Autor: Miguel do Rosário
No dia 13 de novembro de 2014, uma reportagem de Julia
Dualibi, no Estadão, informava que os delegados da Lava Jato faziam festinha
pró-Aécio nas redes sociais. Incluindo o principal responsável pela operação
Lava Jato na Polícia Federal, o delegado Igor Romário de Paula.
Igor Romário de Paula aparecia nas redes sociais louvando
Aécio Neves, do PSDB, um dos candidatos com a ficha mais suja de que temos
notícia em nossa história recente: acusações de corrupção, o nepotismo mais
descarado (que ele herdou de sua própria história, pois ele, Aécio, é filho do
nepotismo, tendo vivido toda sua vida de empregos públicos obtidos através de
indicações familiares), ataques à liberdade de imprensa, violência contra
mulher, bebidas, drogas, uso do dinheiro público para construir aeroportos em
terra da família, nomeação de juiz acusado de vender sentenças de soltura para
traficantes, amizades com donos de helicópteros apreendidos com meia tonelada
de pasta de cocaína, etc.
Um candidato, diga-se de passagem, acusado diretamente pelo
principal delator da Lava Jato, a investigação conduzida por Igor Romário de
Paula, de receber 120 mil dólares por mês de propinas, o que daria, em valores
de hoje, quase meio milhão de reais/mês.
Desde então, a Lava Jato começou a se transformar-se
rapidamente. De uma operação de combate à lavagem de dinheiro por parte de
várias empreiteiras, converteu-se numa investigação política, visando asfixiar
a indústria de construção civil, por um lado, e criminalizar o PT, de outro.
Daí tivemos uma série de prisões ilegais. O tesoureiro do
PT, por exemplo, foi preso sem que houvesse absolutamente nenhuma prova contra
ele.
A acusação: as doações legais, registradas no TSE, de
empresas ao PT.
As mesmas empresas doaram valores da mesma magnitude, ou até
mais, à oposição. Mas apenas as doações ao PT foram criminalizadas.
Numa tática que cheira aos momentos mais arbitrários da
nossa história, o juiz mandou prender não apenas João Vaccari Neto, mas sua
família: mulher e cunhada.
A cunhada foi presa “por engano”. O desespero de prender era
tão grande que a confundiram com sua própria irmã.
A Lava Jato entrou em parafuso, distribuindo acusações a
políticos sem relação alguma com a investigação principal. Um político do PP
foi acusado de incorporar a empregada doméstica à folha de pagamento de seu
gabinete. Uma coisa antiética, mas sem nenhuma vinculação, obviamente, com
lavagem de dinheiro, Petrobrás ou corrupção partidária.
O André Vargas, ex-deputado do PT, que não é flor que se
cheire, foi acusado de ter “presença” na Caixa, e com isso, supostamente,
beneficiar a agência de publicidade de seu irmão. Nada a ver com lavagem de
dinheiro ou Petrobrás.
E agora, o mesmo delegado disse que investigará Lula por
conta dos serviços que o ex-presidente prestou para empresas de construção
civil.
A mídia, como sempre, é a grande articuladora de todas essas
denúncias. Tudo é milimetricamente planejado. Sai numa revista aqui, vai para
uma TV ali, aparece num jornal, numa dessas jogadas ensaiadas tão
características da nossa imprensa, e que a faz parecer realmente um cartel
mafioso.
Agora sabemos que o ex-presidente FHC recebeu mais de 16
milhões de reais apenas em suas doações iniciais, quando saiu do governo, mais
de quatro vezes acima do valor pago pela Camargo Correia ao Instituto Lula.
Mas FHC pode. Lula não.
A mídia quer que Lula viva de quê?
Lula não tem a cara de pau de FHC, de usar milhões de reais
de Lei Rouanet (dinheiro público, portanto) para organizar seu “acervo”.
Como Lula sustentará seu instituto?
FHC viaja ao mundo falando mal do Brasil e recebendo por
isso.
O Instituto Lula produz estudos e palestras em prol dos
países mais pobres, promovendo políticas públicas de combate à fome.
