Direito de Resposta: "trata-se apenas de garantir o
direito ao contraditório"
Do amigo navegante Antonio Marcos Carvalho
Na Rede Brasil Atual:
Requião sobre TV Globo: 'Não podemos deixar que acuse,
julgue e condene'
No segundo dia de debates no Sindicato dos jornalistas de
SP, senador teve a companhia do jurista Fábio Konder Comparato, que defendeu o
“direito de resposta social”, e do cientista político João Feres
São Paulo – O senador Roberto Requião (PMDB-PR) defendeu
ontem (26), em São Paulo, a Lei do Direito de Resposta (n° 13.188/2015), da
qual é o autor. Segundo ele, o texto legal está sendo mal interpretado ao ser
considerado por órgãos de imprensa e alguns advogados como uma ameaça à
liberdade de expressão. O senador lembra que a lei nem sequer prevê entrar no
mérito ou condenar veículos de imprensa por prejudicar a imagem de pessoas.
“O fundamental é dizer que, com a lei, não se trata de
julgar o mérito de uma acusação de um meio de comunicação. Trata-se apenas de
garantir o direito ao contraditório”, disse.
Referindo-se à TV Globo, o parlamentar afirmou: “Nesse
tribunal da opinião pública, não podemos deixar que um megaórgão de
comunicação, verticalizado, que tem rádio, televisão, jornal, revista, acuse,
julgue e condene, destruindo a imagem e qualquer possibilidade social de
sobrevivência do personagem, que pode ser um político, sim. Mas pode ser o
coreano dono da Escola de Base, ou um sujeito qualquer do interior. Esta lei é
tão drástica assim? Não é.”
Além de Requião, participaram do evento, no segundo dia de
debates no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (com o tema "Direito de
resposta: regulação e liberdade de imprensa”), o jurista Fábio Konder Comparato
e o cientista político João Feres Júnior, coordenador do Manchetômetro. Na
quarta-feira, o debate reuniu Franklin Martins, ex ministro-chefe da Secretaria
de Comunicação Social do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o jornalista
Paulo Henrique Amorim e o professor Laurindo Lalo Leal Filho.
O senador contou que o projeto tramitou por cinco anos antes
de virar lei e chegou a ser engavetado pelos dois mais recentes presidentes da
Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), hoje ministro do
Turismo, e Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Engavetaram o projeto, até que eles e seus
colegas parlamentares perceberam que a proposta podia lhes interessar.
Circunstâncias surgiram, e a pimenta começou a arder nos olhos deles todos. De
repente, verificaram que o direito de resposta, que queriam impedir de qualquer
maneira, também tinha a ver com eles, que estavam sendo acusados de coisas e
não tinham nenhuma condição de fazer a contraposição.”
Em palestra erudita, o jurista Fábio Konder Comparato ressaltou
a importância do direito de resposta, mas defendeu a ampliação do que chamou de
“direito de resposta social”. “É preciso que alguém tenha o direito de
responder representando a sociedade. Um jornal diz que uma negra tem um cabelo
horrível ou que afinal o sujeito é muito mão fechada porque é descendente de
judeu. Ou, até há pouco tempo os homossexuais eram tratados com paulada. É
preciso o direito de resposta por retificação social, para a defesa de uma
etnia, uma cultura, uma população.”
Comparato defendeu também que ONGs ou representantes de
profissionais, por meio de sindicatos, tenham direito de ocupar horários na
televisão e no rádio. Ele afirmou considerar fundamental “desoligarquizar” os
meios de comunicação. “Precisamos avançar a uma era em que o povo possa debater
coisas importantes para si, tal como acontecia na Ágora grega.”
João Feres Júnior fez uma apresentação sobre a atuação da
imprensa em campanhas eleitorais e mostrou uma série de manchetes da Folha de
S. Paulo, no processo eleitoral de 2010, que "chegam a ser cômicas",
disse. "Dados sigilosos da filha de Serra foram obtidos por filiados do
PT", dizia uma manchete do jornal paulista. "Consumidor de luz pagou
R$ 1 bi por falha de Dilma", informava outra.
Requião voltou a criticar a presidenta Dilma Rousseff por
ela ter vetado artigo da nova lei que garantia ao ofendido se apresentar
pessoalmente em veículo rádio ou TV para responder a uma ofensa. “O veto é
completamente irrazoável.” Em entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim há
duas semanas, o senador disse que o veto foi uma concessão às emissoras de TV,
principalmente a Globo.
Ontem, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) entrou com
uma ação direta de inconstitucionalidade, no Supremo Tribunal Federal (STF),
contra a Lei de Direito de Resposta. O argumento é o de sempre: segundo a
entidade, a legislação é inconstitucional por ofender a liberdade de imprensa.
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