domingo, 25 de fevereiro de 2018

REFLEXÃO POLÍTICA DO DIA

Derrotado na Previdência, Temer quer impor pacote neoliberal


Na iminência da derrota na votação da PEC 287, da Reforma da Previdência, na Câmara dos Deputados, o presidente golpista Michel Temer decidiu criar um fato novo na conjuntura nacional e decretou intervenção militar no Rio de Janeiro. Esta decisão revelou-se logo uma cortina de fumaça, como a qualificou a nota divulgada pela presidenta do PCdoB, Luciana Santos, e pela pré-candidata presidencial do partido, Manuela D’Ávila. Temer sabe que, com um Estado sob intervenção, não se pode realizar mudanças constitucionais – daí o claro sabor de recuo que há nesta medida, que suspende a tramitação de uma reforma extremamente danosa ao povo brasileiros e oferece ao governo uma saída “honrosa” ante a iminência da derrota parlamentar. 

Importante registrar aqui uma vitória do movimento sindical que realizou grandes mobilizações, inclusive uma histórica greve geral, em defesa da Previdência pública e da aposentadoria dos trabalhadores brasileiros. A ação unitária de todas as centrais sindicais do Brasil foi determinante para que o governo não conseguisse reunir os votos necessário para aprovar sua reforma antipopular, ainda mais num ano eleitoral.

O recuo do governo ficou mais evidente ainda na tentativa do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, de apressadamente desmentir o que é impossível negar. “Não está vinculada a questão da intervenção com a votação. Não houve troca de interesses. Não houve uma fuga do enfrentamento da votação da reforma”, disse Padilha.

Para tentar compensar o sistema financeiro sedento de pôr as garras na montanha de dinheiro da Previdência, o governo anunciou um pacote de medidas neoliberais que aviltam os interesses nacionais e do povo brasileiro. São 15 as demandas da direita neoliberal que compõem o pacotão anunciado por Temer. Lá estão reivindicações conservadoras antigas, que se repetem desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, faz duas décadas.

Duas delas são as jóias da coroa neoliberal – a autonomia do Banco Central e a privatização da Eletrobras.

Autonomia do Banco Central é uma maneira canhestra de admitir a subordinação da instituição que regula a vida financeira nacional aos interesses da especulação e dos banqueiros, aos quais passa a ficar subordinado sob a denominação falaciosa de “autonomia”. Aqui se aplica perfeitamente o ditado popular de que se vai entregar o galinheiro para que as raposas tomem conta.

A privatização da Eletrobras atende também à ganância financeira e destrói, coloca sob o comando do chamado “mercado” (isto é, do grande capital) esta empresa estratégica para o desenvolvimento do país e o atendimento das necessidades da economia e da população.

O pacotão de 15 itens inclui outros, igualmente nocivos para o desenvolvimento nacional. Prevê uma simplificação tributária que passa longe da necessária reforma democrática do sistema de impostos. Fala em mudanças na lei de licitações e contratos públicos; na lei de finanças públicas; ameaça o funcionalismo público ao acenar com uma mal explicada regulamentação do teto remuneratório; fala em reduzir a desoneração da folha de pagamentos, criando novas dificuldades para as empresas brasileiras; favorece os bancos ao acenar com modificações nos depósitos voluntários no Banco Central; vai mexer na administração das empresas estatais; pretende alterar a Lei Geral de Telecomunicações, certamente para beneficias as “teles”; e vai extinguir o Fundo Soberano, criado em 2008, formado pelas reservas externas do Brasil e odiado pela especulação financeira por ser uma garantia para a soberania nacional ante as investidas contra o país feitas por investidores pouco escrupulosos. 

A “esperteza” do governo golpista está no fato de que as mudanças pretendidas não exigem o quorum qualificado requerido para reformas constitucionais, formado por 308 deputados federais. São medidas que podem ser aprovadas na Câmara dos Deputados por maioria simples, deixando o governo em situação mais favorável para atender às demandas dos patronos do golpe de 2016. 

Trata-se de um pacotão de medidas que ameaça os direitos do povo e dos trabalhadores, ante o qual a resistência democrática e popular precisa crescer e ser tão intensa quanto aquela que obrigou o governo golpista a abrir mão da contrarreforma da Previdência. 


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