É até crível que a ex-senadora, já conhecida do eleitorado,
apareça com percentuais mais altos do que Campos. Mas esta pesquisa feita ainda
sob a comoção da tragédia contém contradições 'esquisitas'
por Helena Sthephanowitz
Ainda é cedo para a grande mídia festejar os números
divulgados pelo Datafolha sobre a candidatura Marina
O Datafolha foi rápido no gatilho. Mal saíram as notícias da
morte de Eduardo Campos, no mesmo dia 13 registrou pesquisa de intenções de
votos com o nome de Marina Silva no lugar do candidato do PSB. Os questionários
foram aplicados na quinta e sexta-feira (14 e 15), sob a comoção da tragédia.
A sondagem registrou Dilma Rousseff e Aécio Neves com
números exatamente iguais à última pesquisa do Datafolha – 36% e 20%,
respectivamente. Sequer oscilaram dentro da margem de erro. Marina Silva surge
com 21%, em empate técnico com Aécio.
Se Marina não tirou votos de Dilma e Aécio, de onde vêm as
intenções de votos nela bem maior do que os 8% que Campos tinha? Segundo o
Datafolha, vieram dos votos nos chamados nanicos, que caíram de 8% para 5%, dos
brancos e nulos, que caíram de 13% para 8%, e dos indecisos, que caíram de 14%
para 9%.
É crível que Marina ostente percentuais mais altos do que
Campos, porque ela já era mais conhecida e pelo menos parte dos 19,6 milhões de
pessoas que votaram nela em 2010 poderiam votar de novo. Mas é preciso aguardar
outras pesquisas, pois esta contém contradições esquisitas.
Primeiro, a aprovação do governo Dilma subiu 6 pontos, a
rejeição oscilou para baixo, e as intenções de votos espontâneas na atual
presidenta oscilaram para cima e, mesmo assim, o Datafolha registrou os mesmos
36% de intenções de voto na sondagem estimulada que Dilma tinha em julho.
Segundo, é estranho Marina retirar votos de candidatos
"nanicos" e não retirar nenhum ponto de Aécio Neves dentro do
eleitorado oposicionista.
Terceiro, na pesquisa espontânea, quando simplesmente
pergunta em quem votará sem apresentar uma relação de nomes, Dilma aparece com
24% e Aécio com 11%, mais da metade do que tem na sondagem estimulada. Marina
aparece com 5% na espontânea e quatro vezes mais na estimulada. Isso indica que
as intenções de votos da petista e do tucano são mais firmes e, da candidata do
PSB, mais incertas. Indica que o cidadão pesquisado pode estar respondendo
ainda sem refletir o suficiente a respeito.
Quarto, o momento de comoção pela morte de um presidenciável
e a superexposição de Marina no noticiário como fato novo nas eleições
representam um ponto fora da curva em um momento favorável a ela.
Quinto, é duvidoso que Marina seja capaz de capturar tanto
assim votos brancos e nulos dos que rejeitam partidos políticos. De 2010 para
cá, Marina não usou seu capital para se engajar de fato na luta pela reforma
política. Preferiu tentar, tardiamente, criar mais um partido próprio, dentro
das regras atuais, inclusive defendendo vícios da velha política, como a
infidelidade partidária e a portabilidade de fundo partidário.
Não conseguiu reunir assinaturas suficientes para criar seu
partido, Rede Sustentabilidade, a tempo e, pragmaticamente, filiou-se ao PSB
que, hoje, tem características de frente partidária, com quadros que vão da
esquerda de Roberto Amaral a oligarquias de direita como a família Bornhausen
de Santa Catarina.
À medida em que a dinâmica da campanha ocorrer com Marina
candidata de uma frente de seis partidos convencionais (PHS / PRP / PPS / PPL /
PSB / PSL), mantendo as coligações estaduais, e aparecendo em fotos com velhos
caciques políticos, ela será capaz de capitalizar tanto assim os votos da
antipolítica?
Sexto, Marina ainda não enfrentou a troca de chumbo que
outros candidatos enfrentam. A ameaça de retirar Aécio Neves do segundo turno
já provocou reações na mídia atucanada, como críticas a atos e gafes no velório
de Campos, capacidade administrativa, questionamento sobre quem a sustenta e
sobre algumas de suas opiniões acerca de meio ambiente, política econômica etc.
Se o Datafolha em sondagem de primeiro turno já traz
desconfianças em sua validade, mais dúvidas despertam ao testar cenários de
segundo turno. Marina e Dilma estariam em empate técnico, com vantagem para a
primeira de 47% contra 43%. É no mínimo curioso Dilma subir de 36% para 43%
enquanto Marina subiria de 21% para 47%. Para Marina subir tudo isso precisaria
capturar todos os votos que iriam para Aécio Neves e em todos os nanicos e mais
1% de indecisos ou nulos no primeiro turno.
Outra inconsistência é o número de brancos/nulos/indecisos
cair de 17% na sondagem de primeiro turno para 10% na de segundo turno. O
número é contraditório. Quem diz não votar nem em Dilma, nem em Marina, nem em
nenhum outro candidato no primeiro turno, não votaria em nenhuma das duas no
segundo turno. Quem se diz indeciso no primeiro turno, nem adianta perguntar em
quem votaria no segundo. Essas contradições baixam muito o valor científico de
uma pesquisa que deveria representar uma amostra do eleitorado.
Houve uma verdadeira euforia na mídia oposicionista ao
governo federal, desde o acidente, para pressionar o PSB a lançar Marina Silva
e forçar haver segundo turno. A pesquisa em um momento inadequado, devido à
comoção, parece interessar a este propósito. Mas nem precisava, pois Marina
tornou-se a candidata natural do PSB, ainda que a contragosto de muitos, pois o
partido não tem nenhuma outra liderança com projeção nacional. Só a própria
Marina poderia inviabilizar seu nome, se colocasse obstáculos intransponíveis
ao PSB .
Terça-feira (19) inicia a campanha eleitoral na TV.
Pesquisas a partir do início de setembro, já decorridas duas semanas de
propaganda televisiva, devem captar melhor a tendência do eleitor, tanto na
eleição presidencial como na de governadores.
Mesmo assim, principalmente em alguns estados, até a hora de
se fazer a pesquisa de boca de urna, espera-se haver mudanças de posições,
porque as próprias pesquisas tem indicado pouco ou nenhum interesse nas
eleições pela maioria do eleitorado, o que pode levar muitos a decidirem de
fato seu voto na véspera do pleito.
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