“Quando você demite um trabalhador na indústria do aço, você tem toda uma cadeia do sistema produtivo, então isso se reflete em várias outras categorias. Existe uma estimativa, que discutimos, de que 300 mil trabalhadores podem sofrer com o desemprego devido a essa medida”, disse Toledo, um dos coordenadores do movimento Brasil Metalúrgico, que reúne entidades sindicais.
O Instituto Aço Brasil (IABr) anunciou que, com as cotas, na comparação com 2017, haverá uma redução de 7,4% nas exportações de aço semiacabado, que representam 81% das vendas para aquele mercado. Já para os produtos acabados, a queda nas vendas deverá ser de 20% a 60%, a depender do produto.
Na última quinta-feira (26), o governo dos Estados Unidos informou ao Brasil que as condições políticas para a manutenção das negociações em torno da taxação do aço tinham mudado e que o governo brasileiro teria que decidir se aceitaria ou não a proposta de imposição de cotas. Caso o Brasil rejeitasse o acordo, seria aplicada sobretaxa de 25% aos produtos do país.
“Na minha opinião, os EUA se aproveitam da fragilidade econômica e política que o Brasil está vivendo. Tanto é, que o governo tinha que ter dado um retorno para os EUA sobre a proposta, e isso não aconteceu. Já foi surpreendido pelo ultimato. O governo não fez um movimento de estadista, de defender os interesses dos trabalhadores brasileiros e tentar encontrar um caminho”, criticou Toledo.
Ele comparou a postura da gestão Michel Temer àquela adotada pela China. “Quando mexeram com a China, ela de imediato sobretaxou uma infinidade de produtos norte-americanos, desde produtos agrícolas até manufaturados. Porque o governo da China tem uma política de defesa de seu Estrado e de sua soberania, ao contrário do que aconteceu aqui. O governo aqui está perdido, não está preocupado em criar um país com autonomia, com capacidade de competir lá fora, com valor agregado”, avaliou.
O Instituto Aço Brasil (IABr) disse que “não teve outra alternativa senão aceitar a imposição” norte-americana. A cota estabelecida é calculada pelo volume médio das exportações feitas de 2015 a 2017 para produtos semiacabados e acabados.
No caso de produtos acabados, há ainda a aplicação de redutor de 30% sobre o volume médio nesse período. Uma vez atingido esse limite, as vendas para os norte-americanos serão vetadas e só poderão ser retomadas no ano seguinte.
“Tal decisão deveu-se, em grande parte, à necessidade do setor manter nível das exportações que evite reduzir ainda mais o nível de utilização da capacidade de produção instalada no Brasil, hoje em 68%, tendo em vista a lenta retomada do mercado interno”, disse o IABr.
Marco Polo Mello Lopes, presidente do instituto, avaliou que “o acordo não foi de todo ruim”, principalmente porque foi apresentado num formato “pegar ou largar”. Segundo ele, com as cotas, serão exportadas aos Estados Unidos 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e 496 mil toneladas de acabado.
Marcelo Toledo destacou que o impacto do protecionismo norte-americano é ainda maior, diante da situação da economia brasileira: “Estamos beirando os 14 milhões de desempregados. Mas, se somarmos a isso os que já desistiram de procurar emprego, mais os que estão entrando no mercado de trabalho e não acham emprego, a gente chega a 25 milhões. Isso mexe diretamente com o processo produtivo. As pessoas não consomem. A indústria nacional vai para um processo de sucateamento absoluto, que se aprofundou com o golpe. As exportações então são um respiro. E, com essa medida protecionista norte-americana, a tendência é piorar a situação da indústria nacional”.
O dirigente da Fitmetal informou que o movimento Brasil Metalúrgico deve agendar manifestações na embaixada dos Estados Unidos, contra as restrições ao aço brasileiro. “O governo norte-americano faz um movimento em defesa da sua economia e de sua produção - a China também faz isso, o Brasil é que não faz. Então essa [a imposição das cotas] é uma atitude coerente com os interesses dos norte-americanos. Mas aqui decidimos organizar manifestações contra essas medidas, porque vão piorar ainda mais a situação da classe trabalhadora brasileira, que já passa por extrema dificuldade”, encerrou.
Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho
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