Dilma enfrenta e derrota golpistas
Da Rede Brasil Atual:
Foi uma vitória maiúscula. A reeleição de Dilma Vana Rousseff (PT)
escreve muitos capítulos inéditos e carrega uma força simbólica que, se
não é maior que a das demais disputas vencidas pelo PT no plano federal,
é única. A mulher nascida em Belo Horizonte em 1947 mais uma vez deixa
de joelhos, boquiaberta, a repressão que lhe tentou cassar os direitos
políticos.
Se havia alguma dúvida de que esta era uma eleição do
candidato do sistema patriarcal brasileiro contra todo o resto, a
edição do Jornal Nacional na véspera eliminou qualquer margem de
ingenuidade. Jornalismo mandou lembrança, William Bonner. Dividida entre
interesses públicos e privados, a emissora dos Marinho atendeu
novamente a seu chamado de classe ao exibir reportagem sobre supostas
denúncias de que Dilma e Luiz Inácio Lula da Silva teriam ciência de um
esquema de pagamento de propinas utilizando verbas da Petrobras.
Tentou um desfecho sujo para uma temporada eleitoral eleição suja. Sob o
pretexto de um “ataque” à sede do Grupo Abril, o Jornal Nacional
dedicou seis minutos a narrar a “denúncia” da revista Veja, uma
publicação que nunca esteve tão à altura da alcunha de “mídia golpista”.
Lá pelas tantas aparecia a figura de Aécio Neves, candidato do PSDB
dado a vitórias no tapetão. Fosse tão ético quanto jura ser, o tucano
teria se recusado a ecoar uma reportagem feita com base num depoimento
inventado – seu suposto autor, o doleiro Alberto Youssef, desmentiu que
tenha feito as declarações difundidas pela publicação semanal.
Mas Aécio, a exemplo do Jornal Nacional, atendeu a seu DNA de classe,
uma elite financeira que há muito chegou à conclusão de que vale
qualquer coisa para tirar o PT do poder. Têm razão as pessoas que
comparam essa disputa com a de 1989. Não pelo acirramento, nem pelo
embate ideológico, mas pela tentativa da Globo de se fazer protagonista
de um pleito do qual não é partícipe – ou, legalmente, não o é.
A divulgação de reportagem contra Dilma na véspera da eleição não se deu
ao acaso: a “denúncia” já era de conhecimento público na véspera,
quando os Marinho não a quiseram levar ao ar. Não quiseram por um motivo
óbvio: a presidenta teria tempo de apresentar sua versão no debate
daquela noite ou de buscar direito de resposta no Tribunal Superior
Eleitoral, como o obtido contra a Veja.
A última edição do Jornal Nacional antes das eleições não pode ser
enxergada fora de contexto. São 12 anos de bombardeio, quatro em
particular, 2014 em particularíssimo. A vitória de Dilma não é uma
derrota apenas de Aécio e do PSDB. É da mídia tradicional, que investiu
até o último grama de força para bater no PT, chegando ao ponto da
desestabilização da democracia. É do mercado financeiro, que nos últimos
três meses praticou um rally eleitoral e encontrou no tucano um
porta-voz de sua vontade de ter um governo que deixe a especulação comer
solta. É de Marina Silva e do PSB, que, sob o pretexto da não
neutralidade maltrataram suas histórias e alinharam-se à força
neoliberal que tanto combateram. É do ódio visceral a um partido, de um
sentimento mais vomitado e gritado do que explicado.
É de todo um sistema repressor da democracia. O segundo turno clareou o
que estava em jogo. De um lado alinharam-se movimentos sociais
comprometidos com avanços, centrais sindicais em busca de melhorias para
a vida do trabalhador, partidos que carregam no histórico a tentativa
de transformação do país. De outro estiveram meios de comunicação a
serviço da especulação financeira, representantes de segmentos
fundamentalistas apavorados com qualquer avanço social, partidos que
carregam no histórico a marca do elitismo e da divisão de classes.
A vitória de Dilma, por isso, jamais poderá ser entendida como um
sucesso alcançado sozinho. É o êxito que coroa uma união de forças
progressistas. É o êxito das ideias democráticas sobre o ideário que
considera que Brasil bom é o que se divide entre pobres e ricos e que vê
como intento autoritário a proposta de ampliar a participação popular,
já que o exercício do sistema político deve se dar entre quatro paredes.
É esta corrente que a presidenta terá de encabeçar no exercício do
mandato. Se a primeira vitória foi celebrada por trazer no bojo a maior
base aliada da história no Congresso, a segunda deve ser motivo de
comemoração para a esquerda por uma rara união. União que só poderá ser
mantida mediante avanços institucionais em diversas áreas.
A reeleição da presidenta carrega o poder simbólico da foto em que
aparece, menina, com gesto imponente perante militares que representavam
a tortura e a cassação de seus ideais. Deixou a repressão de joelhos ao
sobreviver às sevícias, retomar sua militância política, se tornar
secretária no Rio Grande do Sul, ministra de Lula, presidenta do Brasil e
uma das mulheres mais influentes do mundo.
Ao longo dos quatro anos, e particularmente desde julho, foi submetida a
uma surra inesquecível. As cicatrizes, carregará para sempre. Tentarão
deixar outras marcas, buscando agora um terceiro turno que já haviam
tentado em 2010, ao tratar por ilegítima uma vitória obtida com a
superação de dificuldades, mentiras, acusações. Dilma deixou a repressão
de joelhos, mais uma vez. Não será perdoada, e terá de travar uma
batalha definitiva contra os fantasmas do passa
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