Na opinião de sindicalistas e lideranças do movimento social, os atos desta quarta-feira (15) contra o projeto de reforma da Previdência Social de Michel Temer serão expressivos e podem ganhar a adesão do cidadão comum. Para dirigentes, parcelas da sociedade que não fazem parte de movimentos organizados começam a se preocupar com a aposentadoria – o que deve fortalecer os protestos do dia 15.
Por Railídia Carvalho
Fetag-RS
Ato contra reforma da Previdência em Santa Rosa (RS) reuniu no final de fevereiro milhares de trabalhadores
Os atos são iniciativa conjunta das centrais de trabalhadores e das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Estão programados para acontecer em todas as capitais brasileiras e em diversas outras cidades.
Mobilização expressiva
“Vai ter bastante gente não só em São Paulo mas em todo o Brasil. Toda a mobilização está bem expressiva. Muitas categorias vão fazer paralisação. Da parte do movimento (MTST) existe uma clareza de que é preciso fazer encaminhamento mais amplo, que é a defesa da Previdência Social”, explicou Boulos.
O projeto de reforma da Previdência Social apresentado por Michel Temer tramita em comissão especial da Câmara dos Deputados através da Proposta de Emenda Constitucional 287/2016. Na opinião de sindicalistas, economistas, parlamentares e trabalhadores, a iniciativa de Temer acaba com a possibilidade do brasileiro se aposentar.
O governo Temer defende a adoção da idade mínima de 65 anos para homens, mulheres, trabalhadores rurais e urbanos. Em 19 cidades brasileiras, a expectativa de vida é de 65 anos, ou seja, muitos trabalhadores sequer estarão vivos quando chegar a idade de se aposentar. Os mais penalizados serão os mais pobres que entram mais cedo no mercado de trabalho.
Adesão da população
No caso dos trabalhadores rurais, que trabalham mais de 41 anos para ter acesso à aposentadoria de um salário mínimo, a reforma de Temer é perversa. Carlos Gabiatto, secretário de Assalariados(as) Rurais e de Políticas Sociais na área da Previdência Social da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Paraná (Fetaep), observou que à medida que a população tem contato com o projeto tende a aderir aos protestos.
“Vi com alegria quando estivemos, na semana passada, em Maringá, Curitiba e Cascavel e vi a participação da população no comércio, carros buzinando em apoio à manifestação contra a reforma da Previdência. Estamos ganhando adesão”, disse Gabiatto. Ele lembrou que a expectativa de vida do trabalhador do campo é menor do que a do trabalhador da cidade.
O alegado deficit da Previdência que é o argumento do governo para a reforma é contestado pelas entidades de trabalhadores rurais. Documento da Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (Contag) afirma que a Previdência Rural “produz melhoria na qualidade de vida de várias famílias do campo”. Também fortalece o comércio de mais de 70% dos municípios brasileiros.
Contraponto
Rogério Nunes (foto), secretário de políticas sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), tem boa expectativa em relação aos atos de quarta-feira. “Trabalhadores da educação pública e privada, condutores, metroviários, trabalhadores da água e esgoto devem paralisar unidades da Sabesp, entre outras categorias. Há um forte movimento aqui em São Paulo que tem a expectativa de levar cem mil pessoas para a Paulista”, contou.
Na opinião de Rogério, os movimentos sociais e sindicatos estão conseguindo furar um pouco da propaganda do governo Temer, que faz terrorismo com o fim da Previdência, e dos grandes meios de comunicação que apoiam a reforma.
“Apesar da nossa divulgação ser insuficiente comparada com os grandes meios, estamos fazendo esse contraponto. A população está sendo bombardeada e mesmo assim começa a ficar preocupada. Acho que pode ser um prenúncio de uma futura convocação de uma greve geral”, avaliou Rogério.
Ataque ao Prouni
Para a presidenta da União Nacional dos Estudantes, Carina Vitral, começa a ficar claro para a maioria da população os prejuízos que a reforma trará para a população brasileira em geral e a juventude em particular.
“A juventude será a mais prejudicada com a reforma da Previdência porque o jovem nunca mais vai poder se aposentar a menos que comece a trabalhar aos 16 anos e nunca deixe de ter o emprego com carteira assinada e de contribuir”, enfatizou.
De acordo com ela, a reforma de Temer vai extinguir 600 mil vagas do Prouni (Programa Universidade para Todos). “Uma das coisas que nos une na rejeição à PEC é o tema do fim da filantropia nas universidades como PUC e Mackenzie. Essas instituições trocam seus impostos por bolsas e o relator incluiu o fim da filantropia na reforma da Previdência, ou seja, menos 600 mil bolsas do Prouni no Brasil inteiro, o que pra gente é um tema muito caro”, esclareceu Carina.
Boulos acredita que haverá adesão nos protestos de quarta de parcelas que não fazem parte do movimento social. “Mas não será apenas neste dia, o processo continua na Câmara quanto no Senado. No meu entendimento está numa crescente. A mobilização popular contra a reforma começa a se tornar mais crítica.”
De acordo com Gabiatto, uma estratégia que precisa ser intensificada pelo movimento social é a pressão aos deputados nas bases eleitorais. “É diferente um sindicalista dizer pra um deputado que a reforma é prejudicial do que aquele eleitor que o parlamentar vai procurar o ano que vem pra pedir voto e ouvir que ele não concorda com a reforma. Conversar com o deputado no gabinete é importante mas não é tão forte do que alguém com uma faixa na frente da casa do deputado”, defendeu o dirigente.
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Do Portal Vermelho
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