Por Dedé Rodrigues
Em mais de 20 anos trabalhando em sala de aula e
participando de várias “capacitações” tenho percebido que, mesmo tendo
observado avanços importantes no
trabalho docente, uma parte dos profissionais da educação tem muitas
dificuldades em assimilar o sentido humano e dialético da nossa pratica pedagógica. Parece muito difícil para esses profissionais interpretar o
pensamento de Paulo Freire de que “a gente se faz educador, a gente se forma,
como educador, permanentemente, na prática
e na reflexão sobre a prática”. Terminada as inúmeras “formações continuadas” a gente ainda ouve frases como essas: “os alunos não querem
nada”, aquela turma só tem 05 ou 06 alunos que aprendem, “já fiz de tudo para
aqueles alunos aprenderem, mas não tem
jeito” e, por aí vai.
Como a dialética nos ensina que toda generalização é falsa
e, ainda, que a quantidade gera a qualidade, seria bom a gente refletir sobre
essas frases supostamente verdadeiras para fazer os seguintes questionamentos:
baseado em que eu afirmo que uma turma inteira não quer nada? Baseado em que eu
também afirmo que só cinco ou seis alunos de uma turma aprendem? A
primeira afirmação é falsa por ser uma generalização. A segunda afirmação
precisa de uma pesquisa científica para comprová-la, como não a tenho, dou
margem para questionamentos e, provavelmente essa frase também é falsa. E ainda tem outra questão importante: os
critérios de avaliação que, no geral os docentes usam, são falhos, pois são uniformes para turmas heterogêneas. O aluno pode não ter dado conta daquela “prova” , naquele critério, mas não poderia dar conta dela
se tivesse sido avaliado com outro
critério, com outra prova ou outra forma de avaliar?
O Professor José Manoel Moran, Formado em
filosofia e doutor em comunicação, espanhol naturalizado brasileiro defende
mudança no modelo de ensino e questiona: “Por que, nas mesmas escolas, com a
mesma formação e os mesmos salários, uns professores são bem aceitos, conseguem
atrair os alunos e realizar um bom trabalho profissional e outros, não”? Em
resposta ao próprio questionamento ele afirma que uma das questões que faz a
diferença é a capacidade do professor de relacionar-se com os alunos. O
professor que se relaciona e comunica-se
bem com os alunos consegue motivá-los e
mobilizá-los para aprender.
Seguindo o raciocínio do professor José Manoel a gente também pode
fazer uma contraponto aos pessimistas de plantão. “Professores que se preparam
para a aula prevendo conflitos, cansados da rotina, desconfiados”, passam esses
sentimentos e receios também para os alunos, mesmo dominando bem os conteúdos.
Não basta “fazer de tudo” , depende da
forma, dos métodos, dos critérios de avaliações, da nossa relação com eles, da
nossa afetividade, da nossa confiança neles, pois é essa relação com eles, que pode causar aceitação ou rejeição. Essa relação faz a diferença.
Por fim nos ensina o
Doutor em comunicação, Manoel Moran que
o bom educador não é perfeito, mas tem que ser um otimista, sem ser ingênuo,
pois assim ele consegue “despertar, estimular e incentivar as melhores qualidades
de cada pessoa”. Penso que essa ingenuidade descrita por ele, requer que o
professor tenha conhecimento dialético da realidade profissional e da realidade social que encontra todo dia em sala de aula. O professor também é sujeito da sua
própria história. Isso não é fácil, requer muito estudo, conhecimento geral, sensibilidade,
senso crítico, principalmente em tempos de retrocessos e ataques a nossa democracia, com as ultrarreformas neoliberais implantadas pelo Governo Federal e Congresso Nacional, a contrarreforma educacional e a famigerada “escola sem partido” ou “lei da mordaça,”
que querem nos impor. Em tempos difíceis, como esse, não há outra saída para nós, professores, se não
estudar a nossa prática para mudar a educação, estudar a nossa realidade e participarmos dos movimentos
sociais param salvar a nossa democracia e mudarmos esse país e o mundo. É necessário o professor dar o exemplo e ser o exemplo. O que a gente diz, a gente deve fazer.
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