Por Altamiro Borges
O escritor baiano Luiz Alberto Moniz Bandeira é um dos
intelectuais mais respeitados no Brasil e no mundo. Já foi agraciado com
dezenas de prêmios por seus livros e trabalhos acadêmicos. Tive a chance de
conhecê-lo em 2006, no auditório da Folha de S.Paulo, quando ele recebeu o
troféu "Juca Pato" de Intelectual do Ano pela publicação do livro
"Formação do Império Americano - Da Guerra contra a Espanha à Guerra no
Iraque". A obra imperdível comprova com inúmeros documentos e análises a
vocação imperialista dos EUA. Em fevereiro deste ano, a União Brasileira de
Escritores (UBE), a convite da Real Academia Sueca, indicou o seu nome para o
Prêmio Nobel de Literatura de 2015.
Formado em direito no Rio Janeiro, doutor em ciências
políticas pela Universidade de São Paulo e professor titular na Universidade de
Brasília, Moniz Bandeira também deu aulas como visitante nas universidades de
Heidelberg, Colônia, Estocolmo e Buenos Aires. Atualmente, ele reside na cidade
alemã de Heidelberg, onde é cônsul honorário do Brasil. Mas, como profundo
conhecedor da história brasileira - seu livro sobre o golpe de 1964 é um
clássico - e das ações agressivas do império, Moniz Bandeira não deixa de
acompanhar atento e apreensivo o que acontece atualmente no Brasil.
Nesta quarta-feira (9), ele concedeu uma entrevista
instigante ao site Sputnik-Brasil, em que afirma, de maneira taxativa, que
"Wall Street está por trás da crise brasileira". Para ele, os EUA têm
grandes interesses no país e "o objetivo das suas ações externas é quebrar
a economia e comprar as empresas estatais a preço de banana". Ele não
vacila em afirmar que está em curso um golpe, "que deve ser contido para
não produzir graves consequências para a História do país". Vale conferir
a entrevista, que evidentemente será desconsiderada pela mídia colonizada, que
mantém um forte complexo de vira-lata diante do império e uma sólida relação
com os golpistas nativos:
*****
O objetivo seria quebrar a economia e comprar as empresas
brasileiras a preço de banana?
Exatamente, isso é verdade. Eles querem quebrar a economia
brasileira – e é aí que eu vejo mais a ação de Wall Street – e comprar as
empresas, como estão fazendo, a preço de nada, com o real desvalorizado a esse
ponto.
Nós podemos acreditar, então, que o Brasil está na mira de
Wall Street?
Está na mira, claro, porque a questão não é só o Brasil, é
internacional, é a luta contra a Rússia e a China, mas eles não podem muito
contra a China. E querem derrubar a Rússia através da Síria e da Ucrânia. São
duas frentes que os Estados Unidos abriram, porque a luta na Síria não é tanto
por democracia, isso é bobagem, os EUA não estão se importando com isso. Eles
querem mudar o regime para tirar a Base Naval de Tartus e também um ponto em Latakia,
ambos da Rússia.
Voltando ao Brasil. O senhor entende que o país voltará a
sofrer assaltos especulativos?
É muito complicada a situação aí. Eu não estou certo de nada
a respeito do Brasil, é muito difícil. Porque é muito difícil também dar um
golpe – um golpe civil como eles querem. As Forças Armadas estão contra o
golpe. Elas são um fator de resistência nacionalista no Brasil, assim como o
Itamaraty.
O senhor disse que há órgãos no exterior financiando a
grande mídia no Brasil. A mídia, ao pregar o golpe, facilita a entrada das
grandes corporações internacionais em prejuízo das empresas brasileiras?
Claro, sobretudo no setor de construção, que tem sido alvo
principal desse inquérito, que, aliás, é inconstitucional, é tudo ilegal. O
objetivo é destruir as grandes empresas brasileiras, as construtoras que são
fatores de expansão mundial do Brasil, e permitir que entrem no mercado
brasileiro as multinacionais americanas.
O senhor entende que as agências de inteligência dos EUA
continuam a espionar a Presidenta Dilma Rousseff e as grandes empresas estatais
do país?
Claro, nunca deixaram de espionar. Espionam no Brasil e em
todos os países. Se você ler meu livro “Formação do Império Americano”,
publicado há dez anos, você verá como eu mostro isso documentado. Já no tempo
de Clinton faziam isso. Não há novidade nenhuma na atuação dos EUA. Eu estudo
essa questão dos EUA há muitos anos. Acompanhei de perto toda a problemática de
Cuba. Estou com 80 anos, desde os meus 20 anos eu assisto a isso que eles fazem
na América Latina.
O senhor fala em golpe em curso no Brasil. Qual a sua
impressão, esse golpe pode ir avante?
Tanto pode como não pode. As possibilidades são muitas.
Ontem mesmo o Supremo Tribunal Federal tomou uma medida constitucionalmente
correta, que foi anular essa comissão constituída na Câmara por meio de
manobras. O que existe é uma luta de ratos e ladrões, um bando, uma gangue,
montada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, contra uma mulher honrada e
honesta como a Presidenta Dilma Rousseff, com todos os erros que ela possa ter
cometido. Não há motivo legal nem constitucional para o impeachment.
A Presidenta Dilma Rousseff conseguirá superar todas essas
dificuldades políticas e concluir o seu mandato em 31 de dezembro de 2018?
É muito difícil avaliar a evolução da situação, porque ela é
ruim internacionalmente. A situação internacional é muito ruim. Eu disse, em
2009, quando recebi o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da
Bahia, que uma potência é muito mais perigosa quando está em decadência do que
quando conquista o seu império, e os EUA são uma potência em decadência. São
muito mais perigosos do que antes.
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