Por Altamiro Borges
Na disputa presidencial de 2010, Marina Silva, então ainda
verde, cumpriu seu papel e quase não foi atacada. Ela nunca ameaçou o tucano
José Serra e ainda o ajudou a chegar ao segundo turno. Agora, porém, ela
atropelou o cambaleante Aécio Neves. Contou com o chamado recall da campanha
anterior, com a comoção criada pela morte de Eduardo Campos e também com a
escandalização da política patrocinada pela mídia. A reação foi imediata: o
tucano apavorado passou a cutucá-la e um setor da mídia, arrependido do tiro no
próprio no pé, também decidiu fustigá-la. Diante dos ataques, a agora
competitiva Marina Silva – que talvez se ache fruto da “providência divina” –
se faz de vítima. Mas é puro fingimento!
Neste domingo (7), em coletiva à imprensa, ela afirmou que
“o PT e o PSDB estão irmanados na determinação de nos destruir, não importam os
meios... É impressionante a mobilização de exércitos de propagadores de
calúnias, mentiras e distorções nas redes sociais”. Só faltou fazer como o
censor Aécio Neves e processar os ativistas digitais. Ela voltou a garantir que
representa a “nova política” e que não fará “alianças com as velhas raposas”.
Aproveitando a onda midiática, ela ainda disse que a Petrobras está sendo
“destruída pelo apadrinhamento e a corrupção” – mas não aceitou a lembrança de
que o nome de Eduardo Campos também surgiu na tal “delação premiada” de Paulo
Roberto Costa, ex-diretor da estatal.
A "metamorfose ambulante"
Mas não adianta Marina Silva posar de santa e pura. Ela
agora é vidraça e será alvo de críticas – algumas de baixo nível; outras bem
consistentes. Ela precisará explicar, por exemplo, a sua postura volúvel. Por
que num dia ela defende os direitos homossexuais e, no outro – a partir de
quatro tuites do pastor Silas Malafaia –, ela muda de opinião? O motivo é
meramente eleitoreiro, na caça dos votos evangélicos, ou é pelo mais tacanho
fundamentalismo? Por que ela recuou na proposta de revisão da Lei da Anistia?
Foi para acalmar os “milicos de pijama” saudosos da ditadura? Por que ela
sinaliza que pode ceder às demandas dos barões do agronegócio? Esta
“metamorfose ambulante” seria a marca da “nova política”?
Ela também deverá explicar porque encanta tanto os agiotas
do capital financeiro. É por que ela tem no comando da sua campanha figuras com
sólidos vínculos com os banqueiros – como Neca Setubal, herdeira do Itaú,
Eduardo Giannetti e André Lara Resende? Ou é por que ela defende, abertamente,
os interesses dos rentistas, como a autonomia do Banco Central e o receituário
neoliberal dos juros altos, austeridade fiscal e total libertinagem cambial? Ou
por ambos os motivos? O que mais Marina Silva prometeu aos especuladores do
capital financeiro? E sobre a política externa? Ela já andou atacando o
“bolivarianismo” na América Latina. Defenderá o “alinhamento automático” com os
EUA, como fazia FHC?
O convívio com as "velhas raposas"
Além destas questões mais programáticas – tão distantes da
pragmática candidata –, outras pedras aparecerão no seu caminho. Marina Silva
se traveste de algo novo na política, mas já atua neste terreno há mais de 30
anos. Foi senadora, ministra do Meio Ambiente, candidata em 2010 e novamente
agora. Neste período, ela já passou por quatro partidos – do PT para o PV, da
tentativa frustrada de criação da Rede para a carona no PSB. Ela também diz que
não tolera “velhas raposas da política”, mas está ao lado de Paulo Bornhausen e
Heráclito Fortes, ex-demos convertidos ao “socialismo” do PSB. Agripino Maia,
chefão do DEM e da campanha de Aécio Neves, inclusive já antecipou que vai
apoiá-la no segundo turno.
Por último, Marina Silva também terá que enfrentar denúncias
no campo da ética. Ela, que adora posar de moralista, não está imune a estas
críticas. Até hoje, por exemplo, ela não deu qualquer explicação sobre o
jatinho fantasma que servia à campanha do PSB – e no qual a candidata viajou
várias vezes. Ela diz, inocente e pura, que não sabia de nada! Também não
explicou a estranha hospedagem num imóvel cedido em São Paulo por um fazendeiro
filiado ao DEM. Ainda não declarou quem foram as pessoas físicas e jurídicas
que bancaram R$ 1,6 milhão em suas palestras. E nem comentou a recente denúncia
de que o seu marido, Fábio Vaz, responde a um processo por improbidade
administrativa.
Em 2010, Marina Silva era pedra e não assustava. Agora, ela
é vidraça. E não adianta se fazer de vítima!
*****
Leia também:
0 comentários :
Postar um comentário