A contribuição de Lula na luta mundial contra a miséria e a
desnutrição foi prestigiada há algumas semanas, em evento da FAO, a organização
das Nações Unidas que cuida exatamente dessas questões.
Lula abriu o encontro, e foi aplaudido por representantes de
mais duzentos países. A mídia, como sempre escondeu ou diminuiu.
Ao contrário, a mídia apenas opera, dia e noite, para
destruir Lula politicamente, massacrar sua imagem.
De certa forma, tem conseguido seu objetivo, como se vê nas
manifestações crescentes de ódio contra o PT.
Não é difícil, numa democracia, fazer o povo se voltar
contra seus próprios herois.
Infelizmente, esse é um dos vícios inerentes a democracias.
Sócrates foi condenado à morte por “corromper os jovens”. Esse foi o prêmio
final da democracia ateniense a seu cidadão mais ilustre.
Heródoto, o historiador grego, fala ainda de grandes
generais atenienses, como Temístocles, responsáveis por vitórias épicas dos
atenienses contra exércitos persas numericamente muito superiores, que depois foram
perseguidos e até mesmo banidos por seus próprios cidadãos, em virtude de
intrigas domésticas.
Talvez a característica mais marcante de uma democracia seja
esta intriga aberta, que se confunde com o próprio jogo político.
Em ditaduras, as intrigas são asfixiadas imediatamente com
violência e repressão.
Numa democracia, as intrigas se convertem em lutas
políticas, travadas por meio da comunicação.
Por isso, a mídia é a questão política central da nossa
democracia. Talvez mais importante, num primeiro momento, que a reforma
política.
Um candidato pode até se eleger sem dinheiro, mas não sem
uma boa imagem na mídia.
Para que serve o dinheiro nas campanhas, em termos
estritamente eleitorais? Não é para comprar a mídia, ou fazer a sua própria
mídia?
Uma reforma política começa e termina com uma reforma da
mídia, uma reforma que obrigue todos os canais de tv a exibirem, em horário
nobre, debates eleitorais entre candidatos a presidente, governador, prefeitos,
deputados, senadores, vereadores. Uma reforma de mídia que estenda a campanha
política pelo máximo de tempo possível, diluindo os custos.
O Brasil irá vencer esses esbirros da ditadura, essas
conspirações conduzidas por uma mídia cevada no dinheiro e na violência de um
regime de exceção.
Uma mídia que jamais se interessou em fomentar a
inteligência crítica dos brasileiros. Ao contrário, seu único objetivo é
ampliar o seu exército de zumbis.
Uma mídia vendida em todos os sentidos.
Não promove alimentação saudável porque não pode contrariar
os interesses de seus patrocinadores.
Nunca promoveu debates em prol de políticas de transporte
coletivo, porque precisa vender anúncios de carro.
Nunca promoveu debates políticos inteligentes, porque
precisa empurrar, goela abaixo da população, os seus lobistas de baixo nível,
que irão cuidar de suas negociatas, aqui e no exterior, como Eduardo Cunha.
A Lava Jato é fruto desse sistema. Ela é uma iniciativa
desesperada de setores corruptos da mídia, da sociedade e do Estado, setores
dispostos a destruir muita coisa, se isso lhes permitir a volta de um tucano ao
poder.
Um tucano que ajude o cartel mafioso midiático a sobreviver
por mais alguns anos.
Espera-se, todavia, que ainda existam juízes com alguma
fibra moral, capazes de resistir a esse jogo pesado de chantagens políticas e
midiáticas.
Ao atacar Lula, a Lava Jato expôs-se excessivamente e
decretou seu fim moral.
Um fim patético de uma operação golpista liderada por
agentes públicos sem qualquer compromisso com a realidade social. Não se
importam em promover desemprego ou atraso de obras estratégicas.
Pior, agentes públicos sem qualquer compromisso com valores
democráticos: prendem sem provas, condenam sem provas, promovem linchamento
midiático através de vazamentos seletivos.
O juiz da Lava Jato exibiu, na frente de todo mundo, a
propina que lhe foi entregue, em mãos, por um dos irmãos Marinho: o prêmio Faz
Diferença.
E assim vamos tocando a vida.
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