O cenário criado após a deflagração da Operação Lava Jato é
de devastação econômica nas principais empresas que atuam nas grandes obras do
País, apontando para outro efeito devastador na desnacionalização da
infraestrutura nacional; principais empreiteiras colocam a venda concessões de
aeroportos, rodovias, portos, saneamento e estaleiros; principais interessados
são grupos estrangeiros; obras estão paralisadas sem previsão de serem
retomadas, como a duplicação da BR-153 entre Goiás e Tocantins, ou as obras do
Comperj, no Rio; gigantes da construção pesada, do setor de petróleo e gás se
deparam com portas fechadas para o acesso ao crédito; sem ter como financiar as
obras e sendo executadas por credores, as empresas estão recorrendo à
recuperação judicial; só em março, foram feitas 75 solicitações, a exemplo da
Alumini, Galvão, OAS e Schahin; juntas; as quatro empresas acumulam dívidas que
chegam a R$ 17,9 bilhões; todas já fizeram demissões, que podem chegar a 170
mil
19 de Abril de 2015 às 19:03
247 - Os desdobramentos da Operação Lava Jato, comandada
pelo juiz Sergio Moro para oficialmente combater um esquema de corrupção na
Petrobras, criaram um cenário de caos e desolação na área da infraestrutura no
País. Demissões, quebradeira nas maiores construtoras nacionais, dezenas de
obras estruturantes paralisadas e um grande feirão de concessões de aeroportos,
portos, rodovias, empresas de saneamento e de estaleiros que na prática
representam uma brutal desnacionalização da infraestrutura no País.
As empresas têm enfrentado dificuldades financeiras desde o
fim do ano passado, período em que a Petrobras suspendeu contratos que tinha
com as empresas acusadas de formar um cartel para fraudar contratos e desviar
dinheiro público.
Agora, revela reportagem da Folhadeste domingo (19), as
grandes empreiteiras brasileiras envolvidas na Operação Lava Jato estão
vendendo seus negócios estruturantes para saldar suas dívidas milionárias. A
publicação sustenta ainda que grupos estrangeiros estariam interessados em
algumas oportunidades.
A Folha cita os aeroportos de Guarulhos, Brasília e Natal,
privatizados no governo Dilma, entre as concessões à venda. A construtora
Engevix teria colocado à venda sua participação na Inframérica, consórcio que
opera os aeroportos de Brasília e Natal, por R$ 400 milhões.
A OAS teria colocado à venda os 24,4% que possui na Invepar,
concessionária do aeroporto de Guarulhos, do metrô do Rio e rodovias. A
canadense Brookfield teria interesse. A multinacional vão conceder
financiamento emergencial de R$ 800 milhões para OAS e receberão em garantia
uma fatia dos 24,4% que a empreiteira tem na Invepar.
No saneamento, podem trocar de mãos as empresas responsáveis
por serviços em 20 cidades. A Galvão Engenharia teria colocado à venda
companhias em 18 cidades. O GP Investimentos, alega o jornal paulista, chegou a
fazer proposta de R$ 800 milhões, mas o negócio ainda não foi fechado. A OAS
também estaria negociando empresas de saneamento em Araçatuba e em Guarulhos.
Os estaleiros Enseada, da OAS, e Rio Grande, da Engevix,
também entrariam no feirão da Lava Jato. As empresas enfrentam dificuldade para
seguir operando por causa dos atrasos de pagamentos da Sete Brasil, empresa
contratada pela Petrobras para construir suas sondas, mas que corre o risco de
quebrar devido ao atraso de um financiamento prometido pelo BNDES.
Grupos estrangeiros, principalmente fundos que compram
participação em empresas, estão se movimentando para analisar as possibilidades
de negócio. A Advent, uma das maiores gestoras do mundo, também chegou a fazer
propostas por alguns negócios, embora o jornal não especifique quais. A
avaliação geral é que existem boas oportunidades e que podem surgir outras, a
depender dos desdobramentos da Operação Lava Jato nas demais construtoras do
país.
"O risco é alto, mas quando teremos outro
petrolão?", disse o gestor de um fundo.
Crise
Segundo dados da Serasa Experian, somente em março deste
ano, foram feitas 75 solicitações de recuperação judicial de empresas (leia
aqui). O processo foi criado no Brasil em 2005 em substituição à concordata,
com o objetivo de dar uma segunda chance a empresas que estão em dificuldades
financeiras. Quando a recuperação é aceita pela Justiça, as execuções contra a
organização são suspensas e ela ganha fôlego para elaborar um plano para se
capitalizar e pagar suas dívidas. Os credores podem decidir se aprovam ou não a
proposta.
