REFLEXÃO DA SEMANA Nº 22
Por Dedé Rodrigues
Bom dia meus amigos e minhas amigas ouvintes do Programa Tabira em Tempo. Esta semana passada morreu um menino sírio chamado Aylan Kurdi de três anos de idade, cujo pequeno corpo foi fotografado e avistado pelo mundo em uma praia turca. Sua mãe, Rehan, e seu irmão, Ghalib, de cinco anos, também se afogaram. O pai, Abdullah Kurdi, único que restou desta tragédia, contou a história ao New York Times. Agora sozinho, fez uma jornada de volta, para enterrar sua família, que deixou em Damasco e, antes disso, Kobani, uma resistente cidade curda brutalmente atacada pelo “Estado Islâmico”. Esta morte faria parte, segundo os meios de comunicação do mundo, da crise migratória. Mas é importante ir mais a fundo nesta questão e tentar responder: QUEM MATOU O MENINO ENCONTRADO NAS PRAIAS TURCAS?
Estes meios de comunicação da elite mundial são falaciosos, simplistas e insensíveis às verdadeiras causas que levam famílias inteiras a fugir de suas casas, lançarem-se à sorte e ao risco, para tentarem se salvar da guerras provocadas pelo imperialismo americano que invadiu e destruiu países como o Iraque, Afeganistão, Líbia e ainda financiou e alimentou o Estado Islâmico que ataca a Síria, grupo religioso e fanático que agora tem que combater.
Para vocês terem uma ideia estes mesmos meios de comunicação chegaram a falar que esta morte representava o fim de um sonho para aquela família.Um escritor progressista perguntou indignado esta semana:
“Qual é o contexto do sonho de quem pega um bote e tenta atravessar o oceano com um filho de três anos para perder a vida junto com ele? Qual é sonho de quem é reprimido com crianças no colo em divisas territoriais e espremido em cercas de arame farpado? Qual o sonho de quem não tem vida na terra onde nasceu por conta da barbárie que lhe foi imposta pelos donos do mundo que lhes é negado? Quando o pesadelo do mundo é transformado em sonho, o jornalismo chegou no seu limite máximo de estupidez e ilusionismo. E não é mais jornalismo.”
O quadro de guerras no mundo hoje não é pequeno: A Escola de Cultura de Paz da Universidade Autônoma de Barcelona estimou ao menos 36 conflitos armados ativos no final de 2014 - 13 deles decorrem apenas na África, 12 na Ásia, seis no Oriente Médio, quatro na Europa e um na América Latina. Na Síria, o número de deslocados internos – que não chegam a cruzar a fronteira – é hoje de 11 milhões de pessoas. Os que atravessam procuram botes infláveis, caminhões frigoríficos e outros meios inseguros e precários para sobreviver à jornada, por vezes também feita à pé.
Segundo Moara Crivelente *
Neste périplo de agonias, mais de 2.300 pessoas já morreram em 2015 tentando cruzar o Mediterrâneo, principalmente da Eritréia, do Mali, da Síria e do Afeganistão. No ano passado, foram mais de 3.200 mortes na mesma travessia e 307 outras vidas perderam-se na fronteira do México com os Estados Unidos. Desde 2000, mais de 22 mil migrantes morreram tentando alcançar a Europa. Os dados são do mais recente relatório da Organização Internacional para a Migração, “Jornadas Fatais” (Fatal Journeys).
É preciso analisar este problema da imigração de forma dialética, abrangente e profunda. Estas imagens de corpos nas praias ou de moribundos resgatados ao mar, principalmente vindos da África e do Oriente Médio, têm um contexto e dizem muito sobre a atual conjuntura geopolítica mundial. Estes conflitos que não acabam somam-se a crise atual do capitalismo iniciada em 2008 impondo a determinadas populações riscos tamanhos que a única solução que muita gente tem é tentar escapar de qualquer jeito dos países em conflitos.
Enquanto esta tragédia ocorre nos mares do mundo, os Estados Unidos mantendo sua política de ingerência e de guerra gastam em média US$ 68 mil por hora para voos e ataques aéreos na Síria e no Iraque, mas a ONU recebeu apenas metade do recurso necessário para prestar assistência à população cujo país tem sido lapidado, diz Yacoub el Hillo, oficial das Nações Unidas na Síria. Já os recursos destinados aos grupos armados ou a mercenários e regimes aliados das grandes potências são inestimáveis.
Para o Professor e dirigente comunista Altair Freitas:
“Não é possível compreender parte significativa das chagas do mundo atual sem uma detida análise dessa relação entre a construção da Europa Capitalista (e mais à frente dos EUA), de uma civilização capitalista, de um mundo no século 21 que é predominantemente capitalista, sem relacionar o que somos hoje com o passado, o mais longínquo e o mais recente. Ele cita o extermínio dos povos africanos e pré colombianos para ilustrar o seu raciocínio.
E continua dizendo:
“não compreender essa relação umbilical entre passado e presente induz qualquer pessoa a erro de interpretação sobre a dinâmica do mundo atual. Leva a considerar que existem povos inferiores e superiores. É o caminho mais rápido para sustentar preconceitos e abençoar a exploração desenfreada, sob o manto enganoso do progresso, do avanço civilizacional”.
E prossegue dizendo:
“Por isto afirmo que nossa civilização é um fracasso. Há uma intensa riqueza, uma enorme capacidade de produzir riquezas inauditas, como nunca antes na história humana. Mas tais riquezas estão super concentradas em algumas nações e mesmo nessas nações a desigualdade é a tônica. E muita gente julga o mundo pela sua aparência e não, principalmente, pela sua essência. Em um mundo no qual a riqueza de 1% da população mundial é maior do que os demais 99%, não tenhamos dúvidas: a tendência não é melhorar, mas piorar um pouco mais”. Ele afirma que estas tragédias da imigração e as guerras são ainda mais alimentadas pela crise do capitalismo.
E concluiu dizendo:
“Como no passado colonial, as potências constroem alianças com elites nacionais que são beneficiárias diretas desse processo, ou tentam ser,quando se trata de desestabilizar governos arredios. E se há uma tentativa das vítimas desses conflitos buscarem refúgio na Europa, isso não é sinal de vitalidade europeia, apenas dá uma pista sobre a dramaticidade com que o capitalismo tratou várias regiões do mundo nos últimos séculos, nas últimas décadas. E não há solução estruturante para os problemas fundamentais do mundo enquanto vigorar o tipo de estrutura econômica e política atuais”.
Em outras palavras o modelo de sociedade imperialista e capitalista atual com a ideologia neoliberal, tendo a frente os Estados Unidos e suas guerras é o principal responsável por estas tragédias, como a do menino que morreu nas praias turcas, como foi também no passado colonial e neocolonial. Posicionar-se contra estas guerras imperialistas, cobrar dos países mais solidariedade para os refugiados delas, lutar para substituir este modelo de sociedade concentrador de renda e provocador de guerras, são tarefas para toda pessoa amante da paz e do bem estar da humanidade. Este mundo tornou-se realmente um lugar muito perigoso para se viver, como afirmou o grande pensador atual Fidel Castro. A paz depende da nossa luta.
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