Autor: Fernando Brito
O publicitário Hayle Gadelha – que, apesar de marqueteiro, é
um caráter de primeira – preparou, a partir das reflexões do professor Roberto
Moraes, e manda-me uma análise da distribuição do eleitorado entre Marina Silva
e Dilma Rousseff, tomando por base os números do Ibope, que a ele também
fizeram franzir as sobrancelhas.
Mas, vá lá.
Reparem que curioso: os índices de Marina, além da esperada
vantagem entre os evangélicos, são muito maiores entre os brancos e os de
melhor renda.
Ela, a candidata que se definiu como negra ao TSE e tem
origem pobre.
Embora eu não creia que seu crescimento vá se consolidar,
por suas próprias fraquezas intrínsecas, a começar da notória incapacidade de agregar de Marina e pelo
embrulho em ela que se meteu nessa
aliança “programática” com Eduardo
Campos, é sintomática a sua “adoção” por parcelas expressivas da classe média que ascendeu com Lula e
seguiu assim com Dilma.
Deixo que Gadelha, mais tarde, no seu blog, comente esta
distribuição eleitoral.
Fixo-me nisso: a dificuldade do PT – menos que a de Lula, aliás – em politizar a questão
econômica.
Na desídia ou negligência da esquerda em associar a ascensão
social ao desenvolvimento nacional e a um projeto de país autônomo.
Porque a direita sempre
agita a ideia dos cortes de gastos e da entrega do país como caminho do
progresso, um progresso que traga a modernidade (para ela), embora isso não
tenha feito senão alienar o país e
aprofundar nossos abismos sociais.
Em 2006 e em 2010, sem sombra de dúvidas, o discurso
nacionalista esteve no centro do enfrentamento com o PSDB.
Embora não fosse da tradição petista, foi ele o cerne da
decisão política da população em dar continuidade ao projeto político
personificado por Lula.
Parece-me que há uma inibição incompreensível em voltar a
este tema, agora aparentemente limitado pelas dificuldades econômicas que
reduzem este discurso a um “o Brasil está preparado para crescer”.
E crescerá com o discurso que nos sugere Marina Silva?
Ela segue desfilando sua beatitude sem ser cobrada de
respostas objetivas, diretas.
Ela quer manter o controle estatal sobre o petróleo, que
agora – com o pré-sal – tem tudo para
ser uma das molas do nosso progresso econômico? Ou irá adotar o discurso de que
“é sujo, é poluente” enquanto os países ricos o queimam a rodo?
Vamos investir, com responsabilidade e firmeza na ampliação
de nossa capacidade de gerar energia hidrelelétrica ou vamos acender velas?
Abriremos estradas, portos, ferrovias ou nos paralisaremos e
vamos nos desenvolver com “a confiança dos investidores”, naturalmente
alimentados por ganhos itaúticos?
Não se debate, nestas eleições, ao contrário do que se
debateu em 2006 – pela negativa à privatização – e em 2010, pela esperança de
Brasil, um projeto de nação.
Vocês notaram que as propostas de Marina Silva, além de
repetirem a lenga-lenga neoliberal na economia (“tripé”, “autonomia do BC”,
etc) não vão a lugar nenhum?
Até porque prometer mais e melhor educação, saúde, segurança
e respeito ao meio-ambiente, desde que me entendo por gente, nunca deixou de
estar na campanha de qualquer candidato.
Marina foca sua
proposta no diálogo. Muito bem, mas sobre o quê?
E em que ambiente se desenvolveria este diálogo, sob os
apetites de um Congresso sedento ante um governo sem forças próprias e de uma
mídia cuja submissão ao financismo beira a vassalagem?
Essa é a opção que será feita, mas que não está sendo
compreensivelmente explicada à população.
A história da prioridade ao “diálogo” e do “há gente boa em
todos os partidos” é como aquelas “comissões de alto nível” que se nomeia
quando se quer chegar a lugar algum.
O conservadorismo brasileiro precisa não de um governo que
faça, mas de um governo que não faça.
Porque, não fazendo, tudo se conserva como está e está,
naturalmente, bom para quem está ganhando e dominando.
Como resumiu Diego Mainardi, hoje, é preciso mudar os
bandidos.
Só o que ele não diz é que isso é necessário para que o
crime continue a ser praticado.
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