Autor: Fernando Brito
A classe média deslumbrada, que quer comprar enxoval de bebê
nos EUA – como os juízes que reclamam de não poder comprar ternos em Miami –
deveria prestar atenção na terrível matéria publicada hoje em O Globo e ver
aonde a gula da medicina privada pode
chegar.
A turista canadense Jennifer Huculak-Kimmel, grávida, viajou
com o marido para passear no Havaí. Prudente, fez um seguro-saúde com a empresa
Blue Cross.
Por acaso – e possivelmente por uma infecção urinária
contraída durante a gravidez – ocorreu um inesperado estouro de bolsa e ela
teve de fazer um parto prematuro.
Até aí, algo infelizmente não muito raro e perigoso para mãe
e bebê.
Mas o “original” veio depois, quando recebeu a conta da
internação que, como é comum quando o prematuro tem muitos problemas, durou
dois meses.
A “notinha” era de “apenas” US$ 950 mil, ou R$ 2,4 milhões.
E, claro, o tal seguro saúde não a cobriu, alegando que não
fez seguro para a criança.
Deixando de lado o drama pessoal da mãe e de sua criança, é
o caso de perguntar que tipo de sistema de saúde é este?
Mercantilismo total. Extorsão sobre uma criança e uma mãe
fragilizados.
É isso o que queremos para o Brasil?
Mesmo para quem pode pagar – e paga, bem caro – por um
parto, ainda mais numa situação de emergência, será que podemos deixar que a
saúde e a vida das pessoas sejam submetidas a isso?
Claro que uma UTI neonatal é cara, mas chegar-se ao ponto de
cobrar R$ 40 mil por diária?
Pesquisem e vejam como a coisa anda por aqui. Não chega a
isso, claro, mas não vai ser difícil achar preços de R$ 4 ou 5 mil por dia, sem
contar a equipe de médicos…
Um sistema de saúde que chega a isso não é de saúde, mas de
completa doença social.
Será que isso não escandaliza os nossos médicos, que sabem
que estes valores são subsidiados pelos contribuintes, pois despesas médicas
são dedutíveis no Imposto de Renda?
É fácil chamar de escravos os médicos cubanos que vêm
trabalhar por salários modestos. Difícil é chamar de mercenários quem faz
coisas como estas com um criança recém-nascida, prematura, em sério risco de
morte.
Podem achar que são deuses. Mas só podem
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