quarta-feira, 20 de julho de 2016

WhatsApp. Bloquear não é o problema maior, o grande problema é xeretar

Por Fernando Brito · 19/07/2016

Sei que vou na contramão de muita gente bem intencionada.

Não há fundamento legal em violar o sigilo de comunicações em tempo real, como se quer fazer com o WhatsApp.

O paradigma é o da correspondência, a velha carta, que não pode ser aberta por ninguém entre o emitente e o destinatário.

Claro que se for apreendido um telefone com mensagens de cunho criminoso, isto deve servir como prova, como serviriam cartas apreendidas e que contivessem conteúdo criminoso.

Mas o que a gente vem assistindo é a disseminação do grampo, que agora querem também cibernético.


Eu e qualquer um temos o direito à privacidade.

Tenho o direito de falar, em particular o que quiser, com quem eu quiser.

O problema que está acontecendo com o WhatsApp é uma extensão do que se fez com a banalização da escuta telefônica e muitos dos que se indignam com o bloqueio do aplicativo batem palmas para o grampo telefônico indiscriminado.

Que virou uma cultura judicial no Brasil e, pior, uma cultura policial no Brasil.

Ninguém tem a menor ideia de quem e como se controlam os sistemas da Polícia Federal capazes de monitorar, ao mesmo tempo, milhares de telefones. Os sistemas de escutas se multiplicaram, as polícias estaduais têm, o Exército tem e, dizia O Globo, até o Carlinhos Cachoeira tinha um sistema de grampos.

O que se está discutindo e revoltando as pessoas é a suspensão do serviço.

Durou poucas horas e é irrelevante, apesar de errado.

Mas isso é só é um absurdo derivado, não o original.

É sobre o essencial que temos de pensar, e não ficar com essa visão provinciana, porque não é o fato de o WhatsApp ser estrangeiro  o que está gerando polêmica.

É sobre nossa liberdade estar em jogo entre uma Justiça invasiva e corporações fora do alcance de nossas leis.

Temos capacidade tecnológica para fazer uma ferramenta de comunicação semelhante ao WhatsApp , ou até mesmo um Google brasileiro. Como os russos fizeram o Telegram, versão do WhatsApp que usava, desde o início, a criptografia das mensagens.

Estamos diante de uma dupla submissão.

A primeira, a de que a privacidade acabou.

A segunda, de que só as empresas multinacionais podem garanti-la aos brasileiros

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