Ribamar Fonseca
Jornalista e escritor
A possibilidade de derrubada do impeachment no Senado,
ampliada após os pareceres de técnicos da Câmara Alta e do Ministério Público
Federal – e sobretudo depois da tentativa de golpe militar na Turquia – acendeu
o sinal de alerta dos jornalões que, no último domingo, temendo a volta da
presidenta Dilma Roussef ao Palacio do Planalto, retomaram a defesa do golpe e
a ofensiva contra ela e Lula. Além da suspeita de escandalosa manipulação de
dados na pesquisa do DataFolha, segundo a qual o presidente interino Michel
Temer já estaria conquistando a simpatia popular, a mídia tenta convencer os
leitores desavisados sobre uma suposta mudança no humor da economia, onde
investidores já se mostrariam otimistas quanto ao governo interino. A manchete
do Estadão diz que "Humor no Brasil melhora e investidor volta a apostar
no país", enquanto a Folha completa afirmando que "cresce otimismo
com a economia", numa visível ação coordenada destinada a influenciar
sobretudo os senadores que julgarão a Presidenta.
Ninguém precisa ser muito inteligente para perceber a nova
investida da mídia comprometida com o golpe, que perdeu a credibilidade e o
respeito dentro e fora do país justamente por sua atuação vergonhosa em apoio
ao estupro da Constituição e ao governo dele decorrente. Ao mesmo tempo,
constata-se a retomada da perseguição a Lula, com a publicação de matérias que
visam preparar o terreno para que as ações da Operação Lava-Jato contra o
ex-presidente operário sejam encaradas com alguma naturalidade. Na verdade,
como já foi dito antes nesta coluna, todo esse processo que culminou com o
afastamento da presidenta Dilma Roussef tem como principal objetivo o banimento
de Lula da vida pública, pois com ele livre sempre há o risco de voltar à
Presidência da República através do voto popular. E além das pesquisas, que
sempre o apontam como favorito dos eleitores para voltar ao Planalto, o
ex-torneiro mecânico reacendeu as esperanças do povo com suas viagens pelo
Nordeste, onde tem sido recebido com carinho. E os seus adversários não estão
gostando nada disso.
Com a ofensiva do último final de semana os jornalões não
esconderam a sua preocupação em assegurar a manutenção do governo interino,
pois Temer, além de estar cercado por ministros investigados por corrupção,
pode ser atingido por um torpedo disparado pelo vingativo deputado Eduardo
Cunha que, depois de praticamente definida a cassação do seu mandato em agosto
próximo, vem ameaçando entregar todo mundo que tem contas a ajustar com a
Justiça, sobretudo se chegar a ser preso pelo juiz Sergio Moro. Segundo disse,
ao defender-se na Comissão de Constituição e Justiça, 20% da Câmara (117
deputados) tem processos na Justiça e todos deverão perder os seus mandatos se
forem adotados os mesmos critérios usados para a sua cassação. "Nenhum
desses sobreviverá e todos deverão ser cassados", ele vaticinou. E ele não
parece disposto a cair sozinho, principalmente se sua esposa e filha sofrerem
alguma pena na Lava-Jato.
Por outro lado, a resistência popular que frustrou a
tentativa de golpe na Turquia mexeu com os brios dos brasileiros que,
aparentemente, decidiram sacudir o desanimo e partir para ações mais efetivas
contra o golpe que colocou o vice-presidente Michel Temer no Palácio do
Planalto. E já se ouve argumento do tipo "se os turcos enfrentaram
tanques, helicópteros e metralhadoras para defender o seu governo, eleito
democraticamente, porque não podemos fazer o mesmo?" Nas redes sociais já
se observa uma grande mobilização nesse sentido, com previsão de gigantescas
manifestações inclusive durante as Olimpíadas. Ninguém tem dúvidas de que se o
povo não sair às ruas para impedir que o golpe seja consumado em agosto
próximo, quando o Senado julgará o mérito do impeachment, Temer pode acabar
sendo mantido na Presidência da República e destruindo todas as conquistas
sociais obtidas nos últimos anos. Além disso, pode finalmente realizar o sonho
tucano de entregar a Petrobrás e o pré-sal ao capital estrangeiro. É preciso
lembrar, como disse o presidente turco Erdogan: "Aqui tem um governo
eleito".
O fato é que o golpe enfraqueceu no Brasil,
apesar do esforço da grande imprensa em apoiar o governo interino e usar o seu
poder de comunicação para tentar convencer os incautos sobre supostas
transformações positivas no país. A cada dia que passa crescem as
probabilidades de derrubada do impeachment, com os senadores independentes
revelando-se propensos a votar contra o afastamento da Presidenta. Enquanto
isso, na Câmara já é visível o estrago na base governista causado pela eleição
do deputado Rodrigo Maia para presidi-la. Ao mesmo tempo, também está sendo
esperada a intensificação das manifestações contrárias ao golpe em todo o país,
o que certamente também deverá contribuir para mudar o voto de vários
senadores. O grande fator, no entanto, que deverá pesar na decisão do Senado
será a eleição municipal, pois as suas bases nos diferentes Estados deverão
pressioná-los a votar contra o golpe. As eleições municipais de outubro,
portanto, deverão ter uma grande influência no julgamento do impeachment, pois os
políticos sabem que sua posição em relação ao afastamento de Dilma pode lhes
tirar muitos votos em suas bases eleitorais
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