O racismo, a mídia, e a carta de Porto Alegre
A mídia brasileira tem de nacional apenas o fato de que seus proprietários, por um acaso, nasceram aqui, mas a mentalidade é colonial. E assim, nas TVs, na publicidade, nos filmes, o padrão físico dominante deve seguir um modelo europeu, que retrata pobremente as multifacetadas e maravilhosas belezas do Brasil e da América Latina, pois tudo passa pelo filtro de uma visão de mundo burguesa e elitista.
“Sempre que venho ao Brasil, assisto à TV para ver como o país se representa. Pela TV brasileira, nunca seria possível imaginar que sua população é majoritariamente negra”, disse a famosa ativista estadunidense Angela Davis, ao visitar o país em 2014. O distanciamento da mídia hegemônica em relação à realidade concreta do povo é enorme e sua visão de mundo, tão pasteurizada, que produz coisas como o livro “Não somos racistas” de autoria do diretor nacional de jornalismo do Sistema Globo, Ali Kamel.
Racismo e vida real
Apesar de, formalmente, o discurso midiático contra o racismo ser uma regra, na prática a visão elitista que predomina transforma a condenação do racismo em um gesto meramente simbólico, com pouco conteúdo real. No caso, por exemplo, de um diretor nacional de jornalismo que diz não existir racismo no Brasil a situação é ainda mais evidente, pois como vai se combater o que não existe? O grupo de mídia sul-africano Naspers, que foi um dos sustentáculos do apartheid, controla 30% do grupo Abril, editora da revista Veja. Neste último mês de maio, ironicamente o mês em que se comemora a abolição dos escravos, a 12ª turma do Tribunal Regional de São Paulo manteve a condenação do jornal Folha de S. Paulo, por racismo. Segundo o portal Comunique-se, em notícia que também foi reproduzida pelo Portal Vermelho, “a decisão foi unânime entre os desembargadores da 12ª Turma do Tribunal Regional de São Paulo”. Segundo o Juiz Jorge Eduardo Assad, o jornal permitiu que seus funcionários trocassem mensagens “com piadinhas sobre raça, cor ou etnia (...) mas nada fez para impedir a prática”. Em sua defesa, a Folha alegou que o caso se tratava de uma simples “brincadeira” entre os funcionários.
Racismo – De brincadeira em brincadeira...
Assim, de brincadeira em brincadeira, o discurso mais comum dos racistas, hoje em dia, começa com “eu não sou racista, mas...” ou uma variante “eu tenho muitos amigos negros, mas...”. Este tipo de hipocrisia é o espelho fiel de uma mídia hegemônica que reproduz integralmente os vícios e preconceitos da elite da qual é porta-voz. Não surpreende, portanto, quando a própria imprensa empresarial se vê confrontada com opiniões que raiam o absurdo, como esta carta (abaixo) publicada pelo jornal Zero Hora de Porto Alegre (RS), neste último domingo (31), onde o leitor contesta um colunista do periódico que havia apoiado a política de acolher refugiados do Haiti e de outros países. A carta espelha a contradição de uma mídia que vive promovendo pequenas campanhas “contra o preconceito” ao mesmo em que o grosso de sua programação reforça o estigma e o estereótipo. Como se sabe, de nada adiantam bons desejos sem uma prática correspondente ou, como diz o poeta, pouco vale a “distância entre intenção e gesto”. A carta de Porto Alegre, que está longe de ser um exemplo isolado, revela um alarmante grau de atraso cultural e civilizacional que, infelizmente, só tende a aumentar se não formos capazes de promover uma real democratização da comunicação que tenha, como primeira e salutar iniciativa, criar mecanismos que estimulem a mídia a se autocriticar e a refletir sobre sua própria prática.
Dilma: A redução da maioridade penal é um fato gravíssimo
A coluna Painel da edição desta terça-feira (2) do jornal Folha de S. Paulo diz, citando fontes “petistas”, que a presidenta Dilma Rousseff não se posiciona claramente contra a redução da maioridade penal pois lidera um governo “fragilizado”. Se o jornal Folha de S. Paulo de vez em quando resolvesse fazer jornalismo, poderia ter evitado esta “barriga” de sua mais importante coluna. O jornal, por questões ideológicas, não fez a cobertura de um fato relevante do mundo político que foi a 10ª Conferência Nacional do mais antigo partido em atividade no Brasil, o PCdoB, que aconteceu em São Paulo nos dias 29, 30 e 31 de maio. A Folha, como os demais órgãos da mídia hegemônica, boicotou o encontro dos comunistas, e não assistiu à veemente condenação da presidenta Dilma à proposta de redução, feita em discurso no ato de abertura da Conferência no dia 29 de maio, portanto cinco dias antes da informação furada do Painel. Assista ao vídeo com o trecho do discurso em que Dilma aborda o tema.
