Autor Eduardo Guimarães
Devo começar este texto relatando que a cirurgia a que minha
mulher se submeteu na semana que finda foi um sucesso – os leitores desta
página ficaram sabendo da extrema preocupação de minha família com o problema
que ela teve na vesícula, sobretudo porque temos uma filha especial que depende
da mãe como nós dependemos do ar que respiramos.
Antes de prosseguir, quero agradecer aos amigos-leitores que
registraram aqui sua solidariedade e seus votos de pronto restabelecimento.
Mensagens de apoio deixaram minha esposa muito feliz e acredito que a energia
positiva que emanou delas certamente contribuiu para que tudo desse certo.
Dito isso, vale refletir sobre o que há de interesse público
nesse fato. E já vou logo explicando. Minha esposa foi operada pelo Sistema
Único de Saúde, ao qual recorremos porque tínhamos plano da Unimed e esta
deixou seus segurados na mão. Do dia para a noite, do nada.
Este, pois, é um bom momento para dar ao público uma boa
notícia e uma ruim.
A boa notícia é a de que em pouco mais de trinta dias minha
mulher fez todos os exames pelo SUS e foi operada. Escrevo logo após ter ido
busca-la no Hospital das Clínicas, onde foi muito bem atendida.
A surpresa ficou por conta do nível das instalações. Claro
que a admissão no hospital não produz o tipo de cena que a classe média espera
ao ir buscar tratamento de saúde. Há muita gente pobre no sistema público e
rico – ou quem pensa que é rico – não gosta de dividir nem shopping com pobre,
quanto mais um hospital.
Porém, fiquei surpreso ao ver muito classe média no sistema
público, o qual nunca havia utilizado dessa forma – no caso, para minha esposa.
Ora, não é qualquer plano de saúde, hoje, que garante
atendimento tão rápido e eficiente. Todos sabem quanta gente paga planos
caríssimos e sofre com demoras iguais ou maiores do que a do SUS.
Em geral, maiores.
Ao contrário do que muita gente que não usa o SUS pensa, o
sistema é bem melhor do que se supõe. Essa é a boa notícia, que se torna ainda
melhor diante de matéria da Agência Brasil sobre análise da pesquisadora da
UFRJ Ligia Bahia, para quem o “mercado” de planos de saúde no Brasil “não se
sustenta”.
“Somos o segundo maior mercado de plano de saúde do mundo,
mas não temos o segundo maior PIB do mundo”, explica Ligia. Ela prevê que as empresas
de planos de saúde irão “à falência”. E lembra que já não vendem planos
individuais e que seus preços ficam cada vez mais salgados enquanto a qualidade
decai.
O pior disso tudo é que as empresas de saúde apelaram para a
fraude para obterem equilíbrio financeiro. Simplesmente recusam garantir ao
cliente o que ele tem direito confiando na dificuldade que as pessoas têm para
apelar à Justiça. Na prática, mandam os clientes irem procurar seus direitos.
Só que muitos não vão, e é aí que os planos lucram.
No médio prazo, mais e mais empresas de planos de saúde irão
afundando e deixando pelo caminho legiões de pessoas no mais completo
desespero. Algumas passando por tratamentos seriíssimos. Muita gente perderá a
vida nesse processo.
Há muita preocupação das autoridades com o impacto que as
dificuldades progressivas dos planos de saúde causarão no SUS. No entanto, esse
impacto deve ocorrer muito mais no pronto atendimento ou nos casos de menor
gravidade, pois, atualmente, os planos de saúde já empurram para o sistema
público os casos mais graves.
Ao menos nos grandes centros, é no pronto atendimento que o
SUS tem mais problemas. Há atendimento, bom atendimento, nos casos mais sérios.
Porém, os casos de emergência – que respondem por uma parcela imensa dos custos
da saúde pública – continuam com problemas.
Pagar caro a esses planos de saúde não passa de autoengano.
Se a situação se complicar, o conveniado cairá na real. Descobrirá que pagou e
agora ficará sem retorno. Exceto aqueles que tiverem meios de ir à Justiça para
garantir seus direitos. Contudo, se os planos afundarem nem a Justiça irá
resolver.
O conselho deste Blog ao seu público, portanto, é de que
escolha muito bem seu plano e se prepare para ir à Justiça caso precise de
atendimento mais especializado para casos mais sérios, pois seu plano irá
deixa-lo na mão na hora de maior desespero. Desse modo, faça como eu: vá se
habituando ao SUS, porque, se precisar, é com ele que terá que contar.
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