Maradona sempre
esteve próximo ao abismo, talvez para que a vida se tornasse ainda maior do que
ela é: o caminho entre o vale e o céu
por Adrienne Kátia
Savazoni Morelato
Foto do Google
Publicado 26/11/2020 19:21 | Editado 26/11/2020 20:21
O ídolo é eterno. Por isso, quando
ouvimos a notícia que o corpo humano que o trouxe dos deuses à Terra partiu de
volta para os montes celestes, a primeira reação que temos é de uma profunda
paralisia. Não podemos acreditar que tal acontecimento seja verdade, porque os
ídolos estão próximos dos mitos, das lendas, são imagens que nos movem, nos
inspiram, nos emocionam e nos fazem principalmente crescer. Veneramos nos
ídolos a genialidade que nos aproxima do divino e do Universo e as qualidades
que almejamos em nossa curta existência.
Por tudo isso, sabemos perdoar, de
nossos ídolos, os seus defeitos. Assim é com Diego Armando Maradona. Um ídolo
completo, artista da bola, guerreiro da vida. Saiu da extrema pobreza para dar
voz aos pobres. Os verdadeiros ídolos são assim – não aparecem neste planeta
apenas por eles, fazem seu percurso para que outros possam vir a caminhar com
mais facilidade. Falam pelos seus, pelos outros e principalmente, por aqueles
que não têm voz.
Maradona usou a bola como instrumento
de uma sublime arte, da qual poucos escolhidos neste plano vieram sabendo
fazer. Ele não jogava futebol, ele pintava, esculpia, escrevia poesia com o
futebol. É bem diferente. Aos seus pés, podíamos enxergar a bola como uma
extensão de sua respiração, de seus olhos, de seu coração.
Nada é maior do que um homem que faz,
de sua coragem, o seu espírito; de suas paixões, o seu legado e a sua obra; de
seus fracassos, o ponto para suas maiores virtudes. E Maradona foi assim –
imperfeito, humano, mas grandioso dentro do peito. Viveu tanto o futebol como a
vida como se estivesse em um grande ato cênico, de uma ópera no momento
angustiante do canto final. Sempre esteve próximo ao abismo, talvez para que a
vida se tornasse ainda maior do que ela é: o caminho entre o vale e o céu.
O limite é pegajoso para os gênios.
Tedioso, o limite nos coloca na esfera comum dos desejos comuns e dos sonhos
medíocres. Gênio é exatamente aquele que explora o seu próprio limite e que se
permite ir além dele. Mesmo com todos os defeitos humanos, porque ter defeito é
permitido, é sua parte humana comum a nós, o que nos surpreende é seu exagero
no sonho e no desejo. Maradona sonhou, desejou e viveu vida com tanta
intensidade quanto fez na sua arte. Ele se sacrificou no último suspiro de um
tango.
Por isso, sua morte é a nossa morte,
morremos um pouco com ele. Se os mitos morrem, o que será de nós, pessoas
comuns? Se os corpos das lendas são tão perecíveis quanto os nossos, daqueles
que fazem do seu nome, da sua história e do seu rosto um memorial para
eternidade, o que será das pessoas medianas que vivem a vida de modo tão igual?
Como seria o nosso fim?
A dor é dilacerante, é imensa.
Morremos a nossa própria morte quando um ídolo se vai. E é por isso que é
insuportável. Fonte: Portal Vermelho
0 comentários :
Postar um comentário