Por Altamiro Borges
Vários fatores explicam a folgada reeleição de Geraldo
Alckmin em São Paulo, apesar da falta de água, do caos no transporte público,
da violenta crise na segurança e de outras mazelas do “choque de indigestão”
tucano. O livro “Os ricos no Brasil”, organizado por Marcio Pochmann, mostra
que o Estado concentra os ricaços e a velha classe média e que estes setores se
tornaram cada vez mais elitistas e reacionários. É preciso também analisar a
ação das forças de esquerda, que partem do diagnóstico de que o eleitorado é
conservador e adotam políticas conservadoras. Mas não dá para entender a
vitória do “picolé de chuchu” sem analisar o papel nefasto da mídia hegemônica.
Na véspera do primeiro turno, em 29 de setembro, o
jornalista Mario Welber, assessor do deputado tucano Bruno Covas foi detido no
aeroporto de Congonhas com R$ 102 mil em dinheiro vivo e 16 cheques em branco
assinados pelo parlamentar. Boa parte dos paulistas nem soube deste caso. Se
fosse com um parlamentar do PT, por exemplo, fotos seriam exibidas no Jornal
Nacional da TV Globo, as rádios mercenárias não parariam de falar sobre o
escândalo e o tema estaria estampado nas manchetes dos jornalões e na capa da
revista Veja. Como Bruno Covas é um dos chefões do PSDB e foi secretário de
Meio Ambiente de Geraldo Alckmin, a notícia simplesmente desapareceu da mídia
venal.
Nos últimos meses, milhares de famílias da região metropolitana
de São Paulo convivem com a falta de água em suas torneiras. Até nos bairros
dos ricaços há racionamento. As indústrias já demitiram mais de 3 mil operários
em decorrência dos efeitos na produção. Restaurantes cessam suas atividades por
problemas de higiene. Por falta de planejamento e de investimentos, os
reservatórios do Sistema Cantareira, que abastecem mais de 8,8 milhões de
paulistas, entraram em colapso e operam no chamado “volume morto”. A mídia
venal, porém, evita tratar do assunto. Quando aborda, parece que a culpa é dos
usuários e do ‘esquerdista’ São Pedro. Geraldo Alckmin simplesmente não tem
culpa no cartório.
Há duas décadas o PSDB governa o Estado, mas a mídia
hegemônica sempre foi complacente com seus erros de gestão e até com as denúncias
de corrupção. O trensalão tucano, o bilionário esquema de propina que envolve
multinacionais do setor de transporte e secretários dos governos tucanos, é
adjetivado de “cartel dos trens” para limpar a imagem do PSDB. As denúncias dos
desvios de recursos nos pedágios, na Sabesp e em outros órgãos públicos também
são abafadas. A Assembleia Legislativa de São Paulo não consegue investigar
nenhum escândalo e sabota todas as comissões de inquérito. Mas a mídia venal,
que adora a escandalização da política e as CPIs, nada fala sobre esta
criminosa omissão.
A blindagem da mídia ajuda a explicar a reeleição de Geraldo
Alckmin. Ela nunca criticou a falta de alternância no poder no Estado. Pelo
contrário. Sempre fez campanha, aberta ou dissimulada, pela manutenção dos
tucanos no Palácio dos Bandeirantes. Ela transformou o direitista Geraldo
Alckmin num típico “picolé de chuchu”, insosso e insípido – uma nulidade
administrativa e política. Os barões da mídia paulista fazem este jogo por
motivos políticos e econômicos. Os tucanos representam o seu ideário político
e, ao mesmo tempo, garantem muita grana para sustentar os jornalões, revistonas
e emissoras de rádio e tevê com anúncios publicitários, compras de assinaturas,
cessões de terrenos e outros maracutaias.
Quando faltar água para as necessidades básicas, quando
ocorrerem panes no Metrô, quando a violência sangrar as cidades, quando o
“choque de gestão” tucano provocar ainda mais indigestão, o eleitor paulista
deve se lembrar do papel desempenhado pela mídia venal neste desgraceira!
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