Sem dinheiro nem crédito para se capitalizar, a primeira
grande empresa afetada pela Java Jato a solicitar recuperação judicial foi a
Alumini Engenharia, em janeiro. A empresa atua nas obras da Refinaria Abreu e
Lima, em Pernambuco, e do Comperj, no Rio de Janeiro, e alega dificuldades para
receber R$ 1,2 bilhão por serviços prestados à Petrobras. A empresa acumula uma
dívida de R$ 923 milhões.
No total, a empresa emprega cerca de 6 mil trabalhadores. No
Comperj, as obras ficaram paradas desde o dia 7 de janeiro. Em Pernambuco, os
problemas começaram ainda em 2014 e cerca de 4.800 trabalhadores foram à Justiça
para reivindicar salários atrasados, rescisões e outras verbas.
Além da Alumini, a Jaraguá Equipamentos Industriais, de
Sorocaba (SP), também entrou com pedido de recuperação judicial, que foi aceito
pela Justiça em julho do ano passado. A empresa já apresentava problemas
financeiros nos primeiros meses da Lava-Jato e acumulava dívidas de R$ 500
milhões.
Galvão não tem como tocar duplicação da BR-153
O Grupo Galvão teve seu pedido de recuperação judicial
aprovado pela Justiça do Rio no fim de março. Grupo empresarial comandado por
Dario Galvão, preso pela Policia Federal na Lava Jato, alega não ter capital
para tocar as obras de duplicação da rodovia BR-153, entre Anápolis (GO) e
Aliança do Tocantins (TO).
O contrato de concessão da rodovia foi assinado em setembro
do ano passado. Empreiteira chegou a colocar R$ 200 milhões em obras menores na
rodovia. Pelo contrato, as obras de duplicação devem começar neste mês de
abril, mas a empresa não tem fôlego financeiro.
A empreiteira tem uma dívida de R$ 2,5 bilhões. Dos R$ 7,7
bilhões que tem em contratos a receber, R$ 2,1 bilhões são com a Petrobras: R$
1,2 bilhão de obras concluídas e não pagas e outros R$ 900 milhões a vencer. A
empreiteira solicitou um empréstimo de R$ 800 milhões ao Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os recursos seriam usados para
começar a duplicação da rodovia.
Como não conseguiu garantias de bancos e sem dinheiro para
tocar a obra, demitiu cerca de 400 trabalhadores e deixou de contratar outros
400 que já deveriam estar em treinamento para a empresa assumir formalmente a
operação da rodovia no início de maio.
Com presidente preso, OAS acumula dívida de R$ 8 bilhões
Grupo OAS colocou nove de suas empresas em recuperação
judicial no início deste mês. A empreiteira baiana acumula uma dívida de R$ 8
bilhões. A intenção é voltar a se concentrar nas atividades de construção
pesada.
Serão colocadas à venda a participação da OAS na Invepar
(24,44% do negócio), a fatia no Estaleiro Enseada (17,5%), a OAS
Empreendimentos (80%), a OAS Soluções Ambientais (100%), a OAS Óleo e Gás (61%)
e a OAS Defesa (100%).
Também serão negociados dois estádios: a Arena Fonte Nova (50%),
de Salvador, e a Arena das Dunas (100%), em Natal. Todos ficaram de fora do
pedido de recuperação.
Segundo a OAS, cujo presidente José Aldelmário Filho, está
preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde novembro do ano
passado, ao mesmo tempo, clientes decidiram suspender pagamentos e novas
contratações. Como consequência, agências de rating rebaixaram a nota da OAS, o
que levou ao vencimento antecipado de suas dívidas
"Desde o início das investigações na Petrobras, as
instituições financeiras têm sistematicamente restringido o acesso das empresas
aos recursos necessários para a manutenção das obras", declarou o
presidente da OAS Investimentos, Fabio Yonamine.
Grupo Schahin quebrou em R$ 6,5 bilhões
A mais recente empresa a pedir recuperação judicial foi o
Grupo Schahin, que atua nas áreas de petróleo e gás, engenharia, energia,
imóveis, telecomunicações.
A companhia anunciou nesta sexta-feira que pediu recuperação
judicial para 28 empresas do grupo e deixará de operar em engenharia e
construção para se focar na área de petróleo e gás.
A recuperação judicial envolve uma dívida de R$ 6,5 bilhões.
Em nota ao mercado, a empresa disse que "lamenta" as demissões
envolvidas na reestruturação, mas não informou quantas são. "A situação vivida
decorre principalmente do fechamento dos mercados de crédito nacional e
internacional, o que impossibilita o financiamento das atividades das
empresas", informou a companhia em nota.
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