
"O capitalismo
é a crise". Foto: The Environmental Blog (CC BY-NC-ND 2.0)
Roubini é um economista norte-americano que previu,
em 2006, em detalhes, o colapso capitalista de 2008, a partir do estouro da
especulação financeira com a chamada subprime, a especulação imobiliária levada
ao extremo nos países desenvolvidos.
No início deste ano, Roubini previu um novo e ainda
pior colapso capitalista, em 2016, a partir do estouro da “mãe de todas as
bolhas”, as emissões de dinheiro podre pelos principais bancos centrais. Esse
dinheiro podre é repassado para os monopólios a taxas próximas a zero e é
aplicado imediatamente na especulação financeira. Mesmo assim, o semi cadáver
do capitalismo não conseguiu dar mais que alguns passos a mais, às custas de
gerar um mega endividamento dos estados burgueses.
De acordo com Roubini, em 2015, “teremos
crescimento econômico e dinheiro barato, pelo que esta ‘espuma’ que vemos nos
mercados ainda deverá continuar”. É exatamente isso o que está acontecendo nos
principais países. Uma aparência de “bonança”, promovida em cima de volumes
colossais de crédito, enquanto a economia produtiva mundial entrou em recessão.
Ou seja, uma espécie de calmaria antes da tempestade.
Crises cíclicas?
O fenômeno das crises cíclicas é próprio do
capitalismo na fase liberal, de ascenso industrial, no século XIX. A
superprodução relativa de produtos (devido à falta de compradores) levava a um
excesso de mercadorias que não encontrava compradores. Após ter destruído um
volume de forças produtivas durante a crise, a produção era retomada, até a
próxima crise, que se repetia a cada dez anos aproximadamente. Essas crises
levaram sempre a turbulências e à movimentação das massas.
As revoluções que aconteceram em 1848, na Europa,
tiveram na base a crise de 1847. Após o período de reação e refluxo que se
seguiu às derrotas, a nova movimentação operária levou à fundação da Primeira
Internacional Comunista, em 1864, que teve, na base, a crise industrial de
1858.
A partir do século XX, na época do imperialismo, as
crises deixaram de ser periódicas, ou “cíclicas”. O Imperialismo representa a
fusão do capital industrial com o capital financeiro, segundo a definição
acunhada por V.I.Lenin, no seu famoso livro (Imperialismo, etapa superior do
capitalismo). É uma caraterística da fase imperialista o aumento acelerado do
parasitismo financeiro, do acúmulo de capital fictício, da exportação de
capitais, de guerras para reformular a divisão do mercado mundial já dividido
etc.
A cada nova crise, o capitalismo não se recicla,
mas ganha uma nova ponte de safena. Assim, tem entrado num processo de envelhecimento
histórico que o faz se assemelhar a um velho caquético em fase terminal.
O cenário obsceno em que vemos o mundo hoje faz
parte da crise. O parasitismo financeiro foi levado a níveis gritantes, o mundo
tem sido transformado numa espécie de cassino especulativo.
O capitalismo tem
saída para a crise?
O capitalismo não consegue mais extrair lucros da
produção.
A crise de 1929 somente foi fechada por meio da
Segunda Guerra Mundial. O esforço de reconstrução deu um certo fôlego, nos
países desenvolvidos, durante 20 anos. A crise mundial de 1974 liquidou as
chamadas políticas keynesianas, que tinham conseguido estabilizar o sistema e
conter o desenvolvimento das tendências revolucionárias após a guerra. A
inflação e o desemprego dispararam.
A crise somente conseguiu ser contida, de maneira
parcial, por meio da entrada de centenas de milhões de operários chineses, e
depois do antigo bloco soviético, no mercado, com salários miseráveis. Sobre
esta base, o movimento operário em ascenso foi contido e ataques em grande
escala promovidos, principalmente, a partir da derrota da greve dos mineiros
ingleses pelo governo de Margareth Thatcher e dos controladores aéreos pela
Administração Ronald Reagan.
Novas crises, parciais, se sucederam. Mais foi o colapso
capitalista de 2008 que colocou a pá de cal sobre o chamado neoliberalismo.
Nenhuma política alternativa ao neoliberalismo foi
possível de ser colocada em prática. A tentativa mais avançada, neste sentido,
foi a de François Hollande, na França, mas que fracassou de maneira humilhante,
apesar do Partido Socialista francês contar com a maioria em ambas as câmaras.
Hoje, Hollande é um dos líderes, junto com Angela Merkel, a chanceler alemã,
das políticas de austeridade.
A falta de condições para estruturar uma nova
política tem levado a manter a política neoliberal numa nova onda ainda mais
brutal, conforme o exemplo da Grécia o mostra de maneira transparente. Da mesma
maneira, na América Latina, os Estados Unidos passaram a apertar o ataque
contra as massas com o objetivo de aumentar a espoliação, na tentativa de
conter a queda dos lucros, implodida pelo aprofundamento da crise mundial.
Qual é a saída para
a crise capitalista?
Mantendo as amarras parasitárias, não existe
nenhuma saída possível para o capitalismo, com a exceção de guerras em grande
escala e ataques ainda mais fortes contra a população. Essa “saída” está sendo
impulsionada, devido à falta de alternativas, por meio dos grupos de
extrema-direita que crescem em todo o mundo. O “efeito colateral” é que as
guerras e os ataques contra os trabalhadores geram a desestabilização do
sistema e conduzem inevitavelmente a revoluções.
Após a Primeira Guerra Mundial, aconteceu a
revolução bolchevique na Rússia, a revolução na Hungria e três revoluções na Alemanha.
Após a Segunda Guerra mundial, os operários
italianos se armaram e passaram a controlar todas as fábricas. As massas, na
França, controlaram o país por meio da Resistência. Na Iugoslávia e na Albânia,
os nazistas foram derrotados por revoluções populares. Na Grécia, aconteceram
duas revoluções. Em 1947, foi declarada a independência na Índia. Em 1949, uma
revolução popular na China derrota os norte-americanos, após terem derrotado os
japoneses. O mesmo aconteceu no sudeste asiático. Os impérios coloniais na
África desabaram.
A única saída para a crise capitalista é a
derrubada do capitalismo, isto é, o domínio do mundo pelo punhado de famílias
que o controlam. Em primeiro lugar, está colocada a estatização dos bancos, a
quebra da especulação financeira e a estatização de todas as grandes empresas.
Neste momento, nenhuma grande empresa consegue sobreviver sem o assalto aos
cofres públicos. É uma das caraterísticas do imperialismo, o chamado
capitalismo de estado.
O novo colapso capitalista irá, inevitavelmente,
acordar as massas do grande “sonho neoliberal”. Está colocada a retomada do
ascenso operário dos anos 1980. E sobre esta base a formação de partidos
operários, de massa e revolucionários.
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