sábado, 19 de dezembro de 2020

A TRISTE HISTÓRIA POR TRÁS DE UM VELHO SUCESSO POP DOS WALKERS...HISTÓRIAS DE PRESÍDIOS

 

Nós que fazemos parte do Sistema Penitenciário, podemos nos integrar mais em todos os sentidos e de todas as formas, e a música é uma delas. 


Leandro Leandro
13/06/2017
Capa do compacto original, de 1971 (com a grafia do nome 'Brazos' escrita errado)
Neste Post, como hoje é o Dia Internacional do Rock, a História de uma música que fala sobre os presidiários que trabalhavam nos canaviais as margens do Rio Brazos, chamado também Rio de los Brazos de Dios pelos antigos exploradores espanhóis, é o 11º rio mais longo dos Estados Unidos da América com 2060 km entre a nascente Blackwater Draw, Condado de Curri, Novo México até desaguar no Golfo do México.

No início dos anos 70, uma bandinha saída lá da Holanda se tornou one-hit wonder com um grande sucesso que embalou muitos bailes e serenatas aqui no Brasil - lembre-se que estamos na terra onde o pessoal vai muito pelo ritmo da canção, e não se preocupa muito com sua tradução ou significado do que está sendo dito, resultando em situações grotescas (como uma música com forte crítica social sobre a especulação imobiliária na Inglaterra fazer sucesso como tema romântico em trilha sonora de novela da Globo - aconteceu nos anos 80, com "Build", dos Housemartins, que ficou popularmente famosa como "Melô do Papel").

The Walkers alcançou os topos das paradas radiofônicas com "There's no more corn on the Brazos" (Não há mais milho no Brazos) em 1971, sendo que Brazos é nome de um famoso rio do Texas, EUA, ao redor do qual existem algumas prisões que se tornaram notórias por acolher presos negros.

Ali, eles eram colocados para trabalhar praticamente em .escravo, em extensas plantações de cana, para produzir melaço que era vendido para grandes empresas de produtos alimentícios, repetindo episódios de opressão social típicos ainda da época da escravatura (estamos falando do período compreendido entre as décadas de 1910-1920 nos EUA).

A letra da música, cita, por exemplo, diversos corpos de presidiários encontrados nas estradas próximas do Rio Brazos, bem como o caso de um preso mais resistente que foi vilmente espancado até ficar cego (no trecho: "Captain don't you do me like you've done for Shine... Well you´ve driven that bully till he went stone-blind" - Capitão, não faça comigo o que você fez com o Shine... Bem, você judiou daquele encrenqueiro até ele ficar totalmente cego).

                    

Ainda faz referências ao estupro de mulheres negras às margens do rio, e à desmedida exploração dos recursos naturais, até seu completo esgotamento: o título diz que "não há mais milho no Brazos", pois os homens "moeram tudo em melaço".

A música, seguindo uma linha de melodias de protesto (música folk), muito popular nos anos 60 e 70, era na verdade derivada de uma canção norte-americana tradicional chamada "Ain't no more cane on the Brazos", que continha praticamente os mesmos versos, mas se referia a cana (cane) na letra original, ao invés de milho (corn).

Não se sabe bem porque, mas os Walkers resolveram trocar "cana" por "milho". De qualquer forma, com seu canto lamurioso, introduzido por flautas melancólicas e um ritmo ponteado pelos ruídos de correntes sendo arrastadas, "No more corn..." se tornou o maior (e único) êxito dessa banda esquecida. Confira:

Pois é... ainda é engraçado pensar que, no Brasil, muitos romances foram embalados por uma música que fala sobre violência contra presidiários negros em plantações de milho( Que na letra original era cana).
Fonte: Vídeo Youtube
Texto: Blog De tudo um pouco

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