LULA MARQUES: Brasília- DF 21-06-2016 Presidente afastado da
câmara, Eduardo Cunha, durante coletiva no hotel nacional de Brasília. Foto
Lula Marques/Agência
Nunca se viu tamanho abuso.
Nunca antes um réu,
com tantas acusações nas costas, afastado por tempo indeterminado do mandato de
deputado e da presidência da Câmara desrespeitou e peitou tanto o STF quanto
Eduardo Cunha.
O seu showzinho de
ontem foi mais um capítulo dessa novela deprimente que poderia se chamar “Que
réu sou eu”?
Não por
coincidência ele voltou à cena logo depois da derrota no Conselho de Ética do
que se depreende que seu intuito foi mostrar que, apesar de tudo, quem manda na
Câmara dos Deputados ainda é ele.
Foi tão acintoso
que provocou reação indignada de Rubens Bueno, líder do PPS, até anteontem um
de seus fiéis aliados que protestou no plenário pelo fato de seu show-off ter
sido transmitido diretamente pela TV Câmara.
“A TV Câmara
somente cobre atividades do parlamentares e Cunha está afastado das atividades
parlamentares” reclamou ele, aos brados, demonstrando claramente que perdeu a
paciência com o reincidente.
Não é só Bueno que
está “porrr aqui” com Cunha. O PSDB – que é o principal avalista do governo
Temer depois do PMDB – ameaça lançar candidato próprio à cadeira de Cunha, em
parceria com o PT, o que não faria se não avaliasse que o reinado dele está por
um fio, seja por meio de renúncia, de cassação ou de prisão.
Cunha deu, na
verdade, um tiro no pé. Ou seja: reforçou os argumentos de Janot, que pediu a
sua prisão preventiva ou medidas mais severas justamente porque ele descumpre o
que o STF determinou e continua a mandar na Câmara com a mesma desenvoltura e
petulância de sempre.
Em vez de ficar na
moita, quieto em seu canto, como cabe a um réu atolado em problemas no STF, na
Lava Jato e até na Suíça, ele extrapolou, mais uma vez, expondo à execração
pública e ao ridículo duas instituições ao mesmo tempo: a Câmara e o STF.
A sua demonstração
de força poderá ser a gota d’água que faltava para Teori Zavaski finalmente
acatar a ação cautelar de Janot que está há quase um mês sobre a sua mesa, sem
resposta.
Janot oferece, como
alternativa à prisão, medidas que efetivamente mantenham Cunha longe das
decisões da Câmara, tais como a proibição de se comunicar com deputados e
autoridades por qualquer meio, seja telefone, e-mail ou outro qualquer,
obrigação de não sair de casa no horário em que se realizam as sessões e ser
vigiado por meio de tornozeleira eletrônica.
Se Teori não se
indignar como ficou indignado o líder do PPS vai parecer que Cunha manda não só
na Câmara, mas também no Supremo.
E também no
governo, a julgar pela reação amistosa de Temer.
Falando a Roberto
D’Ávila, em sua primeira entrevista exclusiva à televisão, mais de relações
públicas do que de jornalismo propriamente dito, ontem à noite, ao comentar a
fala de Cunha, o presidente interino chamou-o de “batalhador”, uma avaliação
condescendente demais para quem é, para o STF, um réu; um sério candidato a
acertar contas com a Lava Jato e, nas palavras de Janot, “um delinquente”.
Passarinho que come
pedra sabe o estômago que tem
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