enganos de junho e agosto. Só a Política pode evitar um mergulho que seria não
rumo ao desconhecido, mas rumo a uma história que conhecemos tão bem.
2014, seu outro nome é 1960? Veremos em breve.
Altamiro Borges: Com Marina, "não política" ganha
rosto
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