Sessão Solene em homenagem aos 50 anos da Globo foi na medida

A Câmara dos deputados realizou uma sessão solene nesta terça-feira (14) em homenagem à TV Globo, que no próximo dia 26 completará 50 anos de fundação. A sessão fez justiça à emissora fundada por Roberto Marinho: aconteceu sem povo, foi autoritária e medíocre.
As galerias estavam vazias e o plenário a meia bomba. Sessões solenes, em geral, são abertas ao público, desta vez a entrada só foi permitida para convidados. A Globo fez questão de manter o povo à distância. Na plateia, funcionários da empresa, incluindo antigos atores como Tônia Carrero, Milton Cunha e Juca Oliveira. Comandando a homenagem não poderia haver pessoa mais representativa do que significa o sistema Globo do que o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Conhecido por sua forma republicana de fazer política, Eduardo Cunha em todos os terrenos (ética, compromisso com a democracia, etc.) tem realmente a cara da “vênus platinada”. Os discursos dos deputados foram uma sucessão de bajulações. Conhecidos parlamentares da bancada da Globo, como Miro Teixeira (PROS-RJ), não faltaram. Marcaram presença também representantes do PSDB, DEM, PPS, PSC, PSD, todos com os olhos brilhando de admiração em relação a Eduardo Cunha e buscando, com suas presenças e seus discursos, usufruir um pouco que seja da blindagem de que hoje desfruta o “capo di tutti i capi”. Mas o campeão entre todos os puxa-sacos foi sem dúvida o deputado federal pelo Piauí, Heráclito Fortes. Heráclito, no afã de ser mais capacho do que os capachos que o antecederam disse que a Globo apoiou o movimento “pelas diretas já” e agradeceu a Roberto Marinho pela volta da democracia. Tudo isso registrado para a posteridade pela TV Câmara. Entre tantas ignomínias que uma declaração como esta carrega, talvez uma das maiores seja em relação à memória de Miguel Arraes, pois Heráclito as fez representando o PSB.
De repente, um vento soprou

A emoção do herdeiro
Foi um discurso curto, vazio e medíocre. Como um quitandeiro fala da qualidade de suas frutas, João Roberto falou sobre a Rede Globo exaltando seu produto mas, ao contrário da maioria dos quitandeiros, mentiu o tempo todo. Por exemplo, elogiou a pluralidade de opiniões que a Globo expressa e o seu compromisso com a democracia. Em determinado momento se emocionou ao falar do pai, mas não foi uma emoção vinda da vergonha de ser filho do verdugo de toda uma geração de jovens, obrigados a viver sob o tacão de uma ditadura que matou muitos que se rebelaram e torturou outros tantos. Controlou-se (a emoção não era tanta assim) e prosseguiu. Quando seu discurso terminou os espectadores estavam perplexos. Mesmo um “big brother” faria um discurso com mais conteúdo. Eduardo Cunha, a cara da Globo e da sessão solene, fez mais uma da série de genuflexões de que esteve cheio o plenário na manhã desta terça-feira e reafirmou ao sorridente irmão Marinho o seu compromisso de barrar a regulação da mídia. O presidente da Câmara encerrou então a sessão, envolto pelos aplausos dos poucos presentes, cujas palmas ecoavam nas galerias vazias como talvez tenham ecoado nos salões do baile da Ilha Fiscal, na derradeira festa de uma monarquia prestes a acabar.
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