Racismo e vida real
Apesar de, formalmente, o discurso midiático contra o racismo ser uma regra, na prática a visão elitista que predomina transforma a condenação do racismo em um gesto meramente simbólico, com pouco conteúdo real. No caso, por exemplo, de um diretor nacional de jornalismo que diz não existir racismo no Brasil a situação é ainda mais evidente, pois como vai se combater o que não existe? O grupo de mídia sul-africano Naspers, que foi um dos sustentáculos do apartheid, controla 30% do grupo Abril, editora da revista Veja. Neste último mês de maio, ironicamente o mês em que se comemora a abolição dos escravos, a 12ª turma do Tribunal Regional de São Paulo manteve a condenação do jornal Folha de S. Paulo, por racismo. Segundo o portal Comunique-se, em notícia que também foi reproduzida pelo Portal Vermelho, “a decisão foi unânime entre os desembargadores da 12ª Turma do Tribunal Regional de São Paulo”. Segundo o Juiz Jorge Eduardo Assad, o jornal permitiu que seus funcionários trocassem mensagens “com piadinhas sobre raça, cor ou etnia (...) mas nada fez para impedir a prática”. Em sua defesa, a Folha alegou que o caso se tratava de uma simples “brincadeira” entre os funcionários.
Racismo – De brincadeira em brincadeira...
Assim, de brincadeira em brincadeira, o discurso mais comum dos racistas, hoje em dia, começa com “eu não sou racista, mas...” ou uma variante “eu tenho muitos amigos negros, mas...”. Este tipo de hipocrisia é o espelho fiel de uma mídia hegemônica que reproduz integralmente os vícios e preconceitos da elite da qual é porta-voz. Não surpreende, portanto, quando a própria imprensa empresarial se vê confrontada com opiniões que raiam o absurdo, como esta carta (abaixo) publicada pelo jornal Zero Hora de Porto Alegre (RS), neste último domingo (31), onde o leitor contesta um colunista do periódico que havia apoiado a política de acolher refugiados do Haiti e de outros países. A carta espelha a contradição de uma mídia que vive promovendo pequenas campanhas “contra o preconceito” ao mesmo em que o grosso de sua programação reforça o estigma e o estereótipo. Como se sabe, de nada adiantam bons desejos sem uma prática correspondente ou, como diz o poeta, pouco vale a “distância entre intenção e gesto”. A carta de Porto Alegre, que está longe de ser um exemplo isolado, revela um alarmante grau de atraso cultural e civilizacional que, infelizmente, só tende a aumentar se não formos capazes de promover uma real democratização da comunicação que tenha, como primeira e salutar iniciativa, criar mecanismos que estimulem a mídia a se autocriticar e a refletir sobre sua própria prática.
Dilma: A redução da maioridade penal é um fato gravíssimo
A coluna Painel da edição desta terça-feira (2) do jornal Folha de S. Paulo diz, citando fontes “petistas”, que a presidenta Dilma Rousseff não se posiciona claramente contra a redução da maioridade penal pois lidera um governo “fragilizado”. Se o jornal Folha de S. Paulo de vez em quando resolvesse fazer jornalismo, poderia ter evitado esta “barriga” de sua mais importante coluna. O jornal, por questões ideológicas, não fez a cobertura de um fato relevante do mundo político que foi a 10ª Conferência Nacional do mais antigo partido em atividade no Brasil, o PCdoB, que aconteceu em São Paulo nos dias 29, 30 e 31 de maio. A Folha, como os demais órgãos da mídia hegemônica, boicotou o encontro dos comunistas, e não assistiu à veemente condenação da presidenta Dilma à proposta de redução, feita em discurso no ato de abertura da Conferência no dia 29 de maio, portanto cinco dias antes da informação furada do Painel. Assista ao vídeo com o trecho do discurso em que Dilma aborda o tema.
Petrobras: O retumbante sucesso de uma empresa “moribunda”
A mídia hegemônica vaticinou e muita gente acredita: “Dilma acabou com a Petrobras”. No entanto, a estatal lançou recentemente no mercado US$ 2,5 bilhões em títulos com vencimento em cem anos. Só uma empresa com grande futuro e credibilidade poderia atrair investimentos deste tipo. Se alguém perguntasse a opinião de Míriam Leitão, Merval Pereira ou a de qualquer outro colunista amestrado, sobre este investimento, desistiria na hora. Mas até os executivos que adoram ler as colunas golpistas desta gente sabem que eles não fazem análise econômica ou conjuntural, travam tão somente a luta política. Ninguém os leva a sério para tomar qualquer tipo de decisão estratégica. Todos os títulos disponíveis foram comprados e o mercado mostrou apetite para quatro vezes mais. O único jornal que deu na capa a informação, na edição desta terça-feira (2), foi o Valor Econômico: “Bônus de cem anos dá US$ 2,5 bi à Petrobras”. E isso por que, segundo a mídia hegemônica, a Petrobras está quebrada. Quando estiver saudável vai lançar o bônus de mil anos. Aí pode ser que algum colunista amestrado compre, achando que tem a ver com o 3º Reich.
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