Dr Moro, por que o Aécio de Furnas não vazou ?
O Conversa Afiada reproduz carta ao juiz Sérgio Moro de Rodolfo J. C. Vasconcellos:
Carta ao Juiz Sérgio Moro
Sinto que, se não escrever hoje, certamente, não terei mais
condições de fazê-lo, pois esse sempre quis ser um texto para homenageá-lo. E
digo isso porque, a cada dia, menos argumentos encontro na minha consciência
para sustentar a imagem de super-herói que, excepcionalmente, criei de Vossa Excelência.
Excepcionalmente porque, como adulto, nunca acreditei em
super- heróis, muito menos salvadores da pátria, pois, afinal de contas,
vivemos em um país onde o maior índice de assaltantes por metro quadrado do
mundo encontra-se justamente no nosso Congresso Nacional; que tem um Judiciário
maculado por figuras como o Juiz Federal Flávio Roberto de Souza (que se
apossou dos bens de Eike Batista), o ex-Juiz Federal João Carlos da Rocha
Mattos (já condenado por vendas milionárias de sentenças e, agora flagrado em
conta na Suíça com saldo de 60 milhões de reais), e quando a nação assiste
atônita ao 1º aniversário de um debochado pedido de vistas a imprescindível
processo com votação já praticamente decidida no STF, só para citar os casos
que estão na mídia esta semana; um país onde o Executivo está historicamente
atrelado a gangues partidárias ávidas por ministérios e seus recursos que serão
desviados em licitações com cartas marcadas; um país dominado por uma mídia
elitista, tendenciosa, sonegadora e desonesta, acostumada a ditar a agenda dos
Executivo, Judiciário e Legislativo e que, com elogios de primeira página,
cerimônias para entrega de troféus e chamadas bajuladoras nos telejornais,
valida o “alvará” que perpetua privilégios não mais em voga nos países
civilizados.
Há um ano, quase ninguém conhecia o Juiz Sérgio Moro; hoje,
praticamente, o mundo inteiro já ouviu esse nome sempre atrelado a atitudes
próprias de um paladino da moralidade ou do herói que enfrenta destemidamente
os poderosos; sempre cercado de jovens Procuradores da República e arrojados
Delegados da Polícia Federal. Passou, então, Vossa Excelência a comandar a
“nova cena” da moralidade que a maioria dos brasileiros tanto aguardava. Sem
dúvida alguma, desenhava-se, nas feições de gladiador romano das raríssimas
fotos encontradas no Google, a imagem do nosso “super-herói”.
Hoje as fotos já são inúmeras, daqui a um ano, milhares.
Mas, a figura do super-herói transitava apenas no nosso imaginário. Não deveria
nunca ter sido levada a sério por Vossa Excelência. E eu acreditei tanto…
E como era bom, adulto, voltar a acreditar em super-heróis.
Eu que sempre votei no PT para presidente do Brasil, vi finalmente em Vossa
Excelência o homem com poder para peitar velhas raposas da nossa política, com
coragem bastante para enfrentar tantas poderosas “forças ocultas”; o Juiz
determinado a varrer pra cadeia a sujeira entulhada nos gabinetes mais
prestigiados; o comandante de uma equipe aguerrida que produzia a cada dia uma
nova blitz espetacular, em reluzentes e velozes carros pretos com brasões
dourados, arrastando para trás das grades uma cambada de granfinos desonestos.
Repetia eu no Facebook: “Não ficará pedra sobre pedra” A mídia que leio
alertava todos os dias sobre o possível equívoco de uma politização nas
investigações e, não há como negar, esse fantasma, infelizmente, começou a
tomar corpo a cada novo dia.
Embora a briosa obstinação de Vossa Excelência já se arrastasse por anos, a mídia abutre
apoderou-se dela, em questão de dias, e transformou-a em sua própria esperança,
salvadora de todos os seus próprios males, deixando consigo apenas o brilho
reluzente próprio dos super-heróis salvadores da pátria O comando agora, de
fato, passara para a mídia sonegadora e desonesta, acostumada a enterrar e
ressuscitar reputações. O que era só fantasma virou bicho, atende pelo nome de ”politização” e, irremediavelmente, deixará
marcas nas investigações.
Não vou questionar aspectos técnicos porque não me cabe,
mas, explique Excelência:
1. Por que a citação do nome de Aécio Neves, pelo bandido
Youssef, ainda antes do primeiro turno das eleições do ano passado não vazou
para a imprensa, e o de Dilma vazou? Acredito que o vazamento não teve a
participação de Vossa Excelência, mas por que não tratou de reparar o prejuízo
à candidatura de Dilma Rousseff?
2.Por que o escândalo de Furnas, onde Aécio Neves foi citado
pelo mesmo Youssef desde o ano passado, não pôde ser investigado por seus
comandados; e o rombo no Sindicato dos Bancários que foi presidido por Vaccari
Neto há 10 anos pôde?
3. Por que só a família Vaccari foi conduzida,
coercitivamente, de forma humilhante, à presença de Vossa Excelência apenas
para depor, sem que houvesse algum indicativo de que se recusaria a fazê-lo,
caso fosse oficialmente convocada?
4. Por que só são libertados os que descambam,
“espontaneamente”, para a delação premiada, de dedo em riste na direção
“certa”?
5. Será mesmo que após todos esses anos vasculhando os
porões por onde transitam, preferencialmente, a burguesia representada pelos
que estão nas listas do HSBC, os sonegadores que detêm o poder sobre os meios
de comunicação, e os que se elegem através das práticas criminosas comuns a
todas as campanhas políticas desde sempre, Vossa Excelência chegou à conclusão
de que é mesmo o PT o responsável por tudo isso que está aí?… Que tudo começou
com o PT?…
Que o PT inventou o “mensalão” antes do PSDB bem como a
prática de suborno em 95% das licitações públicas em TODOS os Órgãos de TODAS
as esferas públicas? Permita-me registrar que se engana Vossa Excelência se
acredita que a militância petista, os trabalhadores mais humildes do Brasil, a
maior parte da classe artística e os pensadores mais sensíveis não querem ver,
definitivamente, este País passado a limpo de verdade. Que se engana também
Vossa Excelência se acredita que os que foram às ruas no dia 15 de março e 12
de abril são os que querem uma limpeza geral, uma reforma política de verdade e
os culpados não petistas atrás das grades.
Cheguei a publicar, no Facebook algumas vezes, que
acreditava na seriedade de Vossa Excelência e no seu empenho pessoal para não
permitir que tudo se transformasse num nauseante Circo dos Horrores, onde os
“monstros” já estão todos dedurados e marcados, aguardando a melhor hora de
serem chamados ao picadeiro para deleite da elite empoleirada em áreas nobres e
armada de panelas Tramontina, e júbilo da mídia, à beira da falência, que tem
diariamente ao seu dispor manchetes as mais variadas, mas todas elas carimbadas
com o “talvez”… O “talvez” que destrói irremediavelmente biografias, vidas,
famílias.
Ouço gritos de horror… Por isso tinha que escrever hoje,
coincidentemente, quando voltei a não acreditar em super-heróis.
Rodolfo J. C. Vasconcellos, Funcionário Público Federal SIAPE
– 1671147
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