JOSÉ GUIMARÃES
Advogado, deputado federal (PT-CE), líder da Minoria na
Câmara
O presidente Temer assumiu a Presidência da República sem
receber o voto popular e está executando uma agenda que afeta diretamente os
interesses da ampla maioria da população brasileira. O governo do golpe está
executando a agenda do golpe.
Em 15 de junho de 2016, o governo Temer enviou ao Congresso
Nacional a Proposta de Emenda Constitucional nº 241 (PEC 241) que altera a
Constituição de 1988 para instituir o Novo Regime Fiscal. Sob o pretexto de
reequilibrar as contas públicas, o governo optou por estabelecer uma restrição
ao crescimento do gasto público primário da União pelos próximos 20 anos. Em
cada ano o gasto só poderá ser ampliado para cobrir a inflação do ano anterior,
medida pelo IPCA.
Esta medida implicará redução real dos recursos financeiros
públicos direcionados à saúde, à educação, à assistência social, ao saneamento,
à segurança pública e a outras políticas de amplo interesse das famílias, em
especial as de baixa renda. O próprio governo afirma, na exposição de motivos
da PEC, que "(...) é essencial alterarmos os gastos mínimos de algumas
áreas". Como é sabido por todos, as áreas que possuem regras de gastos
mínimos estabelecidos pela Constituição são a saúde e a educação.
Um exemplo dos efeitos negativos deste corte de gastos
sociais pode ser observado para o setor saúde. Os custos deste setor foram
maiores que o IPCA em nove dos últimos dez anos, como mostram os índices de
correção dos planos de saúde, autorizados pela ANS. Estes custos foram maiores
que o IPCA, em média, mais que 2% ao ano. Portanto, a correção das despesas com
saúde pública pelo IPCA implicará perda real superior a 20% anuais, em dez
anos.
Este fato é agravado por outros dois fatores de ordem
demográfica. Primeiro, a população brasileira está crescendo. Segundo o IBGE, nos
próximos dez anos passaremos dos atuais 206 milhões de habitantes para
aproximadamente 219 milhões de habitantes. Portanto, o Sistema Único de Saúde
precisará ser ampliado para atender uma população que terá mais 13 milhões de
pessoas nos próximos dez anos.
Segundo, a população brasileira está envelhecendo. Nos
próximos dez anos haverá um crescimento expressivo do número de homens e
mulheres com 60 anos ou mais de idade, fato que demanda a ampliação da rede
pública orientada à atenção ao idoso, cujos custos são mais expressivos que a
média dos custos de atenção à saúde.
Portanto, a Nova Política Fiscal do governo Temer cria uma
regra de gasto que desconsidera as mudanças demográficas em cursos no Brasil e
reduz os recursos governamentais destinados à saúde. O resultado será a
precarização do atendimento na rede pública e a perda de bem-estar das famílias
de baixa renda, que não podem pagar planos de saúde privado cujos preços estão
cada dia mais abusivos.
Ademais, para viabilizar este modelo de controle do gasto
público o governo adotará outras medidas muito negativas. Pelo menos duas
delas, estão sendo recomendadas, com frequência, por muitos daqueles técnicos,
empresários e políticos que atuam em defesa dos interesses dos grandes grupos
empresariais e financeiros.
A primeira, já anunciada pelo próprio governo, diz respeito
à reforma da previdência, com imposição de exigência de idade mínima de 65 anos
de idade para a obtenção da aposentadoria. Temer fará isto mesmo sabendo que a
população mais pobre começa a trabalhar muito nova e possui uma baixa
expectativa de vida. Portanto, o governo do golpe exigirá que o trabalhador,
inclusive os de baixa renda, passe mais tempo trabalhando e contribuindo para a
previdência, e menos tempo recebendo os benefícios da aposentadoria.
Segundo, o governo acabará com a vinculação entre o valor
dos benefícios de aposentadoria e o valor do salário mínimo. Com isto, os
reajustes do salário mínimo deixaram de corrigir o valor das aposentadorias
pagas pelo INSS. As aposentadorias passarão a ser corrigidas por um novo
índice, menor que a correção do salário mínimo. Os perdedores serão todos
aqueles homens e mulheres trabalharam ao longo de uma vida para obter um
modesto benefício de aposentadoria para custear as despesas básicas de suas
famílias.
Todos estes fatos evidenciam uma estreita relação entre o
golpe político que conduziu Temer ao governo e o golpe nos direitos sociais. O
impeachment da presidenta eleita pelo voto popular é, em última instância, o
impeachment da agenda social eleita pelo voto popular nas últimas quatro
eleições presidenciais. A agenda Temer é a agenda da desconstrução do estado de
bem-estar social estabelecido pela Constituição Cidadã de 1988.
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