A base de apoio da presidente Dilma nas redes sociais
conseguiu se reorganizar entre os dois eventos contra a presidente, segundo
levantamento realizado pelo Departamento de Análise de Políticas Públicas da
Fundação Getulio Vargas (FGV/Dapp) no Twitter em 15 de março e em 12 de abril,
dia das grandes manifestações contra o governo. A reação vista no dia 12
conseguiu fazer a hashtag "aceitadilmavez" superar a hashtag
"impeachment", que havia suplantado todas as outras em 15 de março.
"As redes estão operando de uma forma diferente agora.
É como se a base que elegeu a presidente decidisse parar de recuar, que não
pode mais perder espaço", avalia o diretor do FGV/Dapp, Marco Aurélio
Ruediger. Para ele, essa mobilização ajudou Dilma a entrar em uma trajetória de
estabilização que coincidiu com o movimento de entendimento com o PMDB. A
exemplo das ruas, o debate também esfriou nas redes. O número de menções às
manifestações mapeado pelo Dapp no domingo foi 40% menor que em março, ou 478
mil contra 760 mil.
Rudieger acredita,
que as posições nas redes sociais estão mais estabelecidas agora do que
em março. "A polarização vista no período eleitoral se manteve, mas em
março não havia uma resposta de apoio à Dilma", diz, lembrando que o fato
de marcarem posição não quer dizer que estejam em sintonia com as pautas do
governo. "Em 2013, a pauta era mais difusa, havia uma mistura de temas e
de atores. Agora, é mais focada. A inconformidade é com o governo. Há um
desconforto imenso com a corrupção, com o uso de recursos públicos",
completa.
Como analista, Ruediger avalia que a entrada efetiva do
vice-presidente Michel Temer no governo e a atuação do ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, ajudaram no processo de estabilização. Segundo ele, a análise
discursiva das postagens mostra que entre o grupo pró-Dilma há a percepção de
que é necessário fazer ajustes na economia. "Mas eles firmam posição nos
pontos que consideram mais relevantes, como a questão da terceirização. As
redes são espaços de debates, mas também de resposta", afirma.
A partir da comparação das manifestações de 15 de março e 12
de abril, e também com as mobilizações de 2013, o diretor do Dapp avalia que
está havendo um aprendizado do meio político no trato com as redes sociais.
Segundo ele, o debate nas redes, que há dois anos era pautado pela sociedade,
começa a seguir também a agenda definida pelas instituições.
"Surgiu uma dialética maior, com o meio político
colocando também suas próprias pautas e se deixando pautar, e até mudar de
opinião, pelas redes", explicou ontem Ruediger, pouco antes de a bancada
do PSDB deixar clara a divisão sobre o projeto de terceirização, provocada pela
pressão da opinião pública.
A FGV/Dapp utiliza softwares e metodologias de pesquisa para
buscar, coletar e analisar dados extraídos de redes sociais. O processo envolve
análise linguística para definir critérios de busca e análise qualitativa
interdisciplinar dos dados coletados, além de softwares para gerar novas
visualizações dos dados.
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